Capítulo 07

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Isadora Rizzo Lombardi

Os últimos dias foram um turbilhão. Desde que contei para o Arthur sobre o Lucas, minha vida virou de cabeça para baixo. Era como se tudo que eu tinha construído para proteger o meu filho de um passado complicado estivesse desmoronando, peça por peça. Mas ao mesmo tempo, sentia uma estranha sensação de alívio por finalmente ter revelado a verdade. Ele tinha o direito de saber. Lucas tinha o direito de saber quem era seu pai. E agora que tudo estava exposto, eu só conseguia pensar no que viria a seguir.

Enquanto levava algumas frutas para a mesa para o café da manhã, a lembrança do dia em que contei tudo ao Arthur me invadiu de novo. Aquela expressão de choque, os olhos arregalados, a forma como ele me olhou, quase como se estivesse vendo alguém que não conhecia. E depois, a suavidade em sua voz quando falou com Lucas. Eu tinha ficado entre o medo e a esperança, uma corda bamba emocional que ameaçava me fazer cair a qualquer momento. Lembrei de como ele confessou seus sentimentos do passado.

"Será que ele realmente vai ficar?", pensei pela centésima vez. Arthur disse que queria estar presente, mas eu sabia que a decisão de ser um pai presente não seria fácil para ele. A carreira dele, os shows, a exposição constante nas redes sociais... Isso tudo me dava arrepios. Eu não queria que meu filho fosse parte daquele mundo tão invasivo. Mas, ao mesmo tempo, não poderia negar a ele a chance de conhecer o pai.

Lucas entrou correndo na cozinha, trazendo consigo aquela energia típica das crianças. Ele me abraçou pelas pernas, me surpreendendo, e eu quase deixei o prato cair na pia. Ele sorriu, aquele sorriso tão puro que me fazia esquecer de todos os problemas, mesmo que por um instante.

— Mamãe, posso brincar no parquinho hoje?

Sorri, me abaixando para ficar na altura dele. — Claro que pode, meu amor. Mas antes, precisa tomar café da manhã direitinho e depois da escola vamos, tá? - dei um beijo em seu nariz.

-Mamãe, mais vai demorar - fez um bico lindo.

-Se quiser ir no parquinho, vamos para a escola. - apertei seu nariz, uma das poucas coisas que se parece comigo.

-Mais eu tenho que ir para a escola, ficar com a tia Rosa e aí vamos no parte?

-Isso mesmo, vamos ao parque quando a mamãe chegar da clínica, combinado? - perguntei e ele concordou. - Agora, vai tomar café para não nos atrasar.

Ele assentiu e correu para a mesa, onde eu já tinha organizado seu café. Enquanto eu comia, tentei não pensar em como seria o futuro dele, agora que Arthur estava tão perto.

{...}

O consultório estava tranquilo naquele dia, mas a minha mente não parava. Enquanto passava os olhos sobre os exames da paciente que aguardava na sala ao lado, os pensamentos sobre Arthur e Lucas continuavam a me assombrar.

Respirei fundo, ajustei o jaleco e me dirigi à sala de atendimento. A senhora à minha frente era a Dona Célia, uma paciente antiga, já nos seus 70 e poucos anos. Ela sempre vinha para consultas de rotina, preocupada com a pressão e o coração. Sorria de forma calorosa, como se cada visita ao médico fosse um evento social.

— Bom dia, Dona Célia. — Ajeitei os papéis e sorri para ela. — Como está se sentindo?

Ela ajeitou os óculos e sorriu de volta, um sorriso que tinha um toque de malícia. — Ah, minha filha, estou bem, mas aquele coração já não é mais o mesmo, né? Quando a gente chega na minha idade, precisa cuidar melhor ainda. E o seu, como anda? — Ela piscou, sempre querendo saber um pouco mais da minha vida pessoal.

Ri de leve, pegando o estetoscópio para iniciar o exame. — O meu coração está... um pouco confuso, Dona Célia. Mas isso não importa agora. Vamos falar do seu. Sentiu alguma coisa diferente desde a última consulta?

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