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César não sabia o que Luna sentia, o quão devastada e dolorida ela estava. Quanta inveja ela carregava. Uma coisa era ver Cornelius com Cornélia. Ela não se importou e até achou o filhote fofo. Mas vê-lo com César só a fazia pensar...
Era para ser Liam ali. Seu filho cresceu sem a oportunidade de receber carinho, abraço e o colo de seu pai durante a infância. Era para ser seu filho ali. Era para ela estar com César, e não outra.
Por quê? Por que o universo, ou então o destino, ou até mesmo Deus, queria que ela sofresse tanto? Ela havia perdido todos que amava. Teve que criar o filho sozinha.
E agora via o amor de sua vida com outra família. Outros filhos, outra esposa. Ela estava se corroendo de raiva, inveja, ciúmes, tristeza e angústia.
Mas ela suspirou, passou uma das mãos no rosto enquanto a outra segurava a toalha que cobria seu corpo molhado. Olhou para os próprios pés descalços sobre as pedras e depois para a água da cachoeira. E então seus olhos pararam nos olhos verdes de César, os olhos pelos quais era apaixonada.
- Do quê? - perguntou Luna, olhando diretamente para as íris verdes à sua frente. - Do que você precisa? - refez a pergunta enquanto vestia sua roupa, que estava no chão, onde momentos atrás também estava sua toalha.
- Isso é complicado, e talvez, muito provavelmente, você não vá aceitar. Mas, por favor, me ouça primeiro. Estou implorando, não por mim, mas pelos meus filhos - começou César a falar, aproximando-se da mulher.
- César, direto ao ponto - disse Luna, enquanto pegava uma pequena faca e começava a limpar os peixes que havia pegado, peixes esses que César nem havia notado.
- Cornélia, a minha... esposa, está muito doente após dar à luz a Cornelius. Olhos Azuis, meu filho mais velho, veio me implorar para pedir sua ajuda - disse César, e quando Luna terminou de ouvir, acidentalmente cortou a mão com a faca.
César percebeu que ela havia se machucado com a faca, que agora estava no chão suja de sangue, enquanto Luna pressionava o machucado para parar o sangramento. Ele tentou se aproximar dela, mas ela se afastou e esticou a mão ferida na direção dele, em sinal de pare.
- Como pode me pedir uma coisa dessas? - perguntou com a voz embargada. - César! - gritou Luna, angustiada.
- Eu sei que isso não é justo com você, mas, Luna, ela é a mãe dos meus filhos. Meu filho me implorou para eu vir falar com você, com medo de perder a mãe - disse César, tentando se aproximar dela, que se afastava com um olhar incrédulo no rosto.
- Eu sou a mãe do seu filho! - Luna gritou, furiosa. - Por que me fazer passar por isso? Eu vou olhar para ela e saber que te perdi - disse a mulher, com raiva e dor na voz.
- Não vai! - respondeu César, decidido. - Você nunca vai me perder, porque eu nunca parei, nem vou parar, de te amar. Mas eu não estou pedindo isso por mim, e sim por eles - disse, referindo-se aos filhos.
César finalmente conseguiu se aproximar de Luna, sem que ela se afastasse. Ele segurou sua mão ferida e passou a mão pelo corte, que já não sangrava, mas estava manchado com o sangue dela.
- Eu vou pensar nisso, César - disse Luna, já um pouco mais calma, mas sem forças para encará-lo nos olhos.
- Luna... talvez Cornélia não tenha mais tempo... você tem que decidir agora - disse César, olhando para ela, que fechou os olhos com força e mordeu o lábio inferior.
- Por que eu faria isso? - perguntou Luna, ainda de olhos fechados.
- Porque você perdeu o Will. Você já passou por essa dor, sabe como é. Eu não quero que meus filhos passem por isso - disse César, com calma e suavidade, enquanto um olhar sereno se formava em seu rosto.
- Não compare o Will com aquela... - Luna começou a falar com raiva, mas parou antes de xingar Cornélia. - O Will nos adotou. Ele não tinha obrigação, mas fez! Podia ter nos deixado para morrer, mas nos levou para casa, para a família dele. Então não o compare com ela! - disse Luna, friamente e séria.
Luna encarou César sem expressão e deu as costas, começando a caminhar na direção do acampamento dela e de Liam.
- Aonde vai? - perguntou César, confuso.
- Embora! Vou voltar para a cidade com o meu filho - disse Luna, ainda andando.
- Luna, ele também é meu filho - disse César, andando atrás dela.
- Não. Ele é seu filho - falou a mulher, apontando para Cornelius. - Seus filhos são filhos dela - disse, com um olhar frio e amargurado.
- Luna, por favor, pare de ser infantil! - pediu César, parando de segui-la.
Ela se virou na direção dele como um furacão.
- Infantil? É isso que você acha? - perguntou a mulher, começando a rir. Uma risada sem graça.
- Eu vim atrás de você, César. Larguei a minha casa, pus meu filho dentro de um carro. Coloquei meu filho no meio de uma floresta perigosa, onde um urso pode atacá-lo a qualquer momento. E por quê?
- Por que eu queria nós três juntos. Uma família - disse a mulher, ironicamente. - Enquanto você está vivendo feliz com sua família dos sonhos, eu não durmo à noite porque meu filho tem pesadelos... todas as noites.
- Luna... você não me disse sobre isso - começou César a falar, mas foi interrompido.
- E por que eu falaria? Você está ocupado demais pedindo para eu cuidar da mãe dos seus filhos para cuidar do seu primeiro filho - disse Luna, com desprezo na voz.
- Não, eu não estou. Me diga, por que os pesadelos? - perguntou César, com a voz suave.
- Quando Caroline morreu... ele estava com ela - Luna começou a explicar. - Ele começou a ter pesadelos e, então, começou a dormir comigo no meu... nosso quarto - disse, começando a lacrimejar. - No começo, ele chamava por mim enquanto sonhava. Mas depois começou a chamar por você, e eu não sabia o que fazer - disse, chorando. - Eu fracassei, César - falou, com pesar, enquanto chorava.
- Você não fracassou, Luna - disse César, sorrindo carinhoso. - Nosso filho é um menino maravilhoso, e eu nem o conheço há tanto tempo para dizer isso - César falou, enxugando as lágrimas dela.
Um silêncio confortável se instalou. Então, Cornelius, que estava nas costas de César, foi andando pelo braço do pai até chegar em Luna, se pendurando no pescoço dela. Luna deu um mini sorriso e segurou o filhote.
- Oi, Cornelius... parece que vou ter que cuidar da sua mãe - disse Luna, acariciando o filhote.
- Obrigado - agradeceu César, com um olhar gentil e grato.
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Maroon 5 - Cold
"Parece que não te conheço mais."
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PLANETA DOS MACACOS: O CONFRONTO
Science FictionDezessete anos após a revolução, Luna e seu filho partem em busca de César. Eles descobrem que ele agora tem uma nova família. Em meio a essa explosão de sentimentos, uma guerra se inicia: humanos contra macacos, lutando pela sobrevivência. Uma trai...