Capítulo 11: O que eu sinto?

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Os três garotos seguem até o quarto de Jisung assim que desligam as luzes da cozinha e vão pelo caminho bem iluminado da sala de estar. Estava prestes a anoitecer, os pais de Jisung chegariam em algumas horas, então eles deixaram as luzes da sala de estar ligadas antes de seguir até uma das portas no único corredor largo da residência.

Eles entram no quarto de Jisung, sendo recepcionados por um típico quarto de um garoto de dezessete anos apaixonado por RPG de mesa, videogames e super heróis. Changbin sempre achou o quarto de Jisung muito bonito, tinha prateleiras cheias de action figure de personagens da Marvel, como o Homem Aranha e o Hulk, além dos personagens de desenho animado que ele gosta desde a infância — ele até tinha uma prateleira apenas para os bonequinhos do Bob Esponja que ganhou de aniversário ao decorrer dos anos. E era tudo muito organizado e limpo, apesar de Jisung não ser o maior fã de arrumações. Era um largo quarto, com paredes azuis e uma cama de solteiro no canto próximo a janela, além do guarda roupas pequeno e uma mesa de estudos, com um computador grande montado em cima e HQ’s para todos os lados de todos os tipos. Changbin é levado até a cama pelo melhor amigo enquanto Junhan vem logo atrás com a mochila que ele trouxe mais cedo.

Changbin tenta abafar os soluços e sente um comichão nas orelhas de constrangimento, ele não queria ter chorado tanto, porém, tudo pareceu tão difícil de suportar no momento. Ele olha para Jisung preocupado e evita Junhan por medo de encará-lo, ele nunca foi tão vulnerável na frente de alguém que não fosse um dos seus amigos mais íntimos, ele não sabe o que esperar do outro Han. Todavia, tudo que Junhan faz é colocar a mochila de Changbin no canto da cama e se sentar com ele, numa distância onde ele tem certeza que não vai deixar o outro menino mais desconfortável. Jisung fecha a porta e vai até o amigo, senta grudado nele e delicadamente segura suas mãos, os olhos grandes de Jisung estão recheados do mais puro carinho e compreensão, embora ele não saiba porque Changbin entrou em colapso. Mas conhecendo Jisung, Changbin sabe que ele está disposto a ouvir seja lá o que ele quisesse dizer no momento, e até mesmo se ele não quiser falar.

Mas Changbin quer falar, talvez ele entenda melhor seus sentimentos do que ele mesmo. Jisung sempre foi bom com essas coisas, apesar dele não ser o maior especialista nos problemas do coração. Ele ser arromântico não o faz totalmente inválido de sentir emoções, Changbin sabe disso melhor do que ninguém. Jisung era o garoto mais sentimental que Changbin já teve o prazer de ter amizade. Talvez ele pudesse decodificar esse enigma que era seus sentimentos, ele sempre foi bom com essa coisa de resolver mistérios.

— Sung, eu tô com medo. — Diz, porque não sabe como iniciar aquela conversa estranha. Jisung franze as sobrancelhas e se aproxima mais, passando um braço pelos ombros de Changbin, aconchegando o menino contra seu corpo. — Eu não quero ser desse jeito. — O borbulhar das lágrimas enche seus olhos mas Changbin não quer chorar de novo, ele não quer parecer patético na frente de Junhan, embora o menino estivesse igualmente preocupado com ele.

— Que jeito, Bin?

— Eu não quero gostar de garotos. — Ele diz num fio frágil de voz. — Eu não quero gostar do Chan. — Uma lágrima teimosa desce por uma de suas bochechas magras, e ele logo esfrega com força, se livrando dela. — Eu nem sei se gosto dele mesmo, nem sei o que é gostar de alguém. Por que eu sou assim? Por que não posso ser normal como todo mundo? — Changbin sente um gosto amargo na boca, e se sente cada vez mais patético por estar dizendo coisas tão constrangedoras em voz alta.

— Binie, você é normal. — Ele vira Changbin na sua direção e segura ambas bochechas rubras e úmidas. — Você é o mais normal do nosso grupo, eu e o Hyunie somos a definição de esquisitice, não roube nosso título! — Ele esbraveja de brincadeira, ocasionando numa risada trêmula de Changbin. Um sorriso enfeita os lábios de Jisung e ele acaricia o rosto do amigo usando os polegares. — É sério, Bin. Gostar de meninos não te faz anormal, só te faz um pouco diferente, e ser diferente é bom. Eu não faria amizade com alguém “normal” perante a sociedade. Somos estranhos, desajeitados e meio idiotas, mas e daí? É isso que nos uniu. — Jisung deposita um beijinho na testa de Changbin, como sempre faziam quando eram crianças. Changbin fecha os olhos e se encolhe pelo carinho, incapaz de pensar em um futuro onde ele pudesse viver sem isso. E principalmente, sem Jisung. — Mas, não faço a menor ideia de como te ajudar com seus sentimentos em relação ao seu irmão.

Meu Inquilino Australiano | binchanOnde histórias criam vida. Descubra agora