21 | filha do técnico

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A vitória na Copa América trouxe uma explosão de alegria que parecia flutuar pelo ar, preenchendo cada canto daquela festa com a vibração de uma conquista aguardada por anos

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A vitória na Copa América trouxe uma explosão de alegria que parecia flutuar pelo ar, preenchendo cada canto daquela festa com a vibração de uma conquista aguardada por anos. Todos estavam imersos em uma euforia incontrolável, e eu não era exceção. Sentia um orgulho imenso ao ver meu pai, Lionel Scaloni, erguer a taça como símbolo do esforço e do sacrifício de uma vida inteira dedicada ao futebol. Havia algo mágico naquele momento, algo que parecia colocar cada peça do quebra-cabeça em seu devido lugar.

Ao meu lado, Enzo Fernandez era pura felicidade. Ele irradiava uma alegria genuína, o tipo de satisfação que só se vê em alguém que viveu e respirou aquele sonho desde a infância. Ele me puxava para mais perto, seus olhos brilhando enquanto tentava me envolver no entusiasmo que parecia transbordar dele. Para qualquer outra pessoa, aquilo poderia ser o suficiente para ser completamente feliz. E eu me perguntei, por um breve momento, se não poderia encontrar tudo o que eu precisava naquele abraço, naquela felicidade que ele me oferecia de coração aberto.

Mas havia algo dentro de mim que não se deixava levar completamente. Como uma sombra que pairava ao meu redor, uma inquietação que não me deixava esquecer o olhar de Alejandro Garnacho, que, a uma certa distância, me observava com uma intensidade que eu não conseguia ignorar. Alejandro sempre teve esse ar misterioso e provocador, uma presença quase magnética que me perturbava e atraía de uma maneira que eu lutava para entender e, mais ainda, para controlar. Cada vez que nossos olhares se cruzavam, sentia uma corrente elétrica percorrer meu corpo, como se algo proibido e perigoso estivesse se insinuando ali, no limite do aceitável.

Enquanto Enzo seguia falando animadamente com outros jogadores, sorri, tentando me concentrar em tudo que tinha para ser grata, mas os pensamentos sobre Alejandro se infiltravam em minha mente, como um segredo que eu mantinha até de mim mesma. Era uma batalha interna que eu já havia travado tantas vezes, tentando me convencer de que nada disso era real, de que minha ligação com Enzo era o suficiente. Mas, ao mesmo tempo, sentia que havia uma parte de mim que ansiava por algo mais, algo que só Alejandro parecia despertar.

Foi com esses pensamentos que decidi dar uma escapada da festa. Sentia que precisava de um momento de silêncio, de ar fresco, algo que clareasse minha mente e me ajudasse a afastar a tentação que me assombrava. Caminhei até o terraço, deixando para trás o barulho ensurdecedor das comemorações. Lá fora, a noite de Buenos Aires era silenciosa e fria, uma brisa suave acariciando meu rosto enquanto as luzes da cidade cintilavam como pequenas estrelas sob o céu noturno. Era quase terapêutico, como se aquele momento de paz pudesse, enfim, acalmar meu coração inquieto.

Mas a paz não durou. Senti um calafrio percorrer minha espinha ao ouvir passos atrás de mim, e, antes mesmo de me virar, soube quem era. Alejandro se aproximou com seu jeito despreocupado, como se nossa proximidade fosse algo casual, e se apoiou na mureta ao meu lado. Seu perfume, misturado ao cheiro de noite e celebração, era algo que me entorpecia, e senti meu coração bater descompassado.

— Fugindo da festa? — ele perguntou, sua voz grave e rouca, como se houvesse algo mais por trás de suas palavras, uma pergunta implícita que só nós dois compreendíamos.

Por um instante, não consegui responder. Ele estava tão perto que era impossível ignorar o efeito que causava em mim, o conflito interno que despertava. Sentia uma mistura de medo e excitação, como se cada célula do meu corpo estivesse dividida entre o que eu sabia ser certo e o que eu, irracionalmente, desejava.

— Só precisava de um momento para pensar — murmurei finalmente, sentindo minha voz tremer. Olhei para ele, e o olhar que ele me devolveu era quase uma provocação, um desafio.

— É engraçado... eu também — ele disse, seus lábios se curvando em um sorriso que me deixou ainda mais confusa. — Às vezes, acho que certas coisas acontecem por acaso... ou talvez não.

Havia algo naquele olhar, algo perigoso e envolvente, que parecia me chamar para mais perto. O ar ao nosso redor se tornou denso, pesado, e me perguntei se ele poderia ouvir a batida frenética do meu coração. O que eu deveria fazer? A resposta parecia simples, mas ao mesmo tempo, era a mais complexa de todas. Alejandro era tentador, um mistério que eu queria desvendar, mas que me apavorava. E ao mesmo tempo, eu sabia que estava em um relacionamento, que Enzo confiava em mim, que meu pai acreditava em mim. Mas, ali, naquele momento, o olhar de Alejandro tinha um poder inegável sobre mim, como uma força que eu não conseguia resistir.

— Alejandro, isso é loucura — sussurrei, quase como se dissesse isso a mim mesma, tentando me convencer a não ceder ao que sentia.

— Talvez seja... — ele respondeu, inclinando-se um pouco mais perto, seu rosto a poucos centímetros do meu. Seus olhos me encaravam de uma maneira que fazia meu corpo todo tremer. — Mas você sente isso, não sente?

O silêncio entre nós era tão profundo que eu poderia jurar que o tempo havia parado. Olhei para ele, sem conseguir responder, mas sabia que a resposta estava evidente em cada fibra do meu ser. Cada segundo ao lado dele era uma luta entre razão e desejo, entre o que eu sabia que devia fazer e o que, secretamente, queria. Eu precisava de clareza, de um momento de honestidade comigo mesma, e sabia que, para isso, precisava encarar meus sentimentos de frente. A decisão que tomei naquele instante foi tão clara quanto dolorosa. A única coisa certa era que eu precisava ser justa com Enzo. Ele não merecia essa incerteza, essa dualidade que existia dentro de mim. E eu não podia continuar em um relacionamento onde, mesmo inconscientemente, meus pensamentos eram tomados por outra pessoa.

Com o coração pesado, olhei uma última vez para Alejandro, sem dizer nada, e me afastei. Voltei ao salão, onde a festa continuava. Encontrei Enzo em meio aos amigos, e a expressão de felicidade em seu rosto foi como um soco no estômago. Ele era bom, sincero e verdadeiro, e eu sabia que ele não merecia o que eu estava prestes a fazer, mas era o certo. Tomei coragem, segurando sua mão e pedindo para conversar.

Ele me seguiu, confuso, mas atento. E ali, no canto do salão, com o barulho da festa ao fundo, contei a ele a verdade. Cada palavra saiu carregada de emoção e arrependimento, minha voz tremendo enquanto tentava explicar o que se passava dentro de mim.

— Enzo, você é incrível. E eu queria que as coisas fossem diferentes, queria não sentir o que estou sentindo, mas não posso mais mentir... não posso mais fingir que está tudo bem, quando sei que meus sentimentos mudaram.

Ele me olhou em silêncio, absorvendo minhas palavras. Vi a dor em seus olhos e isso quase me destruiu, mas sabia que não podia recuar. Ele merecia a verdade, por mais que ela fosse cruel.

— É por causa do Alejandro, não é? — ele perguntou, sua voz cheia de tristeza.

Assenti, sentindo as lágrimas queimarem meus olhos. Queria dizer algo que aliviasse a dor que ele sentia, mas não havia palavras para isso. Apenas permaneci ali, compartilhando aquele silêncio pesado, permitindo que ele absorvesse tudo.

Depois de alguns momentos, ele suspirou, e me deu um último olhar, um olhar de compreensão e mágoa, antes de se afastar. Fiquei ali, sozinha, sentindo o peso de minha decisão. Sabia que havia feito o que era certo, mas a culpa e o vazio eram imensos.

Ao voltar ao terraço, Alejandro ainda estava lá, como se soubesse que eu voltaria. Ele não disse nada, apenas olhou para mim, e naquele olhar havia uma compreensão mútua, um entendimento silencioso. Ele estendeu a mão, e eu a segurei, sentindo que, de alguma forma, aquela noite havia marcado o início de algo novo, algo que eu ainda não sabia onde iria nos levar.

𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒, Alejandro Garnacho ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora