Primeira Vez - Rebiles

nove

Os olhares cúmplices durante o jantar a fazia sorrir discretamente. Era uma sensação gostosa saber que algo aconteceu e que suas amigas não faziam ideia, deixando o reconhecimento e a cumplicidade somente entre si e a brasileira.

Lutava para não parecer uma boba sempre que flagrava Rebeca a encarando com um leve sorriso, e se admirava quando a brasileira não parecia constrangida ao ser pega. Pelo contrário, Andrade sorria ainda mais e piscava, mas disfarçava quando Jordan ou Sunisa a encarava.

- E aí? - Jordan a cutucou com um leve sorriso, observando Sunisa e Rebeca se distanciando para ir atrás de taças e saca-rolha.

- O que? - diz, rindo e tentando se esquivar dos toques da amiga.

- Você parece bem... rolou alguma coisa?

- Jordan! Eu sou casada... - o pesar que essas palavras deixaram seus lábios não passou despercebido por Chiles.

- Você é noiva, humana e pode cometer erros. - abriu um sorriso ladino. - E, inclusive se atrair por outra pessoa, sentir vontades com essa outra pessoa... - piscou sugestiva.

- M--mas? Mas eu não sinto....

- Não tente negar, Sis. - Jordan aproximou-se mais para falar em seu ouvido: - Se quiser negar, ao menos se esforce um pouco mais para disfarçar seu encanto pela brasileira.

Simone se afastou como se tivesse levado um choque, a expressão assustada fez Jordan gargalhar, o que chamou a atenção das outras duas que se aproximavam.

- Qual a piada? - Rebeca pergunta já sorrindo, entregando uma taça para Simone e, diferente de antes, tomando um lugar ao seu lado.

Com a brasileira ao seu lado, tão perto a ponto de sentir seu corpo quente e se esbarrarem com qualquer movimento mais longo, fez seu coração palpitar - e Simone pensou seriamente se seria possível ela infartar ali e se lamentou caso acontecesse.

- Eu estou tão ansiosa, feliz e nervosa para ver minha gata. - Sunisa falou em um manhoso, deitando-se dramaticamente no chão. - Sabe o que é manter um relacionamento assim?

- Eu ainda acho isso muito louco! - Rebeca expôs, seu tom empolgado fez as americanas rirem. - É louco porque vocês nunca se viram, se conheceram pela internet e engataram neste relacionamento.

- Você não estaria disposta a isso? - Simone pergunta, apoiando o cotovelo no encosto do pequeno sofá onde estavam e o queixo sobre a destra, a atenção agora presa em Rebeca. - Um Relacionamento à distância?

Rebeca a encarou, sorvendo um pouco do vinho em sua taça, atenta a cada pequena detalhe do rosto de Biles. Sorriu, por fim, parecendo estar com os pensamentos um pouco longe.

- Eu estaria sim, contanto que fosse algo realmente verdadeiro, sincero, recíproco. Nunca me apaixonei, Monie, mas estaria disposta a tudo pela pessoa que tivesse o meu amor. - a maneira doce que Rebeca falou fez novamente seu coração palpitar e desviar o olhar, ficando um tanto acanhada com a intensidade depositada nas palavras.

- Você nunca se apaixonou? - Jordan quebrou o breve silêncio, seu tom suave, muito diferente do costumeiro que era sempre brincalhão, jocoso.

Ainda demorou um pouco para que Rebeca desviasse os olhos de Simone, mas ela o fez com certa relutância.

- Não, Jord, - respondeu, dando um gole maior no vinho. - E, sinceramente, não pretendo deixar acontecer. As pessoas que já vi apaixonada nunca se deram muito bem.

- Mas você não pode controlar isso, sabe, não se manda no coração. - Sunisa comentou, sábia e oscilou a atenção entre Simone e a brasileira.

- É, eu não posso... - inconscientemente, seus olhos foram até a americana ao responder. - Mas se eu puder evitar...

- Você não pode se basear em frustrações alheias, - Simone se viu comentando sem que pudesse controlar. - É gostoso se apaixonar, é indescritível estar apaixonada e sentir o mesmo.

Rebeca a encarou intensamente, algo formigando dentro de si.

- Então é isso que você sente? - Simone se calou diante da pergunta e, as outras duas que observavam, prenderam a respiração.

Sorrindo sem graça, Simone respondeu: - Como eu disse: não pode se basear em frustrações alheias. - e sorveu o restante do líquido vermelho em sua taça.

O silêncio prevaleceu por uns instantes até Simone levantar dizendo que pegaria outro vinho. Deixou as amigas e Rebeca para trás, sentindo seu coração ainda palpitando forte, as malditas borboletas ginastas estavam agitadas em seu estômago - com certeza faziam um solo ou vários saltos.

Pegou a segunda garrafa de vinho do frigobar e encostou-se na parede mais próxima, respirando profundamente. Apesar do quarto ser amplo, as três mulheres que faziam-lhe companhia poderia vê-la facilmente, mas não se importou: somente se afastar no momento ajudaria.

- Ei, - a voz de Rebeca atraiu sua atenção.

Biles a encarou em silêncio, esperando o quê a brasileira falaria.

- Eu-- desculpe por aquilo. - apontou com o polegar para onde estavam conversando, demonstrando seu constrangimento. - Eu não tenho direito de questiona-la daquela maneira, é sua vida e--

A americana estava se divertindo com as bochechas de Rebeca ficando rosadas, mas não sorriu nem a interrompeu.

- Desculpe. - soltou um suspiro. - Eu só me empolguei um pouco no assunto e quis saber mais sobre você.

Respirando fundo, Simone desencostou da parede segurando a garrafa gelada do vinho e se aproximou de Rebeca. Não muito, mas o suficiente para que seus corações acelerassem e a respiração pouco ofegante de ambas entrassem em sincronia. A americana reparou quando os lábios cheios da brasileira se entreabriram levemente.

- Está tudo bem. - disse, baixo demais para seus próprios ouvidos (talvez por isso Rebeca tenha olhado tão fixamente para sua boca).

Simone não saberia exatamente o motivo de ter retribuído, mas seu olhar se prendeu na boca convidativa da brasileira e, repentinamente, sentiu sua garganta secar. Engolindo seco, umedeceu os lábios e mordeu levemente o inferior no processo. Por um momento, desejou que Rebeca não tivesse notado sua fraqueza, mas ao voltar o olhar para o par cor de mel de Andrade, viu confusão e, certamente enxergou a malícia. O desejo.

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Comentem e até a próxima! 🫶🏾