Isadora Rizzo LombardiO resto do dia no consultório passou em um borrão. Eu atendia os pacientes, mas a minha mente insistia em voltar para a ideia de Arthur e Lucas juntos no campo de futebol. Havia uma inquietação constante no fundo do meu peito, uma mistura de ansiedade e expectativa, como se meu corpo soubesse que estava prestes a cruzar um limiar importante. Respirei fundo diversas vezes, tentando me acalmar, mas a ansiedade parecia se recusar a me deixar em paz.
Finalmente, quando deu a hora de ir para casa, fiz questão de organizar tudo rapidamente no consultório. Recolhi alguns papéis, avisei à recepcionista que estava indo embora, e saí quase correndo em direção ao carro. Enquanto dirigia, minha mente estava cheia de perguntas que não me davam sossego. Como seria esse encontro entre os dois? Arthur estaria à altura da situação? E se Lucas não se sentisse à vontade?
Assim que cheguei em casa, Lucas já estava com seu uniforme de escola amarrotado, mas o rosto iluminado pelo sorriso. Ele estava tão empolgado para ir ao parquinho que quase não notou o fato de que eu estava visivelmente mais nervosa que o habitual. Tentava disfarçar, mas ele era esperto demais para ser enganado.
— Mamãe, a gente vai agora? — perguntou, segurando meu braço com a ansiedade típica das crianças.
Eu me abaixei para olhar nos seus olhos e passei a mão no seu cabelo bagunçado. — Vamos sim, meu amor. - nesse meio tempo da clínica até em casa pensei e decidi não contar ao Lucas que o Arthur também vai estar junto com a gente nesse finalzinho de tarde. - Mas pega a sua bola de futebol. A gente vai pro campinho hoje.
Ele abriu um sorriso ainda maior e correu em direção ao quarto, voltando rapidamente com sua bola debaixo do braço. Aquele brilho nos olhos dele era contagiante, e por um momento consegui esquecer meu nervosismo, focando apenas na alegria que ele sentia por algo tão simples quanto uma tarde jogando bola. Caminhamos juntos até o campinho do condomínio, que, àquela hora, estava praticamente vazio. O sol começava a se pôr, e a luz dourada deixava tudo com uma aura suave.
Assim que chegamos, Lucas já estava correndo para o meio do campo, chutando a bola para si mesmo e me chamando para brincar com ele. Tirei os sapatos e entrei na brincadeira, tentando ser uma goleira à altura das expectativas dele, que corria de um lado para o outro com uma energia inesgotável.
Por alguns minutos, nos perdemos na brincadeira. Eu tentava me concentrar no momento, nas risadas de Lucas, e não pensar no que poderia acontecer quando Arthur chegasse. Mas, entre um chute e outro, não percebi quando ele se aproximou, ficando parado na lateral do campo, observando a cena com um sorriso discreto no rosto.
— Parece que você está perdendo de lavada, Isa, — ele comentou de repente, a voz baixa e divertida, me pegando de surpresa.
Virei rapidamente em sua direção, quase tropeçando ao me virar tão rápido, e meu coração disparou por um segundo. Não esperava vê-lo ali tão de repente, com aquele sorriso contido que me lembrava de tantas coisas. Respirei fundo, tentando recompor meus pensamentos.
— Ah, é? Então por que você não vem ajudar a defender? — desafiei, tentando manter o tom leve, mesmo que a tensão ainda estivesse presente.
Lucas, que até então estava focado em correr atrás da bola, finalmente percebeu que não estávamos mais sozinhos. Ele olhou para Arthur, curioso, e depois para mim, sem entender muito bem a dinâmica que se desenrolava.
Arthur sorriu para ele, mas dessa vez não fez qualquer movimento brusco. Apenas ficou ali, esperando para ver como Lucas reagiria à sua presença. Eu percebia a hesitação dele, o cuidado em não forçar nenhuma situação, e isso de certa forma aliviava um pouco da minha própria tensão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Notas do Destino
RomanceIsadora, uma jovem médica recém-formada em Campo Grande, vive uma rotina intensa equilibrando sua carreira e a criação de seu filho, Lucas, de quatro anos. Anos atrás, quando ainda era estudante de medicina, ela viveu um romance apaixonado com Arthu...