Treze

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— Nos desculpe. — Tiago lamenta, um pouco sem graça. — É que Luiza e eu não vamos poder. Combinamos de jantar com minha mãe, sabe?

A garota assente com a cabeça, dando um leve riso de constrangimento.

— Não tem problema. — Digo instantaneamente.

Tudo fora em vão. Angelina irá jantar conosco, mas Tiago não. Não poderei namorar aqueles olhos. Não poderei tê-los. Terei que fingir durante incansáveis horas que tudo está bem, quando na verdade só quero pular em cima dele e gritar que o desejo; que preciso dele. Gritar para o mundo que nunca me senti tão livre como me sinto quando estou com ele.

Antes que ele se vá, ele me dá um breve abraço de despedida e quase pergunto quando iremos nos ver novamente. Porém ele logo me larga, deixando para trás apenas o frescor de seu perfume, e abraça Anita da mesma forma como fez comigo: sem nenhuma distinção; como se Anita e eu fôssemos iguais para ele. Como se nada do que fizemos juntos houvesse feito diferença alguma.

Resolvo não jantar. Deixo todos embaixo, sem nem ao menos me importar como terminará a noite para Danilo, Elena e Angelina, e decido me trancar no quarto. Anita até tenta ficar comigo, mas digo que minha cabeça dói. Amorteço um longo grito com o travesseiro. Me sinto um otário.
Sinto raiva de mim mesmo, por ter feito o que fiz; por ter quase me humilhado só para tê-lo no jantar, apenas para que ele pudesse compreender que de certa forma preciso dele.

Já é de manhã, quando alguém bate na porta do meu quarto: uma, duas, três vezes, quem sabe cinco. Não quero levantar. A cama e o edredom estão aconchegantes e é quase irresistível o desejo de permanecer deitado pelo resto do dia.

Minha consciência grita: preciso ser um Igor melhor do que ontem. Então sou obrigado a levantar.

Abro a porta com as pálpebras entrecerradas e dou de frente com Laryssa. Está pálida, olhos arregalados, lábios arroxeados. Adentra exasperada no cômodo e fecha a porta, encarando-me afobada.

— Sua mãe está aqui! — sussurra.

Sinto um desconforto instantâneo. Um arrepio percorre minha espinha. Engulo suas palavras a seco e passo as mãos pela fronte.

Eu fujo de minha mãe desde o que aconteceu. Não sei se ainda estou pronto para encará-la e ouvir tudo que ela tem para dizer. A hipótese de ter que olhar em seus olhos me assusta.

Laryssa estala seus dedos próximo ao meu rosto, despertando-me de meus devaneios.

— Precisamos ir. Ouvi ela dizer que sua terapeuta contou para ela que você abandonou a última consulta. Então vamos, a não ser que você queira encarar a fera.

— Ir?  Eu e você? Vamos juntos para onde?

Ela sorriu de uma maneira nostálgica como não via há muitos anos, o que me fez lembrar do passado. Laryssa e eu compartilhamos da mesma infância. Estávamos sempre juntos e éramos cúmplices em tudo o que fazíamos. No entanto, em algum momento das nossas vidas nós mudamos. Laryssa se tornou fria e se isolou. Com o tempo nossos diálogos foram ficando cada vez mais vazios e nossos ciclos sociais se tornaram opostos.

Nos tornamos dois estranhos.

— O Caio não contou? Eu e ele estamos saindo, nos conhecendo, se pegando, transando, tanto faz. Combinamos que iríamos até a casa dele e de lá seguiríamos para a casa do lago.

A casa do lago.

Como eu poderia me esquecer? Anita e eu passamos o dia anterior comprando bebidas e aperitivos, preparando lanches e escolhendo filmes no catálogo da Netflix para assistirmos todos juntos.

Todas As Coisas Mais Simples (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora