Elijah parou na entrada de casa, a maçaneta fria em sua mão, hesitando por um momento. O silêncio o envolvia como um cobertor pesado, e ele podia sentir a expectativa no ar, como se estivesse prestes a entrar em um palco, onde o papel que desempenhava nunca era o que realmente queria. Inspirando fundo, ele girou a maçaneta e entrou.
A casa estava escura, exceto pela luz fraca que emanava da cozinha, onde sua mãe costumava passar a maior parte do tempo. Elijah sabia que não devia esperar muito dela, mas uma parte de si sempre esperava que, ao abrir a porta, ela estivesse ali, sóbria e com um sorriso. Porém, quando seus olhos se ajustaram à penumbra, encontrou-a sentada à mesa, um copo de uísque em mãos, os olhos perdidos em algum lugar distante.
— Ei, Elijah — ela disse, a voz arrastada, sem olhar para ele. O tom era um misto de indiferença e desdém. O coração de Elijah afundou.
— Oi, mãe — ele respondeu, tentando soar leve, como se isso pudesse mudar a atmosfera tensa que preenchia a casa.
A mãe de Elijah, Linda, era uma mulher que havia perdido a batalha contra o luto. Desde a morte do pai de Elijah em um acidente trágico, sua vida se transformara em uma série de dias em que a bebida se tornava seu único consolo. Ela não batia nele; pelo contrário, era seu próprio espírito que parecia bater com força, como se a culpa pela morte do marido pesasse sobre ela, e Elijah fosse o único que poderia ser responsabilizado.
Às vezes, quando Linda estava sóbria, ela tentava se desculpar, mas as palavras sempre pareciam vazias, quase como se fossem mais para se justificar do que para realmente pedir perdão. Ela tinha um jeito doce quando estava assim, mas mesmo então, a raiva nunca estava longe de seus olhos. Quando ela estava embriagada, no entanto, o calor do álcool trazia à tona uma fúria descontrolada, e as palavras se tornavam facas, cortando Elijah com acusações que ele já havia se habituado a ouvir.
— O que você quer? — ela perguntou, finalmente voltando seu olhar para ele. A pergunta, embora simples, carregava um peso enorme. Era como se ela estivesse esperando por uma razão, uma desculpa para explodir.
— Só queria... um lanche. — Elijah tentou desviar o olhar, evitando o olhar penetrante da mãe. Ele sabia que a resposta poderia ser interpretada de várias maneiras, mas não tinha ânimo para se envolver em uma conversa. Ele se afastou, indo em direção à geladeira, que parecia sempre vazia, exceto por algumas garrafas e restos de comida que pareciam ter se acumulado.
Elijah rapidamente pegou um pedaço de pão e um pouco de queijo, segurando a comida como se fosse a única coisa que o mantinha ancorado à realidade. O pensamento de que a culpa da morte de seu pai o seguia como uma sombra estava sempre presente, mas ele se esforçava para não deixá-la dominar seus pensamentos. Ele precisava de um escape.
Assim que terminou seu lanche, Elijah subiu para o seu quarto. Era o único lugar que realmente sentia que pertencia. As paredes estavam adornadas com seus desenhos de quadrinhos, rabiscos e esboços de super-heróis que criara para si mesmo. Aqueles personagens eram sua fuga, figuras que viviam em mundos onde não havia culpa, apenas aventuras. Ele sentou-se em sua mesa e olhou para a folha em branco diante dele, um campo de possibilidades esperando para ser preenchido.
Ele pegou seus lápis e começou a desenhar, as linhas se transformando em formas e cores. A cada traço, ele se sentia um pouco mais livre, como se os problemas do mundo exterior desaparecessem. Era seu santuário, um espaço onde a única pessoa que o julgava era ele mesmo, e mesmo assim, ele tentava ser gentil.
Enquanto desenhava, sua mente vagava. Se ao menos eu pudesse ser um desses heróis, alguém que pode mudar tudo, pensou. No entanto, a realidade era implacável. A cada linha que ele traçava, a culpa e a dor que sua mãe o fazia sentir se intensificavam. Era difícil não se perguntar se ela realmente o amava ou se ele era apenas uma lembrança constante da tragédia que havia afetado suas vidas.
Após algumas horas, ele se afastou da mesa, observando a obra que havia criado. Um super-herói com um manto que parecia feito de luz, um símbolo de esperança em meio à escuridão. Ele sorriu, um sorriso tímido, mas verdadeiro. Se eu pudesse ser apenas um pouco mais forte, pensou, talvez pudesse ajudar minha mãe a se encontrar novamente.
Mas enquanto olhava para o desenho, a voz de Linda ecoou em sua mente, repleta de desprezo. Ele fechou os olhos, tentando se proteger das palavras dela, como se pudesse se envolver na imagem de seu herói e escapar. Mas a realidade era sempre mais dura do que os quadrinhos, e, por mais que ele quisesse, não podia escapar dela.
No fundo, Elijah sabia que estava lutando contra demônios que não poderiam ser vencidos com lápis ou canetas. Mas, naquele momento, ao menos, ele tinha seus desenhos. E enquanto houvesse papel e tinta, haveria esperança
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"A verdadeira força não reside em ser invulnerável, mas em encontrar um propósito mesmo nas sombras que nos cercam."__________________
Espero que tenham gostado!
879 palavras

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☆•○《✨𝐵𝓇𝑜𝓀𝑒𝓃 𝑀𝒾𝓇𝓇𝑜𝓇𝓈✨》○•☆
Hayran KurguEm Derry, onde a escuridão e o medo se entrelaçam, Patrick Hockstetter, um jovem atormentado por sua mente fragmentada, acredita ser o único real em um mundo cheio de ilusões. Sua vida muda quando três novos alunos chegam à escola, cada um trazendo...