Capítulo 12: As marcas do passado

8 0 1
                                    

Os dias que seguiram aquele momento na sacada foram diferentes. Havia uma nova sensibilidade entre Raviel e Toshi. Eles pareciam se entender sem precisar de muitas palavras, como se o medo de perder um ao outro tivesse forjado um elo ainda mais profundo.

Mas as cicatrizes do passado ainda estavam lá, invisíveis, mas sentidas a cada toque, a cada olhar.

Uma tarde, enquanto Toshi fazia uma pausa entre suas lives, Raviel entrou silenciosamente no quarto onde ele estava. Toshi se encontrava sentado à frente de sua mesa, reorganizando algumas anotações para os próximos vídeos. Ao ouvir Raviel se aproximar, ele sorriu suavemente, embora houvesse uma leve preocupação no olhar.

– Como você está hoje? – Toshi perguntou, seu tom cuidadoso, mas não invasivo.

Raviel se sentou na cama, olhando pela janela por alguns instantes antes de responder.

– Melhor. Muito melhor, na verdade. – Ele virou-se para Toshi, seus olhos amarelos refletindo o brilho do sol que entrava pelas cortinas. – Mas eu ainda... ainda penso naquilo às vezes, sabe?

Toshi parou o que estava fazendo e se levantou, caminhando lentamente até Raviel. Ele se ajoelhou na frente dele, segurando suas mãos. Toshi sabia que esse tipo de conversa era necessária, e também sabia que não podia pressionar Raviel. Ele tinha que estar pronto para falar no seu próprio tempo.

– Eu estou aqui para ouvir. Sempre. – Toshi disse suavemente, acariciando o dorso da mão de Raviel com o polegar.

Raviel suspirou, sentindo o peso de tudo o que havia guardado durante anos. Ele sabia que não podia mais fugir disso, não se quisesse ser sincero consigo mesmo e, principalmente, com Toshi.

– Eu acho que nunca te contei... por que me sinto assim às vezes. Por que parece que estou sempre à beira de... perder o controle. – Ele começou, a voz hesitante, como se estivesse revivendo as sombras do passado. – Antes de nós, antes de tudo isso... eu tinha alguém. Uma pessoa que... bem, eu achava que me amava.

Toshi permaneceu em silêncio, apertando levemente as mãos de Raviel, incentivando-o a continuar.

– No início, era bom. Quase perfeito, eu diria. Mas, com o tempo, essa pessoa começou a me fazer sentir que eu não era suficiente. – Raviel pausou, a dor em sua voz clara agora. – Tudo o que eu fazia parecia errado. Tudo o que eu era parecia insuficiente. E eu comecei a acreditar nisso.

Toshi franziu o cenho, sentindo uma onda de raiva silenciosa por quem quer que fosse que havia ferido Raviel de forma tão profunda. Mas ele sabia que seu papel agora era apenas ouvir.

– Eu caí em uma espiral, – Raviel continuou, agora olhando para Toshi diretamente. – Comecei a achar que ninguém nunca poderia realmente me amar de verdade. Que o problema era eu. Que eu nunca seria bom o suficiente para ninguém... Nem mesmo para mim mesmo.

A confissão pesava no ar entre eles, e Toshi sentiu uma dor no peito ao ouvir o quanto Raviel havia sofrido. Ele queria dizer algo, queria garantir a Raviel que isso não era verdade, mas sabia que o que Raviel precisava naquele momento era apenas ser ouvido.

– Quando nos conhecemos, – Raviel disse, com um sorriso fraco, – eu me perguntei como alguém como você poderia querer estar comigo. Achei que, eventualmente, você veria que eu era um fardo e iria embora. E quando você começou a fazer sucesso... aquele medo só cresceu.

Toshi balançou a cabeça, os olhos brilhando com lágrimas que ele estava tentando conter.

– Raviel, nada disso é verdade. – Sua voz era firme, mas cheia de emoção. – Eu te amo. Não por causa do que você faz ou do que você acha que deveria ser. Eu te amo por quem você é. Por cada parte de você, inclusive as que você acha que são fracas ou quebradas. Porque, para mim, você é inteiro.

Raviel olhou para Toshi, o peso das palavras dele enchendo seu coração de uma maneira que ele nunca havia sentido antes. Era como se, pela primeira vez, alguém visse através de todas as suas inseguranças e ainda assim o quisesse exatamente como ele era.

– Eu não quero que esse passado te assombre mais, – Toshi continuou, sua voz suave, mas determinada. – Não importa o que tenha acontecido antes. O que importa agora é o que nós construímos juntos. E eu vou estar aqui, sempre, para te lembrar disso.

Raviel sentiu as lágrimas escorrendo por seu rosto, mas desta vez elas não eram de dor ou desespero. Eram de alívio. De finalmente se permitir ser vulnerável e ser aceito por isso.

Toshi se levantou e puxou Raviel para um abraço apertado, segurando-o contra seu peito. O calor entre eles era reconfortante, e Raviel sentiu, naquele momento, que estava seguro, que tinha encontrado seu lugar.

– Eu te amo, Toshi, – Raviel sussurrou contra seu ombro, com uma sinceridade que fazia seu coração quase explodir.

– E eu sempre vou te amar, Raviel. – Toshi respondeu, apertando-o mais forte. – Não importa o que aconteça, nós vamos superar tudo, juntos.

O silêncio que se seguiu não era mais um fardo. Não era o vazio que Raviel tanto temia. Era um silêncio cheio de compreensão, de amor e de promessas não ditas.

Raviel sabia que ainda haveria dias difíceis, que a jornada para superar suas dores do passado ainda não havia terminado. Mas agora, ele não estava mais sozinho. Tinha Toshi ao seu lado, e isso fazia toda a diferença.

Ali, naquele abraço, Raviel encontrou o que tanto procurava: a paz que só o amor verdadeiro pode trazer.

Chocolate ℙ𝕣𝕖𝕥𝕠 e 𝔹𝕣𝕒𝕟𝕔𝕠(toshi x raviel)Onde histórias criam vida. Descubra agora