Duodecim

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"Seems like it was yesterday when I saw your face
You told me how proud you were but I walked away
If only I knew what I know today"

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Fibrose cística.

Morrendo.

Ela está morrendo.

As palavras de Wanda ecoavam na mente de Agatha em um loop incessante, um mantra cruel que se recusava a se dissipar.

Ela está morrendo.

Essa frase martelava em sua mente como um sino de desespero, pesado e implacável. Dirigindo pelas ruas ainda iluminadas pelas últimas luzes do dia, ela não via os semáforos, os outros carros, nem mesmo os pedestres que cruzavam as faixas de pedestre com pressa. Tudo ao seu redor era um borrão indistinto. Ela estava no piloto automático, seus reflexos agindo por ela enquanto sua mente se afogava na maré de pensamentos e temores.

Quando finalmente estacionou na frente do prédio, a inércia a segurou no lugar. Ela não desceu do carro; em vez disso, manteve as mãos no volante, os dedos tremendo levemente. O som do motor ainda vibrava suavemente, preenchendo o silêncio de forma sufocante. Agatha sentiu um aperto no peito que se intensificava a cada respiração. Sua cabeça tombou para frente até encostar-se no volante, e as primeiras lágrimas escaparam de seus olhos antes mesmo de perceber que estava chorando.

O que significava aquilo? Por que ninguém havia dito nada? E, pior, por que Rio não havia dito nada? A traição mesclava-se com a tristeza em um redemoinho de emoções que se chocavam violentamente. Sentia-se pequena, impotente diante da magnitude de tudo o que acabara de descobrir. E então, em um ímpeto de desespero, ela fez algo que nunca pensou que faria: pegou o celular com dedos hesitantes e discou o número de Lilia.

O telefone chamou apenas duas vezes antes que a voz firme de Lilia preenchesse a linha. "Agatha? Aconteceu alguma coisa?"

Por um momento, o silêncio foi tudo que Agatha pôde oferecer em resposta. Sua garganta parecia fechada, o nó era tão grande que apenas a tentativa de falar fazia sua respiração falhar. Lilia repetiu seu nome, desta vez com um toque de preocupação que beirava a urgência. "Agatha, o que..."

"Rio tem fibrose cística", as palavras finalmente saíram, entrecortadas e trêmulas. O peso delas fez com que um novo soluço rasgasse sua voz.

Houve uma pausa do outro lado da linha. Lilia, por mais experiente que fosse, precisava de um instante para digerir a informação. Mas a pausa foi breve, e sua voz voltou com a firmeza de sempre, suavizada por uma compaixão tangível. "Agatha, me conte o que aconteceu."

Agatha inspirou profundamente, tentando reunir qualquer resquício de controle sobre si mesma. "Foi no jantar... Eu... Ela teve uma crise, eu a levei pro hospital...eu sabia que algo estava errado, mas não que era isso." Ela mordeu o lábio, os soluços agora se tornando um fluxo constante de lágrimas. "Eu fugi, Lilia. Eu simplesmente saí de lá. Eu não consegui... não sabia o que fazer."

O silêncio de Lilia era acolhedor e, ao mesmo tempo, cortante. Quando ela falou, sua voz foi baixa, mas assertiva. "Escute, Agatha. Você precisa parar e pensar. Isso não é o momento para fugir. Você tem que estar lá por ela. Mais do que nunca."

"Mas como?" A dor na voz de Agatha era palpável. "Eu nem a conheço de verdade, não o suficiente para lidar com isso. Eu... eu me sinto enganada, Lilia. Ela nunca me disse nada. Como posso ficar ao lado dela quando nem sei se consigo lidar com isso?"

Houve uma pausa em que Agatha ouviu a respiração de Lilia, como se a amiga estivesse ponderando as palavras certas a serem ditas. Quando Lilia respondeu, sua voz soou mais próxima, como se estivesse sentada ao lado de Agatha no carro. "Agatha, ninguém está preparado para isso. Nem você, nem Rio. Mas ela te deixou entrar na vida dela, mesmo que tenha escondido algo tão importante. E sabe por quê? Porque ela tem medo, Agatha."

Echoes Impermanentae - Agathario Onde histórias criam vida. Descubra agora