《8》

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Gabriel acordou abruptamente às 3:00 PM, o sol já havia se posicionado alto no céu, mas o seu quarto estava envolto em sombras, como se o dia estivesse negando sua luz. Um frio cortante o envolveu, um sopro gelado que parecia sair das paredes e penetrar em sua pele, sufocando-o. Ele se espreguiçou lentamente, o coração batendo acelerado, e se lembrou do remédio para dormir que tomara na noite anterior. O efeito ainda pairava em sua mente, uma névoa turva que tornava tudo mais surreal.

"Algo não está certo", pensou Gabriel, e a inquietação se transformou em um pequeno pânico. O silêncio opressivo da casa só aumentava sua ansiedade, como se o ambiente estivesse prestes a desabar sobre ele. Ele sentiu uma pressão no peito, uma sensação de que estava sendo observado. "Eu sou real?" O pensamento o atingiu como um soco no estômago, e ele se perguntou se ainda era quem achava que era.

Movido por uma força incontrolável, levantou-se da cama e se dirigiu ao espelho, onde sempre evitou olhar por muito tempo. Com um gesto hesitante, puxou o pano preto que cobria a superfície, e o que viu o fez tremer. O reflexo que o encarava era horrendo: um rosto deformado, uma caricatura grotesca de sua imagem, onde os olhos eram buracos escuros e profundos que pareciam absorver a luz ao redor. Uma sensação de nojo e desespero tomou conta dele. Não era apenas a aparência — era como se a própria essência de sua alma estivesse distorcida.

Gabriel recuou, e a próxima coisa que viu foi um movimento sutil no reflexo. A figura do espelho começou a se contorcer, como se estivesse tentando sair da superfície. Antes que pudesse reagir, uma sombra negra, viscosa, se projetou para fora do vidro, estendendo-se como garras malignas em sua direção. O medo tomou conta dele, e ele saltou para o lado, o coração pulsando como um tambor em sua cabeça.

Ele precisava de algo — qualquer coisa — e seu olhar se fixou no criado-mudo. Com um desespero que o empurrou para a frente, abriu a gaveta e puxou uma pistola com silenciador, o metal frio contrastando com o calor que pulsava em suas mãos trêmulas. Mas enquanto levantava a arma, uma onda de dúvida o envolveu como uma névoa pesada. "Como diabos eu vou matar essa merda? Eu nem sei se é real", pensou, sua mente em colapso.

A sombra hesitou diante dele, mas um riso distorcido e gutural ecoou na sala, ressoando nas paredes, e a criatura avançou. "Você é fraco, Gabriel. Você sempre foi fraco. É isso que eu quero que você veja." A voz era uma combinação horrível de sussurros e gritos, e ele pôde sentir a essência de sua insegurança se materializar naquelas palavras. Ele queria gritar, mas estava paralisado, preso em um momento em que a realidade e a ilusão se entrelaçavam.

"Não é real! Não é real!" ele começou a repetir freneticamente, as palavras escorregando de seus lábios como uma oração desesperada. Cada frase era uma tentativa de se libertar daquelas garras invisíveis que tentavam o puxar de volta para a escuridão. Ele sentiu a adrenalina correndo em suas veias, e a sombra hesitou mais uma vez, como se as palavras fossem uma luz cortando a escuridão.

Mas a criatura não estava disposta a se render. Em um movimento rápido, lançou-se para frente, as garras afiadas se estendendo para agarrá-lo. Gabriel, ainda murmurando que não era real, desviou-se e caiu de joelhos. A mão da coisa rasgou seu braço, a dor intensa disparando em seu corpo enquanto o sangue escorria, quente e espesso. A arma escorregou de seus dedos, caindo no chão com um estrondo que ecoou no vazio do quarto.

“Você é a razão pela qual tudo isso acontece! Você nunca se aceitara! Você nunca se amará!” a voz distorcida se tornou mais clara, e Gabriel sentiu a culpa e o desespero se entrelaçando em seu peito. Ele começou a se lembrar de todos os momentos em que se sentiu menos do que os outros, todas as vezes que se escondeu atrás de uma máscara de segurança e conforto, e como sempre se sentiu como um impostor em sua própria vida.

Com lágrimas quentes escorrendo pelo rosto, Gabriel encarou a criatura, uma expressão de raiva e determinação tomando conta dele. “Você não vai me controlar!” gritou, sua voz ecoando com uma força que o surpreendeu. A sombra hesitou, seu corpo retorcendo-se como se estivesse se desfazendo, mas ainda assim a sensação de pânico se mantinha.

“Você não pode fugir de quem você realmente é!” a voz ecoou, e a criatura começou a se desvanecer, mas a dor em seu braço continuava a pulsar, uma lembrança constante de que a batalha ainda não havia terminado. Com um último grito, a sombra se esvaiu de volta para o espelho, desaparecendo na superfície do vidro como uma gota de tinta em água.

Gabriel caiu no chão, ofegante, a mente girando em um turbilhão de emoções e realidades. A dor em seu braço era um lembrete físico do que ele enfrentara, mas também uma nova determinação começou a crescer dentro dele. Ele sabia que a luta não acabara ali; ele precisava confrontar seus medos, entender quem era e, acima de tudo, descobrir a verdade que se escondia atrás daquele reflexo deformado.

Naquela noite, Gabriel não conseguiu dormir. Ele ficou acordado, os olhos fixos na superfície do espelho, como se esperasse que a sombra voltasse. Mas, em vez disso, o que ele viu foi um espaço vazio, refletindo sua solidão e as questões que ainda precisava responder. A batalha estava apenas começando.
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Enquanto Gabriel lutava contra seus demônios internos, uma risada distante ecoava nas sombras, revelando que Pennywise estava mais próximo do que nunca, alimentando-se do medo que começava a florescer em seu coração.

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1. N me perguntem pq o Gabriel tem uma arma com silenciador.

2. O plano da "Coisa" esta indo bem😈

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