"I'm gonna love you every night like it's the last night"
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A manhã no hospital era sempre a mesma: o som dos passos apressados dos enfermeiros pelos corredores, o barulho constante das máquinas e monitores cardíacos e a luz fria e pálida do sol entrando pelas persianas parcialmente fechadas. Mas, naquele dia, tudo parecia ainda mais cinza para Rio. Ela acordou com um peso em seu peito que não se limitava apenas à sua condição física. Era um cansaço existencial, um esgotamento que a consumia de dentro para fora.
Os primeiros minutos do dia eram sempre os mais difíceis. O pulmão queimando, a tosse rasgando sua garganta, como se cada respiração fosse um esforço monumental. Ela se sentou na cama, ofegante, tentando estabilizar a respiração, mas a sensação de sufocamento não passava. A tosse veio novamente, um som seco e doloroso que ecoou pelo quarto, enquanto gotas de suor se formavam em sua testa.
Alice entrou no quarto naquele exato momento, como fazia todas as manhãs. O olhar atencioso e preocupado da enfermeira se suavizou ao ver Rio naquele estado. Alice era paciente, sempre havia sido. Conhecia Rio há tempo suficiente para saber quando ela estava tendo um dia ruim, e hoje era um daqueles dias. Ela se aproximou, com um sorriso suave, tentando trazer algum conforto para a atmosfera pesada.
"Bom dia, Rio. Trouxe seus remédios" disse Alice, colocando a bandeja com os comprimidos sobre a mesa de cabeceira. "Como você está se sentindo hoje?"
Rio levantou o olhar lentamente, seus olhos estavam opacos, sem o brilho usual. Ela suspirou profundamente, quase como se estivesse exalando todo o seu cansaço.
"Como você acha que eu estou me sentindo, Alice?" respondeu com uma voz baixa e rouca. Não havia raiva em suas palavras, apenas uma profunda exaustão. "Estou cansada. Cansada de acordar todos os dias e fazer tudo isso de novo. Cansada de sentir essa dor toda vez que respiro."
Alice se aproximou, o olhar cheio de compreensão. Ela sabia que Rio tinha suas fases, seus altos e baixos. E quando estavam nos baixos, era um abismo profundo e escuro.
"Eu sei que não é fácil, Rio." começou Alice, sua voz suave e maternal. "Mas você é forte. Você sempre foi."
Rio soltou uma risada amarga, um som seco que saiu como um espasmo de sua garganta.
"Forte?" Repetiu ela, a palavra parecendo um veneno em seus lábios. "Eu não sou forte, Alice. Eu estou morrendo. E você sabe disso. Todos aqui sabem. Então por que continuar fingindo?"
Alice sentiu um aperto no peito. Sabia que, para Rio, admitir isso era como perder uma batalha que ela vinha lutando por anos. Ela se sentou ao lado da cama, tentando alcançar a mão de Rio, mas a garota recuou, fechando o rosto em uma expressão de dor.
"Não me toca." Murmurou Rio, desviando o olhar. "Eu só quero ficar sozinha."
O silêncio entre elas era quase palpável, carregado de uma tristeza sufocante. Alice sabia que não era pessoal. Rio sempre se afastava quando estava em um dos seus piores dias, quando a realidade parecia esmagá-la com seu peso insuportável. Mas, mesmo sabendo disso, era difícil ouvir aquelas palavras. Ver alguém que ela cuidava há tanto tempo se afundar no desespero e não poder fazer nada para aliviar sua dor era como uma punhalada no coração.
"Eu só quero que isso acabe logo." Continuou Rio, a voz falhando levemente. "Estou cansada de lutar, de tomar esses remédios que não servem para nada, de tentar fingir que vai ficar tudo bem. Porque não vai. Nunca vai."
Alice sentiu os olhos se encherem de lágrimas, mas ela respirou fundo, controlando-se. Precisava ser forte por Rio, mesmo quando ela mesma sentia que estava prestes a desmoronar.
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Echoes Impermanentae - Agathario
Roman d'amourAgatha, uma advogada brilhante e impenetrável, vive cercada pela ordem e pelo controle que construiu em sua vida. Um encontro inesperado com Rio, uma fotógrafa impulsiva e enigmática, desperta nela sentimentos há muito reprimidos. À medida que os ca...