Capítulo 12: As consequências podem esperar

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Changbin hesita em descer do bagageiro da bicicleta de Jisung quando ele para em frente a sua casa. É de noite, talvez oito ou nove horas de um domingo frio e nebuloso, em frente a casa está o carro de Erick, como sempre fora da garagem, Changbin vê todas as janelas da residência fechadas e ele hesita em entrar. Ele não quer enfrentar o humor oscilante de sua mãe, nem seu padrasto estranhamente quieto, e principalmente Chan. Ele acha que não consegue nem encará-lo agora.

Jisung toca os antebraços que rodeiam a cintura dele, lançando uma olhadinha de lado para um Changbin que não quer descer. Changbin ergue o rosto e entende o recado silencioso do melhor amigo — é hora de entrar. Changbin escorrega para fora do bagageiro carregando a mochila com seus pertences, agora sem os doces que levou na manhã anterior. Ele respira aquele ar denso da noite e Jisung ainda está lá, esperando ele entrar em casa.

— Eu devia ter dito que ficaria na sua casa até amanhã. — Changbin choraminga, segurando nas alças da mochila que está em suas costas. Jisung sorri e ajusta os óculos que escorrega pelo nariz.

— Você não pode fugir para sempre, Bin. — Ele diz com um sorriso complacente no rosto. Changbin murcha os ombros e vai até o amigo para ganhar um último abraço antes de entrar em casa. Jisung desce rapidinho da bicicleta e acolhe um Changbin muito desanimado nos braços, apertando ele até escutar o menino resmungar que está sendo sufocado. — Você vai ficar bem. É só o primeiro amor, não vai te matar.

— E se me matar?

— Não seja dramático, Binie. — Ele o repreende ainda sorrindo, antes de afastá-lo um pouco e aperta ambas bochechas com as mãos pequenas. — Não é o fim do mundo amar alguém, mesmo que seja do mesmo gênero e mesmo que seja nessa bosta de país preconceituoso, entendeu? Você tem eu, Lino e o Hyunie para te apoiar. Seja forte.

Changbin balança a cabeça, porque mesmo que ele ache que nunca irá ser recíproco e que isso vai deixar seu coração em migalhas, ele não quer que Jisung perca tempo com ele. É tarde e é domingo, eles deveriam estar dormindo. De todo jeito, Changbin novamente o abraça sem dizer nada, ciente que teria todo apoio e amor do mundo por parte daqueles três garotos, e decidido, ele vira as costas e entra em casa. Dentro da residência, tudo está quieto, ele vai até a cozinha apenas para checar que realmente não tinha ninguém lá, após a confirmação, ele sobe sem fazer muito barulho pela escada e entra no quarto. E tudo que ele vê é seu beliche vazio.

Chan não está lá. Nem ele e nem suas roupas no guarda roupa. Changbin deixa a mochila que carrega cair no chão e um sentimento estranho invade seu peito. Ele foi embora? Ele começa a procurar qualquer vestígio do estrangeiro pelo quarto, nem seus sapatos estão lá, muito menos seus livros. A bagunça costumeira de Chan atrás da porta também não está mais lá. Changbin sai do quarto e olha para o corredor, do início ao fim, o coração martelando no peito e os ouvidos zunindo. O que aconteceu? Changbin pensa na única opção lógica. Devagar, ele caminha até o quarto que, até uns anos atrás, era usado como escritório por seu pai, um lugar que sua mãe evitava entrar por não querer lembrar de quem aquele ambiente pertencia. Ele encara a maçaneta da porta e respira fundo, tentando controlar o coração traíra que parecia berrar as paredes seu medo de ter sido deixado para trás sem explicação.

Changbin abre a porta, apenas uma pequena fresta, e se depara com uma cama de solteiro e lençóis bagunçados em cima. Não havia ninguém lá, porém as malas de Chan estão jogadas no chão próxima a cama e todo o — antigo — escritório havia se tornado apenas um cômodo quase vazio com uma cama de solteiro e nada mais. Changbin abre completamente a porta ao ver que estava seguro e encara as paredes mórbidas e escuras, ele lembra das prateleira, lembra das estantes e a mesa espaçosa que seu pai estava sempre sentado atrás, ele podia ver os quadros nas paredes e lembra de ver Yongjin se escondendo neste quarto por não querer discutir com Miyan. Ele quase consegue ver e tocar as lembranças de tão vívidas e frescas que elas estão na sua mente.

Meu Inquilino Australiano | binchanOnde histórias criam vida. Descubra agora