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Alguns macacos estavam ao redor de Maurice, que folheava um caderno de desenhos que havia dentro da mochila de Alexandre.

- Vamos atacar já! Antes que nos ataquem! - disse Koba, que já havia voltado para a vila.

- Não sabemos quantos humanos há. Quantas armas têm? - respondeu Maurice. - Ou por que vieram para cá? - continuou o orangotango.

No caderno de desenhos de Alexandre, havia uma foto de uma mulher e um desenho da mesma. César observava a foto, ouvindo tudo o que os macacos diziam em silêncio.

Apesar de sua expressão parecer brava, em sua cabeça só se passava uma coisa... ou uma pessoa: Luna. Ele pensava na vovó. Ela parecia a mesma adolescente apaixonada de quando eles eram jovens.

- Atiraram no seu filho, Rocket. Não quer lutar? - perguntou Koba, tirando César de seus pensamentos.

- Eu sigo César. - respondeu Rocket, apontando para o líder.

- Koba está certo! - falou Olhos Azuis pela primeira vez, com sua voz rouca e grossa, mostrando os indícios da puberdade. - Quase mataram você, Ash! - continuou o adolescente, olhando para o amigo. - Se não fosse a humana... poderia ter morrido. - Olhos Azuis concluiu, e os macacos começaram a discutir entre si, causando um alvoroço.

César, que até então estava quieto, apenas ouvindo tudo, gritou:

- Não! - A voz do chimpanzé saiu grossa e rouca como sempre, a mesma voz que causava arrepios em Luna.

O alvoroço finalmente cessou, e os macacos, que antes discutiam entre si, ficaram quietos, olhando para o líder.

- Se formos à guerra, podemos perder tudo que construímos. - falou César em sinais, enquanto todos o observavam atentamente. - Casa... - falou em bom tom. - Família... - disse em um tom mais baixo.

Ele então levou a mão até o rosto de Koba, fazendo-o olhá-lo.

- Futuro... - César sussurrou, olhando para Koba. - Vou decidir pela manhã. - falou César, pondo um ponto final naquele assunto. - Tem outra coisa. É sobre Luna e Liam. Quero que eles fiquem aqui na aldeia. - falou César, e os macacos ficaram agitados.

- São humanos perigosos! - um dos macacos, com pelagem mais clara do que a de César, falou. - Olha o que fizeram com Ash! - disse, apontando para o filho de Rocket, que veio em defesa de Luna.

- Humanos maus fizeram isso. - disse Ash, apontando para o curativo, indicando o tiro. - Humana boa cuidou! Eu estou vivo agora por causa dela. - terminou o adolescente, e Olhos Azuis concordou.

- O humano ajudou. Atirou no humano mau. - falou Olhos Azuis, deixando todos desacreditados com o ato de Liam contra sua própria espécie. - E eu acho que ela pode ajudar a mamãe. - falou o menino, olhando para o pai, esperançoso.

César duvidava muito daquilo... não que ele duvidasse da bondade de Luna. Ele sabia que, desde jovem, a mulher era muito esquentada e de pavio curto. Mas sabia que ela era uma pessoa boa. O que ela fez por Ash, que mal conhecia, e o que fez por ele no passado, demonstrava isso. Mas, conhecendo Luna, sabia como a mulher era ciumenta e possessiva. Era melhor ela ficar longe de Cornélia. Era mais seguro.

- Luna e Liam são diferentes dos outros humanos. - falou César, fazendo todos prestarem atenção nele. - Fui criado com Luna desde filhote até a adolescência. Sei o que falo. - César afirmou, deixando todos surpresos com a informação, até mesmo seu filho. - Eles são mutantes. - terminou sua fala.

- Mutantes? - perguntou Koba, confuso.

- Metade humano, metade macaco. - disse César, dando de ombros. - Se quiserem ver, os trarei amanhã. - continuou, e então todos concordaram e começaram a se espalhar, ficando apenas César e Koba.

- César! - Koba chamou o chimpanzé, que estava de costas para ele. César então se virou para olhá-lo. - Por anos, Koba ficou preso em laboratórios. Humanos me cortaram, me torturaram... César me libertou. Eu faço tudo que pedir, mas temos que mostrar força. - Koba disse, voltando ao assunto do grupo de humanos.

- Vamos mostrar, Koba. - disse César, esticando a mão em direção a Koba, que a pegou.

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Enquanto isso, Luna chegou nas proximidades da vila. Ela viu alguns macacos de vigia ainda no meio das árvores. Ela se misturou com a escuridão e andou até o lado direito do grande muro. Pegou uma pedra média e jogou em uma árvore um pouco distante.

Com o barulho, um gorila camuflado pela escuridão da noite se revelou, indo em direção ao barulho. Ela então, sorrateira e rapidamente, escalou e pulou o muro, entrando na vila.

Ela se esquivava entre as pedras e casas da vila para não ser vista. Parou então em um canto escuro, onde podia ver a vila muito bem.

Ela olhou ao redor, como se procurasse algo. Seus olhos pararam em uma grande árvore, que tinha troncos em suas laterais, parecendo degraus de uma escada em caracol. No topo da árvore, havia uma casa mais elaborada que as outras.

Ela seguiu discretamente até a casa, subindo as escadas sorrateiramente. Ao entrar na casa escura, não encontrou César, a quem procurava para conversar sobre sua conversa com Liam.

Mas encontrou Cornélia deitada na cama, se contorcendo de dor e muito fraca. Luna franziu a sobrancelha e se aproximou da cama.

Ela olhou a expressão de dor da chimpanzé fêmea, e um sorriso sarcástico surgiu em seu rosto. Seus olhos vagaram para um filhote que dormia serenamente ao lado da chimpanzé.

Ela o encarou sem expressão, até dar um pequeno sorriso amoroso. Fez carinho no filhote antes de pegá-lo no colo.

- Você parece com ele. - disse Luna ao filhote, referindo-se a César. Ela então o colocou de volta na cama e olhou para Cornélia, que se contorcia de dor.

- Parto difícil. Muito fraca. Possível infecção e perda de sangue. - disse Luna, olhando a chimpanzé.

Em sua face, uma expressão neutra se fazia presente, até que seus lábios formaram um sorriso malicioso.

- Seria muito fácil te matar agora, sabia? - perguntou Luna, observando as expressões de dor no rosto de Cornélia. - Se eu fizesse do jeito certo, achariam que foi por causas naturais. - disse a mulher, com um sorriso pintado nos lábios.

- Mas não. Vou deixar você viver para presenciar quando César vier até mim. Quando você o perder. - disse, levando a mão ao pescoço da chimpanzé e apertando lentamente, com pouca força.

- E eu sei que ele vai vir até mim. - Luna terminou, tirando a mão do pescoço de Cornélia e se virando para ir embora.

Do mesmo jeito que veio, ela partiu. Na escuridão, sorrateiramente.
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Melaine Martins - Tag, You're It
"Peguei com você, peguei peguei você"

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