☆《5》☆

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A casa de Melanie era silenciosa quando ela entrou, mas diferente do silêncio frio que Gabriel encontrava, o dela era carregado de tensão. As paredes eram imaculadamente brancas, decoradas com móveis de luxo e quadros de bom gosto, uma casa que gritava perfeição e status, refletindo exatamente o que sua mãe desejava: uma vida perfeita, sem falhas.

Melanie caminhou pelo corredor, sentindo o peso dos olhos invisíveis de sua mãe sobre ela, mesmo que a mulher não estivesse ali. Era como se a expectativa de perfeição estivesse impregnada em cada canto da casa, sempre observando, sempre julgando. Desde pequena, ela havia aprendido que qualquer erro, qualquer desvio da "norma" estética que sua mãe tanto venerava, seria motivo de críticas implacáveis.

Quando entrou na cozinha, viu sua mãe, Gloria, sentada à mesa, folheando uma revista de moda. Os olhos dela, tão afiados quanto as páginas que virava, ergueram-se para encontrar Melanie. Um sorriso superficial apareceu em seus lábios pintados de vermelho, mas não chegou aos olhos.

— Como foi a escola? — Gloria perguntou, com aquela voz doce que Melanie conhecia bem, uma doçura que escondia veneno.

— Tudo bem, mãe — respondeu Melanie, tentando manter o tom leve.

Ela foi até a geladeira, mas antes que pudesse abrir, a voz fria de sua mãe cortou o ar.

— Não acha que está exagerando, querida? — disse Gloria, seus olhos cravados no corpo de Melanie, medindo cada centímetro com um olhar clínico. — Você já comeu hoje. Não precisamos exagerar, certo?

Melanie congelou, sentindo o sangue esquentar de raiva, mas, como sempre, forçou-se a engolir a resposta que queria dar. Gorda. A palavra, dita com tanta casualidade pela própria mãe, ecoava na cabeça de Melanie. Não importava quantas vezes ouvisse, a dor nunca diminuía.

— Eu só queria uma maçã... — murmurou, quase sem voz.

— Maçã? — Gloria soltou uma risada curta. — As frutas têm muito açúcar. Vamos manter o foco, certo? Você tem um rosto lindo, querida, mas precisa controlar esses impulsos.

Melanie assentiu lentamente, sentindo os olhos queimarem, mas não ia chorar. Não na frente de sua mãe. Isso seria visto como fraqueza. Respirou fundo e tentou desviar o olhar da revista que Gloria mantinha sobre a mesa, onde mulheres impossivelmente magras estampavam as capas. Perfeição inatingível, pensou Melanie.

Sua mãe sempre foi obcecada por beleza. Quando Melanie era criança, achava isso divertido. Gloria a vestia com roupas lindas, trançava seu cabelo, e a elogiava como se fosse uma boneca perfeita. Mas, à medida que foi crescendo, o carinho de sua mãe se transformou em cobranças. O amor foi substituído por metas impossíveis de alcançar, e a cada centímetro ganho na balança, o olhar de Gloria se tornava mais pesado, mais severo. Como se Melanie estivesse falhando, não apenas como filha, mas como mulher.

A única pessoa que parecia alheia a isso era seu pai. Ele estava sempre trabalhando, quase nunca em casa, e quando estava, ele a tratava com carinho, mas de forma distante. Era como se ele vivesse em outro mundo, ocupado demais com seus negócios para perceber o que acontecia entre Melanie e Gloria. Ele via Melanie apenas como a filha quieta e sorridente que nunca criava problemas, mas nunca percebia a tristeza profunda que ela escondia sob a maquiagem impecável e o batom vermelho que usava para parecer "forte".

Força..., pensou ela, enquanto subia para o quarto. Minha mãe acha que ser forte é ser magra. Lágrimas ameaçavam cair, mas ela as segurou. Não deixaria sua mãe vencer. Entrando em seu quarto, Melanie trancou a porta atrás de si, finalmente permitindo que seu rosto relaxasse, deixando escapar um suspiro profundo de cansaço. O espelho no canto da parede refletia sua silhueta, e, mesmo com as luzes suaves do ambiente, ela não conseguia ver nada além das imperfeições que sua mãe sempre apontava.

— Você não é perfeita — sussurrou para si mesma, enquanto retirava o batom com um lenço. — Mas quem é?

No fundo, sabia que não era gorda. Sabia que as palavras de sua mãe eram distorcidas por uma obsessão insana com a aparência, mas a repetição constante dessas críticas fazia com que fosse difícil para Melanie acreditar nisso. Mesmo em sua própria mente, a dúvida sempre estava lá, sussurrando que talvez sua mãe tivesse razão.

Ela caminhou até a cama e se jogou sobre o colchão macio, sentindo o peso do dia e das cobranças. O celular vibrou em sua mão, e quando o pegou, viu uma mensagem de Elijah.

— "Acabei de terminar o jogo. Você precisa jogar isso também!"

Melanie sorriu. Elijah e Gabriel.... Eles eram sua fuga, seus companheiros que não se importavam com as pressões que ela enfrentava em casa. Com eles, ela era apenas Melanie, não a boneca que sua mãe queria que ela fosse.

Mas por mais que tentasse se desligar daquele mundo opressor que a esperava toda vez que cruzava a porta de casa, a pressão estava sempre lá, como uma sombra. Enquanto sua mãe existisse, a batalha contra as palavras cruéis e os padrões impossíveis seria constante.

Melanie deitou na cama e encarou o teto, o batom vermelho ainda em sua mão, uma marca simbólica do controle que sua mãe tinha sobre ela. Um dia, prometeu a si mesma, um dia ela quebraria esse espelho que sua mãe havia criado para ela e veria quem realmente era, livre das expectativas sufocantes. Mas até lá, ela teria que suportar. Afinal, era isso que sua mãe chamava de força, não era?
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"Mesmo cercada de luxo e perfeição, Melanie sabia que a verdadeira batalha era escapar da prisão invisível que sua mãe havia criado – onde a força era confundida com controle e a beleza com sacrifício."

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Espero que tenham gostado^^

944 palavras.

☆•○《✨𝐵𝓇𝑜𝓀𝑒𝓃 𝑀𝒾𝓇𝓇𝑜𝓇𝓈✨》○•☆ Onde histórias criam vida. Descubra agora