Capítulo 03

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Arthur Mendes Ribeiro

Voltar para Campo Grande trazia uma mistura de sentimentos que eu não esperava. Era como se, de alguma forma, tudo aqui tivesse congelado no tempo, enquanto minha vida corria a mil por hora nos últimos anos. Tanta coisa mudou desde que saí da cidade para perseguir meus sonhos, mas, ao mesmo tempo, parecia que nada aqui tinha realmente mudado. As mesmas ruas, os mesmos rostos... e as mesmas lembranças.

Eu sempre soube que queria ser cantor. Desde pequeno, o violão era mais que um hobby; era como eu me expressava, a única maneira que eu tinha de dar voz ao que sentia. A música me deu tudo — sucesso, dinheiro, reconhecimento, mais me tirou o principal, o amor de Isadora. Eu conquistei o que muitos sonham, mas isso não veio sem um preço. Quanto mais alto eu subia, mais distante me tornava de quem eu era antes, de onde eu vim e das pessoas que realmente importavam.

A Isa foi uma dessas pessoas. Às vezes, acho que foi a única pessoa que realmente me conheceu, antes de tudo isso. Nos encontramos na época em que minha carreira ainda estava no começo. Época em que eu cantava em bares e sonhava em encher arenas, mas não sabia o que isso significava de verdade. A gente viveu um romance intenso, daqueles que acontecem quando você é jovem e acha que o mundo é pequeno demais para conter tudo que sente. Mas, com o tempo, a carreira foi me engolindo. As viagens, os shows, as gravações... Eu deixei tudo isso afastar a gente.

Às vezes me pergunto o que teria acontecido se eu tivesse tentado mais, se eu não tivesse deixado a Isa escapar. A verdade é que eu me arrependo, me arrependo de não ter lutado por nós dois. Quando terminei com ela, não foi porque eu não a amava — era o contrário. Eu a amava tanto que achei que a distância e a vida que eu estava começando não eram justas com ela. Achei que estava protegendo a Isa de um futuro incerto ao meu lado. Agora, olhando para trás, percebo que talvez tenha sido só uma desculpa. Eu não queria enfrentar o que aquilo significava.

E aqui estou eu de novo, de volta a Campo Grande. Só que agora como alguém que todo mundo conhece, ou pensa que conhece. Estou gravando um DVD especial aqui, tentando reconectar com minhas raízes, com o cara que eu era antes de me tornar "Arthur, o astro", como muitos me chamam. Mas a verdade é que, em algum lugar profundo, estou mesmo é tentando me reconectar com a Isa. Desde que voltei, só consigo pensar nela. Sempre imaginei como ela estava, o que andava fazendo, se tinha seguido com a vida ou se, de alguma forma, ainda pensava em mim.

Dias desses, pensei em segui-la no Instagram. Achei que poderia ser uma forma de quebrar o gelo, começar uma conversa, uma reaproximação. O problema é que o perfil dela é fechado. Porra, o perfil fechado. Sabe, eu poderia ter simplesmente pedido para seguir. Poderia ter mandado uma mensagem dizendo "Oi, como você está? Faz tempo, hein?" Mas eu não consegui. Fiquei ali, parado, olhando aquela tela, aquele botão de "seguir", como se aquilo fosse um passo impossível de dar. De vez em quando, me pego imaginando como seria criar um perfil fake, só para poder ver o que ela anda postando, para tentar entender como ela está sem que ela saiba que eu estou ali. Mas nunca fiz. E, no fundo, sei que não faria. Isso não seria justo, nem com ela, nem comigo.

Eu me pergunto o que ela pensa de mim agora. Será que sou só uma lembrança ruim do passado? Será que me culpa por ter terminado? Eu sei que, se fosse o contrário, eu me culparia. Sei que fiz merda. Sempre me pergunto: e se eu tivesse tentado mais? Se tivesse encontrado uma maneira de conciliar a vida de músico com a nossa relação? Talvez estivéssemos juntos ainda. Talvez eu estivesse ao lado dela agora, em vez de ficar aqui me remoendo por uma escolha que fiz anos atrás.

Mas o que me deixa acordado à noite, mais do que qualquer outra coisa, é o medo de que seja tarde demais. O medo de que, mesmo que eu tente agora, ela já tenha seguido em frente, construído uma vida que não me inclui mais. Esse pensamento me assombra toda vez que penso em tentar reconectar.

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