Capítulo 02

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Isadora Rizzo Lombardi

Vocês já tiveram aquela sensação de que a vida está prestes a sair dos trilhos? Não sei explicar direito, mas foi exatamente assim que me senti naquele dia, quando ouvi o nome do Arthur no rádio. De repente, parecia que todas as decisões que tomei até aqui estavam prestes a ser testadas.

O primeiro pensamento que tive foi: eu preciso manter distância e confesso, pensei em até em tirar uma folga e ir passar uns dias na casa da madrinha do Lucas, minha melhor amiga, na cidade em que ela mora.

Parece drástico, eu sei, mas depois de todos esses anos, seria uma loucura ele voltar e, de alguma forma, descobrir sobre Lucas. Meu filho. Nosso filho. E tentar tirar ele de mim, eu estive com ele todos esses anos, eu cuidei dele quando ele esteve doente, eu fiz isso tudo sozinha! Só de pensar nisso, eu sentia um nó na garganta.

Durante todo o mês que antecedeu o show, Campo Grande se transformou. Era como se todos só falassem disso: "Arthur Mendes isso", "Arthur Mendes aquilo". Meu feed nas redes sociais estava lotado de propagandas, amigos empolgados com os ingressos, vídeos dele cantando, entrevistas... Era um bombardeio de memórias que eu me forcei a enterrar. Por sorte, Lucas ainda era muito pequeno para entender qualquer coisa, e eu fazia de tudo para evitar que a voz do pai dele entrasse pela porta da nossa casa, mesmo que fosse através da música.

Meus pais, como sempre, foram incríveis. Eles perceberam que eu estava mais inquieta, mais distraída do que o normal, mas não perguntaram diretamente. Minha mãe sabia que, se quisesse conversar, eu o faria. E meu pai... bem, ele sempre foi mais reservado. Acho que, para ele, o importante é que eu e Lucas estávamos bem.

Mas, se por um lado eu tentava manter a calma, por dentro eu estava à beira de um colapso. Cada plantão parecia mais longo, cada atendimento na clínica mais exaustivo. Eu me pegava olhando para o relógio a cada cinco minutos, esperando o fim do expediente, torcendo para que o mês passasse rápido. Mas o mês parecia estar se arrastado.

E foi numa tarde, algumas semanas antes do show, que as coisas começaram a desmoronar.

Estava voltando para casa depois de um plantão. Lucas estava na casa dos meus pais, porque eu sabia que não conseguiria cuidar dele depois de 24 horas de trabalho. Minha cabeça estava latejando de cansaço, e tudo o que eu queria era deitar no sofá e ficar lá até o mundo parar de girar. Só que, assim que estacionei o carro na garagem, vi algo que me fez parar no meio do caminho.

Uma camionete preta, uma RAM , estava parado em frente à casa dos meus pais. E, encostado nele, lá estava ele. Arthur.

Não sei por quanto tempo fiquei ali, sem conseguir me mover. Ele não me viu, pelo menos não naquele momento. Estava distraído, olhando para a entrada da casa, com a mesma expressão de anos atrás, quando me disse que voltaria para recomeçar. Só que agora as coisas eram bem mais complicadas.

Entrei em casa às pressas, antes que ele pudesse me ver, e me joguei no sofá. O coração batia tão rápido que achei que ia desmaiar. Tentei pensar racionalmente, mas a única coisa que passava pela minha cabeça era: Ele vai descobrir e tentar tirar meu filho de mim!

Como eu iria explicar tudo? Como contar que ele tinha um filho de quase cinco anos que nunca conheceu? Como justificar o fato de ter escondido isso por tanto tempo? E, mais importante ainda, como proteger João Lucas de toda essa confusão?

Entrei correndo pela porta da minha casa e joguei a bolsa no chão. Minhas mãos tremiam um pouco, mas tentei manter a calma. Peguei o celular e disquei para a Camila. Depois de alguns segundos, ela atendeu com a voz sempre animada, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, eu comecei.

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