Pov Vance Harper:
Vance estava de volta àquela noite. A noite em que tudo mudou.
O ambiente ao redor era escuro, quase sufocante. Ele sentia o ar denso, os sons abafados, como se estivesse preso embaixo d'água. Os passos ecoavam pelas ruas desertas, o único som que quebrava o silêncio mortal. Ele estava sozinho, correndo. Tentando escapar.
Mas não havia para onde correr.
Ele sabia o que estava por vir. Mesmo que tentasse gritar, sua voz não saía. Suas pernas se moviam com dificuldade, como se estivessem afundando em areia movediça. E então, ele apareceu.
A silhueta do homem. Aquele homem.
Vance queria se afastar, queria correr para longe, mas seus pés estavam presos. A dor. O medo. Tudo voltou de uma só vez, uma onda esmagadora de pavor que o consumiu.
— Mamãe! — O grito saiu, mas era baixo, abafado, como se estivesse falando de dentro de um túnel sem fim.
Ele podia vê-la ao longe, sua mãe, Helen, com o sorriso doce e os cabelos loiros cacheados balançando com o vento. Ela estendeu a mão para ele, chamando-o, mas toda vez que ele tentava se aproximar, ela se afastava mais e mais. O homem ria. Aquela risada que o fazia tremer até os ossos.
— Você é meu agora — a voz do homem reverberou no ar, cruel e implacável.
E então, o toque. Aquele toque que ele nunca conseguiu apagar. Vance se encolheu, tentando se afastar, mas estava preso, preso no pesadelo, preso em sua própria mente.
— Mamãe! — Ele gritou novamente, dessa vez com desespero. — Mamãe, por favor!
Mas Helen desapareceu na escuridão, deixando-o sozinho com o homem, com o monstro. E a dor voltou, real, intensa, sufocante.
Vance acordou com um sobressalto, o coração disparado, o corpo tremendo. Sua respiração vinha em curtos e ofegantes suspiros enquanto ele olhava ao redor, tentando se orientar. As paredes do quarto em Smallville começaram a aparecer, mas ele ainda podia sentir a sombra daquele homem pairando sobre ele. A lembrança vívida do pesadelo continuava a assombrá-lo.
— Não... não... — Ele murmurou, abraçando os joelhos, tentando se reconfortar, mas seu corpo inteiro tremia.
A porta se abriu devagar, e Clark entrou silenciosamente no quarto. Ele ouviu os sussurros baixos vindos do corredor e sabia que Lois, Jordan e Jonathan estavam ali, observando. Clark olhou brevemente para eles antes de se aproximar de Vance, mantendo a voz suave e calma.
— Vance... — Clark chamou, ajoelhando-se ao lado da cama. — Foi só um pesadelo, filho. Você está seguro agora. Estou aqui.
Vance estava em outro lugar. Ele mal ouvia as palavras de Clark, seus olhos ainda cheios de terror. As mãos tremiam, e ele sentia como se a qualquer momento o homem do pesadelo fosse aparecer e levá-lo de volta àquele inferno.
— Não... ele... ele vai me pegar — Vance murmurava, ainda envolto no terror do sonho. — Ele sempre me encontra...
Clark, percebendo o estado de pânico de Vance, sentou-se ao lado dele, cuidadosamente, e colocou uma mão firme, mas gentil, em seu ombro. Ele sabia que o pesadelo ia muito além de um simples sonho ruim. Havia uma escuridão real, uma dor profunda, e Clark sentiu o peso disso.
— Ninguém vai te pegar, Vance — disse Clark, sua voz mais firme dessa vez. — Você está comigo agora. E eu vou proteger você, sempre.
Vance piscou algumas vezes, os olhos azuis focando finalmente em Clark. Havia um brilho de incerteza, mas também uma fagulha de algo mais — talvez esperança, talvez apenas cansaço.
— Mas... ele sempre volta — Vance sussurrou, quase como se estivesse pedindo ajuda, algo que ele raramente fazia. — Sempre... eu... eu vejo ele o tempo todo.
Clark respirou fundo, o coração pesado ao ouvir isso. Ele sabia o que era viver com fantasmas do passado, e ver seu filho passando por aquilo o partia por dentro. Com delicadeza, ele passou o braço ao redor de Vance, puxando-o para um abraço.
— Eu sei que é difícil — Clark murmurou, segurando Vance firmemente, enquanto ele relaxava um pouco no abraço. — Mas você não está sozinho nisso. Eu estou aqui. Lois está aqui. Seus irmãos estão aqui. Nós vamos te ajudar a passar por isso.
Do lado de fora da porta, Lois observava a cena com os gêmeos, o coração apertado. Jonathan e Jordan estavam parados em silêncio, percebendo pela primeira vez a profundidade da dor de Vance. Jonathan trocou um olhar com Jordan, e ambos se sentiram incapazes de fazer algo naquele momento, mas sabiam que precisariam ser pacientes.
Lois, com a mão sobre a boca, lutava para conter as lágrimas. Ela sabia que Vance estava sofrendo, mas ver aquilo de tão perto, ver Clark tentando desesperadamente confortá-lo, tornava tudo ainda mais doloroso.
— Ele vai ficar bem? — Jonathan sussurrou para a mãe, a preocupação evidente em sua voz.
Lois assentiu, embora também não tivesse certeza de como responder.
— Vai levar tempo... — Ela disse baixinho. — Mas ele vai ficar bem. Ele só... precisa de tempo.
Dentro do quarto, Vance finalmente começou a relaxar nos braços de Clark, a respiração ficando mais estável. Ele não sabia como processar tudo aquilo, ainda sentia o peso do pesadelo, mas, pela primeira vez em muito tempo, ele não estava sozinho quando acordou. E isso, de algum jeito, tornava o medo um pouco mais suportável.
Clark continuou abraçando Vance até sentir que o garoto estava mais calmo. Ele sabia que aquela batalha contra os pesadelos e os traumas seria longa, mas, a cada dia, ele estaria lá, enfrentando ao lado do filho. Quando finalmente se afastou, Clark olhou nos olhos de Vance, seu tom firme, mas carinhoso.
— Sempre que precisar, estarei aqui, entendeu? Não importa a hora.
Vance não respondeu de imediato, mas deu um pequeno aceno de cabeça, o olhar mais suave agora. Talvez ainda estivesse longe de se sentir completamente seguro, mas ali, nos braços de Clark, ele sentiu que, de alguma forma, poderia começar a lutar contra os monstros.
Clark se levantou, ajeitando a coberta de Vance, e olhou para a porta, onde Lois, Jonathan e Jordan continuavam em silêncio. Ele deu um pequeno aceno de cabeça, indicando que tudo estava bem. Lois sorriu, mesmo que de forma contida, e os gêmeos respiraram aliviados.
Com a porta entreaberta e a casa mergulhada em silêncio novamente, Vance fechou os olhos, tentando deixar o pesadelo para trás. Ainda haveria noites difíceis, isso ele sabia, mas agora havia algo diferente. Havia Clark. Havia Lois. Havia... uma família.
E talvez, só talvez, isso fosse o suficiente para afastar a escuridão. Mesmo que apenas por essa noite.
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𝚁𝙴𝙱𝙾𝚁𝙽
FanfictionVance Harper sempre foi um garoto problemático. Com uma personalidade explosiva e um passado marcado por lutas e cicatrizes, ele passava seus dias desenhando e tentando superar o trauma de um terrível crime que sofreu anos atrás. Mas sua vida vira d...