22 | eu quero você

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A noite já havia se estabelecido

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A noite já havia se estabelecido. A lua, pendurada no céu como um farol solitário, lançava uma luz prateada que brilhava na neve recém-caída, fazendo o mundo parecer um cenário de sonhos. O vento frio passava por mim, mas eu quase não sentia. Tudo o que eu conseguia pensar era nela.

Estávamos sentados lado a lado no banco da pequena praça. O silêncio entre nós não era incômodo, pelo contrário, havia algo de reconfortante nele. Eu estava ciente de cada movimento dela, desde o jeito como puxava o cachecol para se aquecer até a maneira como seus olhos se fixavam em algum ponto distante no horizonte.

- Está frio, não é? - ela comentou, sorrindo de leve, e eu apenas assenti, sem saber ao certo como responder sem soar ridículo.

Eu sempre fui péssimo com palavras quando se tratava dela. Algo sobre a presença de S/N me deixava nervoso, de um jeito que eu não sabia lidar. Não era o medo comum que eu enfrentava nas missões ou em batalhas. Era algo muito mais profundo. Uma vulnerabilidade que eu nunca havia sentido antes. Me sentia como se, a qualquer momento, eu pudesse me expor de uma forma que não estava preparado.

Olhei para as estrelas, tentando encontrar nelas algo que acalmasse o turbilhão dentro de mim. Estava cansado de fugir de meus próprios sentimentos, mas admiti-los parecia uma montanha impossível de escalar. No entanto, ao mesmo tempo, havia uma sensação inconfundível de que, se eu não fizesse isso agora, talvez nunca encontrasse a coragem.

- Você está bem, Alejandro? - sua voz suave cortou o silêncio de novo, me puxando para a realidade. Era assim com ela. Bastava falar meu nome, e eu me sentia ancorado em algum lugar mais seguro.

Eu hesitei. Como eu poderia explicar algo que nem eu mesmo entendia completamente? - Sim, estou - respondi, minha voz mais firme do que eu me sentia. - Só... pensando.

Ela me olhou de lado, como se estivesse tentando decifrar o que realmente se passava dentro de mim. Isso me fez sentir exposto, mas ao mesmo tempo... seguro. Ela sempre teve esse efeito sobre mim, fazendo com que as muralhas que eu construí ao longo dos anos parecessem desnecessárias.

- Em quê? - ela perguntou, inclinando a cabeça curiosa.

Eu me forcei a olhar para ela. O brilho da lua refletia em seus olhos, fazendo-os parecer ainda mais intensos. Meu coração acelerou, mas desta vez, eu decidi que não iria desviar. Eu precisava dizer a verdade, mesmo que isso significasse me colocar em risco de um jeito que eu nunca havia feito antes.

- Em você - confessei, minha voz baixa, quase como um sussurro.

Ela piscou, surpresa, mas não disse nada. Apenas me olhou, esperando que eu continuasse. A paciência dela, sua disposição de ouvir, sempre me impressionou.

- Desde que você apareceu na minha vida, eu sinto que... as coisas mudaram. Eu mudei. - Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos. - Você me fez perceber que eu não preciso ser forte o tempo todo. Que é permitido ser vulnerável de vez em quando. E isso... isso é assustador.

Ela sorriu, um sorriso suave que aquecia o frio ao nosso redor. Havia algo no brilho de seus olhos que me confortava, como se ela entendesse o que eu estava tentando dizer, mesmo que minhas palavras fossem falhas.

- Eu nunca quis te assustar, Alejandro. - Sua voz era um murmúrio delicado, como se estivesse com medo de quebrar o momento. - Só quero que você saiba que... eu estou aqui, para o que você precisar. Não precisa carregar tudo sozinho.

Essas palavras, simples, mas carregadas de significado, fizeram algo dentro de mim se soltar. Como se, de repente, a armadura que eu sempre usava começasse a rachar. Eu sempre me orgulhei de ser capaz de lidar com qualquer situação, de ser aquele que os outros poderiam confiar. Mas ela... ela me mostrava que eu não precisava ser invulnerável. Que às vezes, ser humano era suficiente.

Me inclinei um pouco para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos, tentando encontrar a forma certa de continuar aquela conversa. O ar ao nosso redor estava quieto, e o único som era o do vento suave passando pelas árvores nuas. A praça estava vazia, mas naquele momento, parecia que todo o universo estava concentrado em nós dois.

- Eu sei - admiti, minha voz soando mais sincera do que eu esperava. - Mas admitir isso é mais difícil do que eu imaginava.

Ela estendeu a mão e, hesitante no início, eu deixei meus dedos encontrarem os dela. Seu toque era quente, um contraste bem-vindo ao frio da noite. E, de repente, todo o peso que eu vinha carregando parecia mais leve.

- Alejandro, não importa o que aconteça, eu estou do seu lado. - Ela apertou minha mão suavemente, seus olhos me encarando com uma intensidade que fez meu coração acelerar mais uma vez.

Eu não conseguia desviar o olhar, como se aqueles olhos pudessem me ver de verdade, além da fachada. Ela sempre soube, de alguma forma, enxergar a verdade por trás de cada palavra não dita. E, por isso, senti que era o momento. O momento de finalmente me abrir.

- Eu não sou bom com palavras, você sabe disso. - Minha voz estava rouca, mas ela não desviou o olhar. - Mas o que eu sinto por você... é real. Mais real do que qualquer coisa que eu já experimentei.

O silêncio entre nós retornou, mas dessa vez, era diferente. Não havia mais a tensão de palavras não ditas ou sentimentos escondidos. Apenas o conforto de saber que, pela primeira vez em muito tempo, eu estava exatamente onde deveria estar.

Ela inclinou-se um pouco mais para mim, seu rosto agora tão perto que eu podia sentir sua respiração quente misturar-se ao frio da noite. Meu coração batia em um ritmo que eu mal conseguia controlar. Era um sentimento estranho, essa mistura de nervosismo e paz. Como se, ao mesmo tempo em que eu estava com medo do que viria a seguir, eu também soubesse que não havia outro lugar onde eu preferisse estar.

- Eu sinto o mesmo - ela sussurrou, seus lábios tão próximos dos meus que eu mal conseguia respirar.

Meu corpo inteiro relaxou com aquelas palavras. Era como se, de repente, tudo fizesse sentido. Todo o medo, toda a hesitação... nada disso importava mais. Porque, no final, nós dois estávamos aqui. E isso era tudo o que importava.

Com o coração batendo forte, eu a puxei um pouco mais perto, encostando minha testa na dela, apenas aproveitando o momento de proximidade. Eu não precisava de mais nada. Não precisava de palavras, de promessas ou de gestos grandiosos. Apenas aquele instante, onde éramos nós dois contra o mundo.

Enquanto continuávamos a sentar ali, lado a lado, segurando as mãos um do outro, o mundo ao nosso redor parecia desaparecer. Não importava o frio, a noite, ou qualquer outra coisa. Apenas nós dois, em um momento que eu sabia que nunca esqueceria.

Eu tinha finalmente abaixado minhas defesas. E pela primeira vez, senti que isso não era uma fraqueza, mas uma força que eu havia encontrado nela.

- Obrigado - murmurei, quase inaudível.

- Pelo quê? - ela perguntou, inclinando-se um pouco mais perto.

Eu a olhei e sorri, um sorriso que eu raramente permitia que os outros vissem. Mas para ela, eu sabia que não precisava mais esconder nada.

- Por ser você.

𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒, Alejandro Garnacho ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora