18 Capitulo: Sombras do passado

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Minha infância no inicio parecia um sonho de conto de fadas. Eu tinha apenas 6 anos, mas ainda me lembro do tutu rosa que balançava suavemente enquanto dançava balé. Minha mãe adorava me ver dançar, mas, naquela época,  a mãe de Letícia, Dona Íris, quem se tornou meu porto seguro. Ela era carinhosa e sempre me elogiava como se eu fosse sua própria filha. Quando corria para os braços dela após os ensaios, sentia-me segura e amada. Ela sorria para mim de um jeito que fazia o mundo parecer perfeito.
Dona Iris (com uma voz doce e animada):
– Você está linda, filha!! Vai ser a melhor bailarina do espetáculo!

Alguns meses depois, já com 7 anos, eu estava escondida atrás de uma porta, os olhos arregalados e as mãos pequenas tapando os ouvidos. Do outro lado, os gritos de meu pai ecoam pela casa enquanto ele discute violentamente com a mamãe. Escuto o som de objetos quebrando, o estalar de portas batendo, e o som abafado de soluços da mamãe.

Alice (pensando, confusa):
"Por que eles estão sempre brigando?"
A briga termina abruptamente, mas o silêncio que se segue é ainda mais assustador. Letícia, que a encontra escondida, se aproxima lentamente e me abraça, passando a mão em meus cabelos.

Letícia (num sussurro tranquilizador):
– Vai ficar tudo bem, Alice. Eu estou aqui.

Ela cuidou de me  naquela noite,  até eu pegar no sono. Foi nesse mesmo ano que perdi minha mãe. Eu era muito pequena para entender a profundidade daquela dor, mas lembro da tristeza que tomou conta da casa. O vazio foi insuportável. Ela se foi, e tudo o que restava eram lembranças dos dias em que dançávamos, do carinho de Dona Íris e da sensação de que o mundo nunca mais seria o mesmo.

Aos oito anos, passa por mais um choque. Ao buscar um brinquedo no andar de baixo da casa, vi meu pai, de costas, beijando uma das empregadas.  Sente um nó na garganta, mas não sabe como reagir. Desconcertada, voltei correndo para o quarto, sentindo que algo muito errado estava acontecendo.

Não muito depois desse episódio, papai se casa com outra mulher, uma figura severa e distante que nunca demonstrou afeto. Cresci sendo cercada pela escuridão, onde os momentos de felicidade eram poucos e distantes, e as lembranças da ternura de Dona Iris e do balé se tornavam suas únicas fontes de conforto nos dias mais difíceis.

agora com 9 anos, observava da janela entreaberta do corredor quando o pai, envolto em fúria, vociferava ordens aos soldados no pátio da mansão. Os gritos ecoavam pelo ar, e, cada vez que um dos soldados cometia um erro, o paipai não hesitava em ser brutal. Suas mãos, antes reservadas para os gestos de poder, agora eram usadas para bater, empurrar e humilhar os subordinados. Uma tarde, enquanto  tentava evitar a presença do pai, ouviu um barulho abafado vindo do escritório. A curiosidade e o medo a fizeram caminhar até a porta entreaberta. Lá, viu o meu irmão mais velho, com o rosto marcado e o corpo tenso, em uma discussão feroz com o pai.

Irmão mais velho (gritando, com raiva e dor nos olhos):
– Você é um covarde! Nunca se preocupou com a minha mãe! Tudo que queria era usufruir do poder da família dela!

assustada, arregalei os olhos. O pai estava de costas para ela, mas seu irmão mantinha o olhar fixo, desafiador, apesar das marcas da violência que o pai acabara de impor.

Pai (frio e controlado, mas com raiva latente):
– Cuidado com o que diz. Eu sempre fiz o que era necessário para essa família.

O irmão, respirando fundo, deu um passo à frente, a voz embargada pela dor acumulada.

Irmão mais velho (com a voz carregada de rancor):
– Enquanto a mamãe estava de luto pela morte do filho bastardo, aquele que ela cuidou como se fosse nosso, você estava a traindo! Como se não bastasse, ainda trouxe para cá uma filha, achando que isso substituía o que perdemos. Achando que poderia remendar o que você destruiu!

Na mira do Caçador( Livro 1- mulheres fatais na máfia)Onde histórias criam vida. Descubra agora