Echoes Impermanentae - Agathario

Tres

"Feel the rain on your skin, no one else can feel it for you."

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O final de tarde encontrava Agatha em frente ao espelho, observando-se com uma mistura de incerteza e determinação. O convite para o jantar na casa de Wanda pairava em sua mente desde o dia anterior, despertando nela sensações conflitantes. Era raro ela se permitir essas ocasiões sociais fora do ambiente de trabalho, ainda mais uma onde estaria rodeada por pessoas das quais sabia pouco, exceto, claro, por Wanda. Enquanto prendia o cabelo em um coque elegante, seus dedos hesitaram por um momento, como se o gesto físico refletisse suas dúvidas internas.

Vestia um vestido preto simples, de tecido fluido, o tipo que combinava bem com sua figura esguia e lhe conferia um ar de seriedade sem perder a sofisticação. Agatha sabia que essa escolha era segura — nada ousado demais, mas o suficiente para ser notada, como sempre desejava. Enquanto ajustava o batom vermelho suave nos lábios, soltou um suspiro pesado. Um jantar casual, com amigos de Wanda. Amigos que ela não conhecia, e essa ideia por si só já a deixava ligeiramente desconfortável.

"Por que estou tão hesitante com isso?", murmurou para si mesma, quase como se esperasse que a voz do espelho lhe desse uma resposta. Mas a resposta não veio. No fundo, sabia que parte da apreensão vinha da sensação de que estava entrando em um território que, até então, pertencia apenas a Wanda — uma vida social mais pessoal, mais íntima, além do cotidiano entre cliente e funcionária na cafeteria.

Antes de sair, ainda havia uma tarefa a cumprir. Caminhou até a cozinha, onde Sr. Scratchy, seu coelho de estimação, esperava pacientemente. "Aqui está, meu querido," disse ela, servindo a tigela com a comida de sempre. "Não fique acordado até tarde. Vou tentar não demorar." O coelho mexeu os bigodes, alheio às palavras de Agatha, mas o gesto a fez sorrir. Havia algo reconfortante na previsibilidade de Scratchy, que contrastava com o desconforto que o jantar iminente lhe trazia.

Respirou fundo e, após verificar mais uma vez o vestido e os sapatos, pegou a garrafa de vinho que havia comprado no dia anterior — uma escolha sofisticada, à altura da ocasião, ou assim esperava. Era hora de ir.

Ao chegar na casa de Wanda, Agatha sentiu um leve frio na barriga. A residência de sua amiga irradiava uma atmosfera calorosa, tanto pela luz suave que escapava pelas janelas quanto pelo leve som de risadas vindo do interior. Caminhou até a porta e, antes de tocar a campainha, ajeitou o casaco mais uma vez, como se o simples ato de arrumar as vestes pudesse, de alguma forma, organizar seus pensamentos.

A porta foi aberta por uma mulher alta, de cabelos ruivos, cujos olhos verdes brilharam com curiosidade ao ver Agatha. "Ah, você deve ser Agatha," disse a mulher com um sorriso amigável, estendendo a mão. "Sou Natasha, namorada da Wanda."

Agatha pegou a mão de Natasha e apertou suavemente. "Sim, sou eu. Prazer em conhecê-la," respondeu com seu habitual tom controlado. Então, entregou a garrafa de vinho. "Trouxe isto. Achei que poderia combinar com a ocasião."

Natasha aceitou a garrafa com um sorriso mais amplo. "Wanda mencionou que você tem bom gosto para vinhos. Vou abrir daqui a pouco." O tom de Natasha era casual, mas havia algo nos olhos dela, uma percepção aguda que Agatha notou imediatamente. Natasha parecia uma mulher que via mais do que dizia.

Antes que qualquer outro comentário pudesse ser feito, Wanda surgiu no corredor, com o sorriso familiar que sempre fazia Agatha sentir-se um pouco mais à vontade. "Agatha, que bom que você veio!" disse, aproximando-se para cumprimentá-la com um breve abraço, que Agatha retribuiu com certa cautela, ainda tentando se adaptar à informalidade daquela noite.

"Eu não perderia," respondeu Agatha, tentando parecer tão descontraída quanto Wanda. Seus olhos, no entanto, começaram a percorrer o ambiente, registrando rapidamente os detalhes da casa. As risadas que antes soavam distantes agora vinham de perto, da sala de estar, onde algumas pessoas estavam reunidas. Foi nesse momento que Agatha a viu.