RAIVA

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"Olá, senhor Winchester, você..." Miriam, a babá, se cala, Dean não fala uma única palavra para a jovem, apenas entrega a ela um bolo de dinheiro e se senta na cama com o rosto entre as mãos.

A babá parece entender a dica, pois em menos de um minuto a porta abre e fecha e então Dean está finalmente sozinho com apenas um bebê como testemunha de suas emoções.

Era quase como a última vez, Cass voltou e se foi, mas diferente da última vez em que o anjo não tinha escolha, ele foi embora por vontade própria agora. Preferindo caminhar por todo estado ao invés de aceitar qualquer ajuda de Dean.

Foi um impulso, é sério, ele não queria ter feito aquilo, não foi por mal, mas Dean pegou a cadeira mais próxima que achou e jogou ela contra a parede, fazendo com que várias lascas de madeira se espalhassem pelo chão e voassem pelos ares. Jack chorou aterrorizado com o barulho e Dean se arrependeu de suas ações imediatamente.

"Jack?" O garoto estava encolhido no chão onde estava brincando com uma caixa de biscoitos vazia, ele tinha lagrimas em seus olhinhos azuis e usava as mãos para cobrir os ouvidos. Seu corpinho tremia inteiro, tanto por medo quanto por seus soluços. Jack estava com medo, o menino que havia enfrentado Deus e o Diabo, estava com medo, medo de Dean...

"Me desculpa..." sussurrou com medo até de elevar a voz e assustar ainda mais o garoto. "Eu sinto muito..."

Ele não tentou se aproximar até Jack parar de tremer e adormecer, Dean não gostaria de traumatizar o bebê forçando uma proximidade indesejada.

Assim que Jack estava dormindo tranquilamente na cama, Dean saiu para a sacada do quarto e se apoiou na grande para tomar um ar, se acalmar, tentar não pensar muito sobre o quanto de seu temperamento horrível foi culpa de Cass ir embora e culpa de Jack agora estar com medo dele.

Era quase meia-noite quando seu telefone tocou e tirou seus pensamentos depreciativos de sua mente.

- Alô – Atendeu sem ver a quem pertencia à ligação.

- Como vai o caso? - Dean revira os olhos, era seu pai, ele nem se lembrava que o homem havia mandado ele para um caso.

"Eu estou bem, obrigado por perguntar, de qualquer forma, não pude ir para Connecticut ainda." Silencio do outro lado, Dean prende a respiração, ele não devia ter dito isso.

- Por quê? É a única palavra que John diz.

Dean se afasta da grande da sacada, assumindo a posição mais ereta e a cabeça erguida antes de responder.

"Eu tive alguns problemas para resolver, nada de mais apenas..." Ele se impede de continuar, John ficaria louco se soubesse que Dean estava caçando não uma, mas um convento inteiro, de bruxas.

- Apenas o que, Dean? Pare de hesitar, não te criei assim, garoto!–

"Desculpe, senhor." Sai automaticamente e deixa um gosto amargo em sua língua, Dean odiava como seu corpo parecia programado a seguir o tom de voz do seu pai.

- E então? O que estava caçando? – Perguntou começando a soar impaciente.

"Só um fantasma assombrando um hospital abandonado, pai, eu estava por perto e..."

- Apenas pare de se distrair e vá para Connecticut, eu não pediria para você ir se não fosse urgente! – Dean morde os lábios para não responder de forma petulante, sim, às vezes eram urgentes, mas outras vezes eram apenas contatos que John fez e que precisavam de um caçador que pudesse dar atenção para eles, como se John fosse dono de uma empresa e mandasse seu funcionário cuidar dos pequenos inconvenientes em seu nome.

"Sim senhor, me desculpe, senhor." Ele tentou soar sarcástico, mas não teve sucesso, sua voz saiu firme, mas séria, não havia deboche em seu tom, apenas um soldado respondendo ao seu capitão.

O peso do telefone em sua mão é inquietante, olhar a lista de números no seu telefone é inquietante. Há apenas duas pessoas registradas, J.W. para John Winchester e o número desconhecido, nem mesmo o número de Sam estava salvo, tudo porque, depois dos anos 2000, Dean desistiu de tentar se reconectar com seu irmão, Sam deixou muito claro que não queria mais nada com ele.

Eu não quero nada de você.

Ele riu, não havia como não rir, quer dizer, Dean era ridículo! Ele era afastado por seu pai, seu irmão, por sua mãe quando ela estava viva, e agora pela única pessoa que nunca afastou ele.

Você é um assassino, Dean. A voz de Chuck diz, a voz de Deus diz que ele é um assassino e quem é ele para duvidar?

Você é um bom homem, Dean, você merece coisas boas.

"Bom homem, até parece..." Resmunga para si, ele não queria ficar com raiva dos próprios pensamentos, das próprias memórias do que Cass costumava dizer a ele, mas Dean fica, fica bravo por que aquele Cass disse as coisas mais bonitas para ele e depois se foi, o Cass que fez Dean acreditar que era um bom homem apesar do que Deus julgava, esse Castiel se foi, ele não se lembra mais de Dean e pelo que parece nem deseja ter algo a ver com ele. E quem poderia culpar o anjo? Dean foi sua perdição, era o que todos achavam, foi graças ao seu amor por Dean que Castiel morreu...

Já passavam das três horas da madrugada, Dean precisava verificar Jack, mas não queria entrar, ele ainda queria bater, chutar e gritar, queria machucar, porque era apenas isso que ele sabia fazer, machucar as pessoas e a si.

Seu punho colide contra a grade da sacada, é de ferro, mas fica torto depois que Dean bate, isso não o faz se sentir melhor. Se alguma coisa, o faz se sentir pior. Ele bate de novo, e de novo, bate até a maldita grade estar tão torta que parece entulho, mesmo assim nada muda e Dean ainda não se sente melhor.

Apesar de seu estado emocional não mudar, algo muda, mas não tem a ver com ele, mas com Jack. Dentro do quarto Jack começa a chorar, foi provavelmente acordado por Dean e sua raiva irracional, raiva que desaparece para dar espaço a preocupação.

"Jack?" Ele volta para dentro do quarto apenas para não ver o bebê em lugar nenhum em cima da cama, seu coração acelera e sua respiração fica fraca. "Jack? Jack!?"

O garoto não está caído ao lado ou embaixo da cama, também não está à vista pelo quarto, mas o choro dele ainda pode ser ouvido.

"Baby!?" Dean corre para a cozinha e o choro fica mais alto, ele olha embaixo da mesa, dentro dos armários e até dentro da sua bolsa de armas que ele deixou irresponsavelmente largada no chão onde um bebê poderia ter pegado. Ainda assim, não há sinais de Jack, mas o choro continua alto. "Baby? Onde está você, garoto, por favor..."

Algo pinga em sua cabeça algumas vezes antes de Dean se atrever a olhar, ele se abaixa lentamente em direção a sua bolsa e a abre para sacar uma pistola. Suas mãos destravam a trava da pistola e lentamente ele ergue a cabeça para atirar no que quer que tenha invadido e pegado seu filho.

Imaginem sua surpresa quando o suposto monstro, na verdade é apenas um bebê com asas.

"Que porra é essa..."

THE ROAD SO FAR...Onde histórias criam vida. Descubra agora