Vinte e Três

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Quando a porta se abre e vejo a mãe de Tiago, uma onda de realidade me atinge como um soco no estômago. Minhas pernas tremem, minha mente ainda está presa na casa da minha tia, naquele turbilhão de vozes, acusações e revelações. Tudo o que eu ouvi – sobre o meu pai, sobre a Laryssa – se mistura com o som da respiração acelerada nos meus ouvidos. Eu estou à beira de um colapso, e preciso de algo... preciso de Tiago.

— Pois não? — a voz dela sai com surpresa, mas soa distante para mim, como se eu estivesse num sonho.

— Oi, o Tiago está? — pergunto. — Sou o Igor, estudo com ele.

— O que faz aqui a essa hora?

Eu abro a boca para falar, mas é como se minha garganta estivesse bloqueada. O mundo parece inclinado, como se eu estivesse tentando manter o equilíbrio num chão que cede. As palavras da minha tia ainda ecoam na minha cabeça: "Seu marido..." Não, eu não consigo sequer pensar nisso. Não agora. Não sem perder completamente o controle. Eu só sei que preciso ver Tiago.

— Eu... preciso falar com ele. Tá tudo bem? — pergunto, forçando as palavras a saírem, minha voz sai falha, como se tivesse atravessado uma barreira invisível.

Ela suspira. Parece exausta, tão destruída quanto eu me sinto por dentro.

— Ele não está muito bem, Igor... — começou, e por um momento penso que ela está falando de mim também. — Está trancado no quarto faz dias. Não come direito, não quer falar com ninguém... Eu não sei mais o que fazer.

— Por favor, deixa eu falar com ele. — A minha própria voz me assusta. Há uma urgência, quase um desespero. Eu preciso disso. Preciso muito dele. — Talvez ele me escute. A gente é... muito próximo.

Ela me olha, seus olhos avaliando minha presença. Eu estou despedaçado, tremendo por dentro e por fora, mas tento me manter de pé, mesmo que mal consiga respirar. O pânico da ansiedade vem em ondas, como se meu peito estivesse se afogando.

— Ele não quer ver ninguém... — ela começa a dizer, mas hesita. — Mas talvez você consiga. Ele sempre falou muito bem de você, não é?

Eu só balanço a cabeça, mal conseguindo formar uma resposta coerente. Não há espaço para explicar o que eu mesmo estou sentindo. Ela acha que somos apenas amigos, e talvez isso seja melhor agora. O que importa é que eu preciso entrar, antes que eu desmorone na frente dela.

— Só... — ela para, me encarando com seriedade. — Só não o force a nada, tá bem? Se ele não quiser falar, não insista. Eu não sei mais o que ele pode fazer se for empurrado demais.

As palavras dela fazem meu coração acelerar ainda mais, mas eu não tenho escolha. Não quero forçar nada, mas a verdade é que eu também estou à beira de um abismo. Eu assinto, sentindo o nó na garganta apertar.

— Eu só quero ver como ele está — digo, minha voz entrecortada, tentando soar firme, mas sabendo que qualquer palavra pode me fazer desmoronar.

Ela dá um sorriso cansado, triste, e abre a porta para eu passar.

— Tudo bem, Igor. Você pode subir. — Ela suspira, resignada. — Espero que ele te escute.

Enquanto subo as escadas, cada degrau parece um desafio maior do que o anterior. Meu corpo pesa, e o ar no corredor estreito está sufocante, como se o espaço estivesse se fechando ao meu redor. O pânico está ali, à espreita, e sinto que a qualquer momento vou desmoronar. Quando chego ao último degrau, meu celular vibra no bolso.

Eu já sei quem é antes de olhar. Hesito, mas o pânico dentro de mim me força a verificar. Minha mãe. A mensagem perdida. Ela está ligando. O som do telefone vibra no meu ouvido como uma explosão, e meu dedo paira sobre o botão de recusar. O que ela espera que eu diga? Depois de tudo o que ouvi, depois de saber o real motivo do divórcio dos meus pais...

Todas As Coisas Mais Simples (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora