As Sombras da Mata- OS VITURINOS [LIVRO 1]

Capítulo 15: Diz Que Me Ama

—Zanaina você está maluca?! Não pode simplesmente ir sozinha atrás do curupira, você precisa descansar.— Katrina segura meu braço com força mas eu consigo me soltar, andando para a floresta sem olhar para trás.

—Vai atrás do resto do grupo e diz que o curupira está aqui, nosso tempo está se esgotando e eu quero ir embora com a consciência limpa.— Digo rapidamente, começo a ouvir sua voz ficar distante e não fazia ideia do quanto eu havia me afastado.

A noite era profunda e misteriosa e eu definitivamente não era para está aqui. Sabia dos riscos que corria, mas não poderia simplesmente perder a oportunidade de pegá-lo, era o nosso penúltimo dia no Pará antes de partirmos de volta para o Rio de Janeiro. Enquanto atravessava a escuridão das árvores e a espessa neblina, sentia a energia ao meu redor, o silêncio quebrado apenas pelo farfalhar das folhas sob meus pés.

Avancei com cautela, mantendo-me alerta a qualquer movimento ao redor. De repente, vi uma figura que se destacava na penumbra, o curupira estava lá, mas não estava só. Niger Spiritus envolvia o curupira com sua presença ameaçadora, prendo a respiração com a energia que parecia puxar tudo ao redor para dentro de um vazio frio. Tentei me aproximar, mas senti uma onda de paralisia me atingir igual da última vez que ele esteve presente na floresta.

Respirei fundo, recuperei o controle de mim mesma e deixei a energia da telecinese fluir. Concentrei-me em lançar galhos e pedras contra o espírito criando distrações para libertar o curupira, cada ataque drenava minhas forças, já esgotadas após a luta feroz contra a cobra grande e o boitatá. Senti minhas mãos tremerem enquanto tentava erguer outro tronco e lançá-lo contra Niger, mas ele parecia prever meus movimentos.

Em um instante, ele lançou uma sombra que envolveu minha visão, tive breves vislumbres de memórias antigas, de momentos que tentei esquecer: Padre Antônio Batista, Sanguinarius, Lysandra, Evangeline, de repente não tive controle da minha própria mente e isso estava me torturando. Senti que o ambiente tinha mudado de vez e ele poderia me atacar o quanto quisesse.

Uma mão firme no meu ombro me trouxe de volta ao presente e eu respiro ofegante e aliviada por conseguir sair daquela aflição, todos me olhavam com preocupação e eu nem tinha percebido que estava encolhida em qualquer tronco de árvore, suada e tremendo. Niger desvaneceu nas sombras da floresta, fugindo para algum lugar profundo e oculto entre as árvores, senti o peso da exaustão sobre mim.

—Você está bem? O que aconteceu?— Isadora segura as minhas mãos e se espanta com o quão gélida ela está.

—Niger.— Consigo conjurar uma simples palavra, meus lábios tremiam e meus dedos batiam um no outro.

—Eu avisei que não deveria vir sozinha, não sei o que deu em você!— Katrina me dá um sermão, enquanto os outros ficavam em silêncio. —Encontramos o curupira tão assustado quanto nós e nem foi tão difícil assim capturá-lo, quando percebemos que ele não está assustado com você, corremos pela floresta chamando o seu nome. Você não escutou?

—Não... Desculpe.— Minha mente estava virada do avesso, essas memórias realmente me abalaram e era isso que o Niger queria.

—Katrina por favor, chega disso, já conseguimos o que queríamos e agora ela precisa descansar.— Thierry suspira, ele me olha com um olhar reeprensivo antes de me carregar de volta para a tenda. —Agora vou fazer questão de me deitar ao seu lado para você não sair de perto de mim.

—Eu vim atrás do curupira mas...

—Eu sei que não foi sua culpa o Niger aparecer, mas já era de se esperar que ele atacasse um de nós assim que estivéssemos sozinhos.— Ele diz sério, olhando para o ambiente a sua frente. —Por favor não faça mais isso, não sozinha.