𝟎𝟏

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Pov Clark Kent:

A luz suave do amanhecer atravessava as cortinas da sala de estar em Smallville, banhando a pequena mesa de café com tons dourados. Clark Kent ajeitou os óculos no rosto enquanto folheava o jornal local, mas sua mente estava longe dali. Ele escutava, como sempre, os sons distantes da cidade, os risos de crianças correndo, o murmúrio suave do vento nas árvores... E o constante eco de sua responsabilidade. O peso de ser Superman nunca o deixava.

Mas naquela manhã, ele estava focado em algo simples: preparar o café da manhã para sua família. Lois ainda dormia, e os meninos, Jonathan e Jordan, provavelmente estavam em seus quartos, aproveitando alguns minutos a mais de descanso antes de enfrentarem a escola. Era um daqueles raros momentos de paz. Ou pelo menos, assim parecia.

Clark se dirigiu à cozinha e começou a mexer no fogão quando ouviu algo que não esperava — o som grave de um carro estacionando na entrada. Pela janela, viu um homem de terno descer do veículo e caminhar lentamente em direção à porta. Clark franziu a testa. Não esperava ninguém.

Ele se dirigiu à porta antes que o estranho pudesse bater. Ao abrir, encontrou um homem de expressão séria, segurando uma pasta de couro marrom em mãos.

— Bom dia. Você deve ser Clark Kent, correto? — perguntou o homem, estendendo a mão.

— Sim, sou eu — respondeu Clark, apertando a mão do desconhecido. — E você é...?

— Meu nome é Thomas Avery. Sou advogado. Preciso falar com você sobre um assunto muito delicado. Podemos conversar?

Clark ficou em silêncio por um momento. Ele sentiu algo diferente no tom do homem, uma gravidade incomum. Algo não estava certo.

— Claro, entre — disse Clark, gesticulando para que o advogado o seguisse para dentro da casa. Eles caminharam até a sala, onde Clark o convidou a se sentar. — Sobre o que é isso, exatamente?

Thomas Avery colocou a pasta sobre a mesa de centro e a abriu, puxando alguns papéis cuidadosamente. Ele os empilhou em silêncio antes de olhar diretamente para Clark, com uma expressão que o fez se preparar para o pior.

— Sinto muito por ser o portador de más notícias, senhor Kent — começou o advogado, a voz carregada de formalidade. — Mas receio que seja meu dever informá-lo sobre um acidente trágico que ocorreu há três dias. Uma mulher chamada Helen Harper faleceu em um acidente de carro.

O nome atingiu Clark como uma onda de choque. Ele não conhecia ninguém com esse nome... Ou pelo menos, achava que não. O coração dele começou a bater mais rápido. Por que esse advogado estava lhe contando isso?

— Helen Harper? — perguntou, confuso. — Eu... Não me lembro de conhecê-la. O que isso tem a ver comigo?

O advogado tomou um fôlego profundo antes de continuar, escolhendo suas palavras com cuidado.

— Helen Harper foi sua... Antiga conhecida. Mais especificamente, alguém com quem você teve um relacionamento anos atrás, quando ainda trabalhava no Planeta Diário, em Metrópolis. O senhor Kent, essa parte pode ser um choque para você... Mas ela tinha um filho. E, segundo as informações que foram verificadas, esse filho... É seu.

Clark sentiu como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés. Ele olhou para o advogado em descrença, tentando processar o que acabara de ouvir.

— Meu... filho? — repetiu, a voz falhando levemente. — Isso não pode estar certo. Eu... Eu nunca soube de nada.

O advogado assentiu, compreendendo a confusão de Clark.

— Sei que isso é difícil de ouvir, mas todas as informações foram cuidadosamente verificadas. Helen Harper nunca registrou você como pai, e o garoto, Vance Harper, viveu toda a vida acreditando que o pai dele estava ausente ou morto. Mas, senhor Kent, com a morte dela, você é o único parente vivo. Legalmente, você é o responsável por ele agora.

Clark ficou em silêncio por um longo tempo. Pensamentos confusos corriam por sua mente. Um filho? Ele tinha um filho, um garoto que ele nunca soube que existia? A sala ao seu redor parecia distante, irreal. A responsabilidade e o peso que ele sempre carregava como Superman agora parecia minúsculo comparado a isso. Ser um pai... Mais uma vez.

— Onde ele está agora? — conseguiu perguntar, quase num sussurro.

— Ele está em um abrigo temporário em Metrópolis, aguardando a decisão do tribunal. Ele tem 16 anos, senhor Kent. E... Pelo que me foi informado, é um garoto complicado. Perdeu a mãe de forma repentina e já vinha enfrentando muitos problemas antes disso.

O advogado fez uma pausa e, ao ver a tensão crescente no rosto de Clark, sentiu que precisava preparar o terreno para uma informação ainda mais difícil.

— Senhor Kent — começou Thomas, com a voz mais grave —, há algo que você precisa saber sobre o passado de Vance. Ele... Sofreu muito. Quando tinha apenas 13 anos, ele foi vítima de um crime terrível, um 217 do código penal.

Clark sentiu o coração apertar ao ouvir aquilo. Ele sabia o que significava um 217: estupro. O peso dessa revelação parecia aumentar ainda mais sua sensação de urgência. Como pai, como Superman... Ele sabia o que isso representava. A dor, a angústia, o trauma.

— Vance foi vítima de violência sexual — disse o advogado, com cuidado. — Desde então, ele vem enfrentando muitos problemas emocionais e comportamentais. Isso explica por que ele se envolveu em tantas brigas, e... Por que a situação dele é tão delicada.

Clark respirou fundo, tentando processar tudo. O garoto que ele nunca conheceu já havia passado por mais sofrimento do que muitos adultos poderiam suportar. Ele se lembrou do que Lois sempre dizia sobre resiliência e força. Esse garoto... Seu filho... Precisaria de mais do que apenas proteção. Ele precisaria de alguém que o ajudasse a se curar.

— Vou buscá-lo — disse Clark finalmente, com uma determinação renovada em seus olhos. — Ele é meu filho. E eu vou trazê-lo para casa.

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