" Cause I love the way you say good morning
And you take me the way I am"//
O aroma inconfundível de café recém-passado e o suave tilintar de xícaras compunham o cenário familiar da pequena cafeteria que Agatha frequentava religiosamente todas as manhãs. O lugar, embora modesto, exalava uma atmosfera de refinada simplicidade. Paredes de tijolos aparentes, decoradas com fotografias em preto e branco de cenas urbanas, contrastavam harmoniosamente com as mesas de madeira escura, polidas pelo uso constante. A luz suave que entrava pelas amplas janelas criava um ambiente acolhedor, onde o murmúrio das conversas baixas e o sussurro das máquinas de café ofereciam uma espécie de alívio para quem buscava, por alguns instantes, escapar do caos do lado de fora.
Agatha entrou no local com passos firmes e calculados, seus saltos ecoando pelo chão de madeira. Sua postura ereta e o semblante impassível refletiam a mesma disciplina que aplicava em cada aspecto de sua vida. Usava uma camisa social impecavelmente branca, combinada com uma calça de alfaiataria cinza-escura, e levava nos braços uma pasta de couro preto, um símbolo silencioso de sua autoridade e de seu sucesso no mundo jurídico. Todos no local já a conheciam – era uma presença constante, quase como parte da mobília.
Assim que atravessou a porta, seus olhos foram direto ao balcão, onde Wanda, sua melhor amiga, já a esperava com um sorriso nos lábios. Wanda, com seus cabelos sempre presos em um coque desleixado, irradiava uma energia contagiante que contrastava com a seriedade de Agatha. A mulher, de feições suaves e sempre atenta aos clientes, parecia viver em uma constante efervescência, o que a tornava a alma do lugar.
"Oi Aggie. Pontual como sempre" brincou Wanda, enquanto terminava de servir um cliente. "Um dia você vai chegar cinco minutos atrasada e eu vou achar que o mundo acabou."
Agatha esboçou um sorriso discreto, um raro gesto de leveza que só exibia na presença de Wanda.
"E se isso acontecer, pode ter certeza que algo muito errado aconteceu" respondeu, deixando a pasta sobre o balcão.
Wanda riu enquanto já preparava o pedido habitual de Agatha: um café expresso forte, sem açúcar.
"Devo começar a me preocupar quando você mudar de pedido também?" Wanda continuou, virando-se para pegar a xícara.
"Absolutamente. Até lá, mantenha tudo como está" respondeu Agatha, com um tom brincalhão, mas carregado de uma verdade subjacente. Ela não gostava de mudanças.
Enquanto esperava, Agatha deixou-se perder por um momento nos pensamentos sobre o dia que teria pela frente. Reuniões, casos complicados, decisões que não permitiam falhas. Sua vida era pautada pela previsibilidade e pelo controle, e assim ela preferia. Nada podia fugir ao seu rigoroso planejamento. Nada.
"Aqui está. E boa sorte com aquele caso hoje."
Assim que Wanda deslizou o pequeno copo com o expresso até ela, Agatha o pegou e sorriu para Wanda, agradecendo. Mas no momento em que Agatha se virou, ela sentiu um impacto pesado em seu corpo, algo que fez todo o seu expresso se espalhar por sua camisa branca.
"Merda. Eu sinto muito!" uma voz feminina soou, apressada e carregada de genuína surpresa. A mulher que havia colidido com Agatha estava diante dela, segurando um copo de café que agora estava parcialmente vazio também. Era evidente que ela havia esbarrado por descuido, mas isso em nada aliviava a irritação que Agatha sentia naquele momento.
Agatha deu um passo à frente, seu olhar fixo e cortante sobre a desconhecida. A camisa branca, agora tingida de marrom escuro, parecia o menor de seus problemas comparado ao sentimento de desordem que aquela situação representava.
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Echoes Impermanentae - Agathario
RomanceAgatha, uma advogada brilhante e impenetrável, vive cercada pela ordem e pelo controle que construiu em sua vida. Um encontro inesperado com Rio, uma fotógrafa impulsiva e enigmática, desperta nela sentimentos há muito reprimidos. À medida que os ca...