Algo loco- Raniele & Garro ⚣

IX

Dia quatro
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O jogo foi uma batalha dura. Nos últimos segundos, o Corinthians conseguiu arrancar um empate quase milagroso graças a um gol inesperado de Cacá. Até então, o time estava atrás no placar contra o clube do Paraná, mas aquele chute certeiro devolveu-lhes o fôlego e a esperança. Os jogadores correram até Cacá, abraçando-o e agradecendo, como se aquela jogada tivesse iluminado a noite. E, apesar de ter levado um gol, Donelli brilhou no gol com defesas que foram vitais. Rodrigo controlou o meio de campo com precisão, e Raniele sabia que tanto ele quanto Donelli haviam sido os pilares da equipe naquela noite.

Quando entraram no vestiário, uma onda de alegria tomou conta. Cacá já havia colocado uma playlist animada, e as músicas sertanejas de Luan Santana preenchiam o espaço com aquela leveza que Raniele adorava. Ele se deixava levar pelas canções, sorrindo enquanto alguns companheiros se deixavam embalar pelo som.

— "Tem gente que tem cheiro de rosas de avelã" — Almeida cantarolava, fazendo uma dancinha engraçada que arrancava gargalhadas de todos. — "Tem o perfume doce de toda manhã. Você tem tudo, você tem muito…" — Enquanto continuava a cantar, ele viu Rodrigo saindo do banheiro, o cabelo ainda molhado e os ombros expostos, com uma toalha largada de qualquer jeito sobre o ombro. Ao ver a cena, Rodrigo abriu um sorriso discreto, o tipo de sorriso que deixava Raniele nervoso. Ele desviou o olhar, tentando focar em qualquer coisa que não fosse aquele argentino que fazia seu coração disparar.  — "Muito mais que um dia eu sonhei pra mim, tem a pureza de um anjo querubim…" — Raniele seguia cantando, mas agora sua voz estava mais baixa, os olhos dançando pelo ambiente, fugindo da presença de Rodrigo. Ele sabia que, se encarasse o argentino por mais de um instante, o coração não resistiria. — "Eu troco minha paz por um beijo seu! Eu troco meu destino pra viver no seu, eu troco minha cama pra viver na sua, eu troco mil estrelas pra te dar a lua..." — No último verso, sua voz se uniu à de Cacá e dos outros jogadores, todos cantando juntos, celebrando o empate quase como se fosse uma vitória.

Mas, inevitavelmente, os olhos de Raniele voltaram para Rodrigo. Ele era mais baixo, com um semblante sério que parecia nunca descansar. Mesmo com o rosto marcado pelo cansaço e as manchas vermelhas dos embates em campo, Rodrigo tinha uma beleza simples e cativante. Suas feições eram duras, mas o cabelo molhado, a pele clara e o jeito com que ele carregava as marcas do jogo faziam com que Raniele sentisse um misto de admiração e uma estranha sensação de nervosismo.

— Saudades do Yuri… — murmurou Raniele, tentando afastar os pensamentos enquanto se sentava ao lado de alguns colegas.

— Por quê? Onde ele tá? Pensei que não veio porque não ia jogar… — Igor perguntou, curioso. Raniele piscou, lembrando da suspensão de Yuri. Disfarçando, ele respondeu rapidamente.

— Ah... Ele viajou com a família — disse, num tom casual, mas sentiu o olhar de Rodrigo sobre si, intenso, como se pudesse enxergar além das palavras. Rodrigo revirou os olhos logo em seguida, mas aquele olhar breve foi o suficiente para deixar Raniele inquieto, o coração acelerado como se ainda estivesse correndo em campo.

O brasileiro permaneceu em silêncio por alguns instantes, o olhar teimoso insistindo em retornar a Rodrigo. Ele percebia cada pequeno detalhe com clareza desconcertante: o cabelo do argentino, ainda úmido, a forma como ele relaxava com uma tranquilidade que dominava o vestiário, quase como se fosse indiferente ao mundo ao redor. Mas aquele silêncio entre eles parecia ter vida própria, uma tensão que só os dois reconheciam. Rodrigo, agora, estava sentado ao seu lado, tão próximo que Raniele podia sentir o calor que emanava dele.

Em um esforço desesperado para desviar o pensamento, Raniele virou-se e, quase sem perceber, lançou uma pergunta ao argentino. A pergunta soou como uma fuga, um desvio de um caminho perigoso demais.