Segundas chances

O encontro

Angustiada, a jovem jogadora entrou no táxi e seguiu a curta distância em direção ao centro. Durante a viagem, teve tempo para pensar novamente sobre um ou outro assunto. A cada metro que se aproximava do seu destino, a expectativa aumentava, algo que ela mal conseguia esconder.

Seu coração pulsava forte, suas bochechas estavam rubras. A viagem parecia durar uma eternidade, mas quando o táxi virou na rua, as borboletas em seu estômago começaram a voar descontroladas. De longe, já conseguia ver Pri parada em frente ao bar.

Era uma visão que deixava Carol sem fôlego. Naquele momento, ela mal conseguia acreditar na sua sorte. O motorista levou o táxi até a porta do bar, e a jogadora se recompôs rapidamente antes de abrir a porta e ver Pri vindo ao seu encontro. Mas mais do que um tímido “Oi”, nenhuma das duas conseguia pronunciar.

Seus olhares se cruzaram novamente, e elas esqueceram tudo ao seu redor, parecendo isolar-se do mundo.

“Você está… maravilhosa”, gaguejou a treinadora.

“Obrigada… você também”

Podemos… entrar?”

“Claro!”

A loira foi à frente para abrir a porta para Carol. Elas escolheram uma mesa pequena em um canto do bar, longe da agitação, e se sentaram uma em frente à outra nas cadeiras. Nenhuma das duas se atrevia a quebrar o silêncio – a atmosfera estava levemente tensa até que Pri finalmente encontrou coragem para iniciar a conversa.

“Ehm, o que você gostaria de beber?”

Ambas estenderam a mão ao mesmo tempo para pegar o cardápio de bebidas, e quando suas mãos se tocaram, um sentimento eletrizante percorreu os corpos de ambas.

“Eu gostaria de um… vinho tinto”

“Eu também gostaria de um”

Elas pediram as bebidas para a garçonete e tentaram encontrar um assunto para conversar, mas nenhuma delas tinha coragem de dar o primeiro passo até que a treinadora reuniu toda a sua coragem para quebrar o gelo de vez.

“Estou… realmente feliz que isso tenha dado certo e que talvez…”

“Possamos encontrar uma boa e pessoal conexão fora dos treinos?”

“Esse era o plano, sim… não precisamos falar apenas sobre vôlei, a menos que você queira. O que te deixar confortável”

“Na verdade não é da minha conta, mas por que você precisou encerrar sua carreira ?”

“Por causa de lesões… meu joelho ficou tão danificado após uma queda durante um jogo que me disseram diretamente que vôlei para mim havia acabado, o que foi um choque e me deixou diante de um futuro incerto. Com o tempo, surgiu a oportunidade de tirar o certificado de treinador e assim o vôlei continuou sendo uma parte grande e importante da minha vida.”

“Sinto muito pelo seu joelho… não sei o que eu faria se tivesse que encerrar minha carreira de repente. A quadra é basicamente tudo o que eu tenho e quem eu sou."

“Eu consigo entender, eu passei exatamente por isso, mas em algum momento percebi que minha vida precisava continuar, mesmo que fosse difícil pendurar meu uniforme.”

“Uau, não sei se conseguiria fazer isso, para ser honesta.”

“Carol, você conseguiria… não tenho dúvidas disso!”

“Todo mundo sempre diz que sou forte, mas… isso não é verdade. Para fora talvez, mas só porque eu preciso. Como me sinto por dentro quase ninguém se importa.”

“Você sabe que não precisa ser forte comigo, certo? Você pode e deve mostrar suas fraquezas – isso é o que te faz humana. Prometa-me que não vai se esconder ou esconder seus sentimentos... eu realmente ficaria feliz se pudéssemos sempre conversar sobre tudo – tanto no trabalho quanto na vida pessoal.”

Carol parecia de repente pensativa e baixou um pouco a cabeça para não precisar olhar nos olhos de Pri.

“Isso… significa muito para mim e eu… obrigada!”

“Você não precisa me agradecer por isso… eu já te disse no nosso primeiro encontro: estou sempre aqui para você e isso não vai mudar, ok?”

Um sorriso tímido começou a se formar nos lábios da jogadora. Fazia muito tempo que ela não se sentia tão à vontade com alguém como estava com Pri. Ela demonstrava uma compreensão imensa, algo que Carol nunca tinha conhecido antes. Para todos, ela sempre foi a atleta de alto rendimento que tinha que funcionar, que não podia mostrar fraqueza, que só era aceita quando alcançava os resultados esperados.

Mas Pri olhava além da fachada da ambiciosa jogadora de vôlei e via apenas a pessoa que já havia passado por muita coisa, que sempre lutou por reconhecimento e amor. A treinadora não podia mudar o passado, mas queria fazer tudo ao seu alcance para que Carol nunca mais precisasse se sentir assim.