《Narrado por Elijah》
Eu havia brigado com minha mãe...de novo.
Eu havia discutido com minha mãe novamente...
Eu respiro fundo e me volto ao desenho, tentando afastar esses pensamentos. O grafite desliza pelo papel, formando as linhas delicadas do rosto de Melanie. Quase sinto que ela está ali comigo, seu olhar focado e cheio de confiança. Ela nunca se abala — é isso que me fascina nela. Talvez, se eu tivesse metade da coragem que ela tem, eu não sentiria esse vazio ou a constante insegurança que me persegue.
Mas, enquanto a noite avança, sinto aquele peso estranho outra vez. Um frio percorre a espinha, e a sensação de estar sendo observado só aumenta. Olho para a janela, o vidro embaçado reflete sombras que parecem se mover. Tento me convencer de que é só minha mente pregando peças, mas a escuridão lá fora parece viva, como se tivesse olhos.
Volto ao desenho e tento me concentrar, mas não consigo afastar as dúvidas que vêm em ondas. "Por que não pode ser eu?" — penso, mas a verdade dói demais para encarar. Melanie precisa de alguém como Gabriel, alguém com tudo sob controle, alguém que pode oferecer o que eu não posso.
A ponta do lápis para sobre o papel, hesitante. Por um segundo, imagino Gabriel e Melanie juntos, perfeitos, enquanto eu fico à margem, apenas observando. Quase dá pra ouvir a voz dele na minha cabeça, perguntando o que eu sinto, porque ele sempre quer saber, mas como poderia entender o vazio que há em mim?
Desvio o olhar de novo para a janela, como se algo estivesse lá... algo que eu não consigo ver direito, mas que parece saber mais sobre mim do que eu gostaria. Dou risada, baixinho, tentando me convencer de que é só paranoia. Mas o sentimento não vai embora. Fecho os olhos, tentando afastar tudo, mas só consigo ouvir o som do vento, gelado e incessante, como se houvesse algo lá fora, esperando.
Termino o desenho e dou um sorriso bobo, guardo meus materiais e me levanto da cadeira. Respiro fundo e vou até o guarda-roupa pegar um pijama, mas, ao escolher uma camiseta, um arrepio percorre a minha espinha. A sensação de estar sendo observado agora parece quase palpável, como se algo me encarasse das sombras do quarto.
De repente, ouço passos no corredor... passos vagarosos e arrastados, como se alguém estivesse se aproximando de meu quarto. Tento ignorar, mas logo risadas infantis ecoam, e o som gélido das batidas do vento contra a janela parece ganhar um tom ameaçador. Meu abajur começa a piscar, lançando sombras intermitentes e distorcidas pelo quarto, enquanto o vento lá fora bate na janela com uma fúria crescente.
Respiro ofegante, o medo crescendo no peito. Dou alguns passos para trás quando a porta começa a ranger, abrindo-se lentamente. O som do metal estridente me deixa tenso, meu coração martelando no peito. E então, uma mão pálida e em decomposição surge no vão da porta, dedos rígidos e pele descascando, parecendo desfazer-se a cada movimento.
Meu corpo congela, paralisado, e logo vejo mais da figura se arrastando para dentro do quarto. Não consigo mover um músculo. É... é ele. Meu pai. Ou o que restou dele. Ele se arrasta como uma sombra, cabelos desgrenhados caindo pelo rosto pálido e sem vida. A carne apodrecida e os olhos fundos me encaram, vazios, enquanto a voz rouca escapa dos lábios ressecados:
"É... culpa... sua."
Cada palavra soa como uma lâmina enferrujada perfurando minha alma. Ele se aproxima, engatinhando em minha direção com movimentos trôpegos, o cheiro de putrefação impregnando o ar.
Tento me afastar, mas as pernas não respondem. “Não é real, não é real, não é real...” murmuro, com os olhos apertados. Eu me encolho, repetindo as palavras como um mantra, mas a visão não desaparece. Ele continua se aproximando, engatinhando, os dedos ossudos quase tocando meus pés.
O quarto inteiro parece estar se fechando ao redor de nós. O cheiro é tão forte que sufoca, e a cada passo, o corpo dele se desfaz mais, a pele despencando em farrapos podres. Ele se arrasta como uma marionete quebrada, mas a voz... aquela voz que era tão familiar, agora corrompida, me atinge com uma força quase física.
“É... culpa... sua.” A frase soa como um eco infinito, se misturando ao vento e ao som horrível das unhas dele raspando o chão. As lágrimas escorrem pelo meu rosto. Minha mente quer acreditar que não é real, mas cada detalhe é tão grotescamente vívido. Sinto minha sanidade desmoronando pouco a pouco enquanto ele se arrasta em minha direção, os olhos mortos e vazios agora presos nos meus, cheios de uma fome horrível.
Fecho os olhos com força, tentando escapar daquela cena, enquanto repito para mim mesmo: “Não é real, não é real!” Meu grito soa vazio na escuridão. Mas, de repente, o silêncio volta.
Abro os olhos devagar. Não há nada ali. A porta está fechada, o quarto está quieto, e o cheiro desapareceu. Mas ainda sinto o peso do horror que acabou de acontecer, como se uma sombra tivesse marcado permanentemente o espaço ao meu redor.
Eu não consigo dormir. Passo o resto da noite acordado, de olhos arregalados, incapaz de esquecer a visão do rosto desfigurado do meu pai, do som de sua voz morta e do cheiro da sua presença. Algo dentro de mim quebrou, e agora só resta o silêncio, mais gelado do que nunca.
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"Algo escuro parecia observar cada passo deles, escondido nas sombras de Derry... Como se aguardasse pacientemente que a primeira rachadura surgisse."_____________________
Parece que a coisa achou uma nova presa:)))
943 palavras
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☆•○《✨𝐵𝓇𝑜𝓀𝑒𝓃 𝑀𝒾𝓇𝓇𝑜𝓇𝓈✨》○•☆
FanfictionEm Derry, onde a escuridão e o medo se entrelaçam, Patrick Hockstetter, um jovem atormentado por sua mente fragmentada, acredita ser o único real em um mundo cheio de ilusões. Sua vida muda quando três novos alunos chegam à escola, cada um trazendo...