Capitulo 18

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O primeiro que notei foi o cheiro: couro, madeira e cera com um ligeiro aroma de limão. É muito agradável, e a luz é tênue, sutil. Na realidade não vejo de onde sai, de algum lugar junto ao teto e emite um resplendor ambiental. As paredes e o teto eram de cor vinho escuro, o que dava à espaçosa sala um efeito uterino e o chão era de madeira envernizada muito velha. Na parede, de frente para a porta, havia um grande X de madeira, de mogno muito brilhante, com argolas nos extremos para ficar seguro. Por cima havia uma grande grade de ferro suspensa no teto, com no mínimo dois metros quadrados, da qual se penduravam todo o tipo de cordas e algemas brilhantes. Perto da porta, dois grandes postes reluzentes e ornados, como balaústres de um parapeito, porém maior, estavam pendurados ao longo da parede como cortinas. Deles pendiam uma impressionante coleção de varas, chicotes e curiosos instrumentos com plumas. 

Junto à porta havia um móvel de mogno maciço com gavetas muitas estreitas, como se estivessem destinados a guardar amostras de um velho museu. Por um instante me perguntei o que havia dentro. Quero saber?  No canto do fundo vejo um banco acolchoado de couro de cor vermelha, e junto à parede, uma estante de madeira onde parecia guardar tacos de bilhar, mas um observador atento descobriria que continha varas de diversos tamanhos e grossura. No canto oposto havia uma sólida mesa de quase dois metros de largura, de madeira brilhante com pernas talhadas e debaixo, dois tamboretes combinando.

Mas o que dominava o quarto era uma cama. Era maior que as camas de casal, com dossel de quatro postes talhados no estilo rococó. Parecia de finais do século XIX. Debaixo do dossel via mais correntes e algemas reluzentes. Não havia roupa de cama… apenas um colchão coberto com um lençol vermelho e várias almofadas de seda vermelha em um extremo.

A uns metros dos pés da cama havia um grande sofá Chesterfield, colocado no meio da sala, de frente para a cama. Estranha distribuição… isso de colocar um sofá de frente para a cama. E sorri comigo mesma. Parecia raro o sofá, quando na realidade era o móvel mais normal de toda a sala. Levantei os olhos e observei o teto. Estava cheio de mosquetões, a intervalos irregulares. Perguntei-me, por um segundo, para que serviam. Era estranho, mas toda esta madeira, as paredes escuras, a tênue luz e o couro vermelho, faziam com que o quarto parecesse doce e romântico… Era qualquer coisa menos isso. Era o que Simone entendia por doçura e romantismo.  

Girei e ela estava olhando-me fixamente, como supunha, com uma expressão impenetrável. Avancei pela sala e ela me seguiu. As plumas tinham me intrigado. Decidi tocá-las. Era como um pequeno gato de noves rabos, porém mais grosso e com pequenas bolas de plástico nos extremos.

— É um chicote de tiras. — Simone disse em voz baixa e doce.

Um chicote de tiras... Nossa. Acredito que estou em estado de choque. Meu subconsciente sumiu, ficou mudo ou simplesmente morreu. Estou paralisada. Posso observar e assimilar, mas não articular o que sinto diante de tudo isso, porque estou em estado de choque. Qual é a reação adequada quando descobre que sua possível amante é uma sádica ou uma masoquista total? Medo... sim... essa parece ser a sensação principal.  Agora percebo. Mas não dela. Não acredito que me machucaria. Bom, não sem meu consentimento. Várias perguntas nublaram minha mente. Por quê? Como? Quando? Com que frequência? Quem? Aproximei-me da cama e passei a mão por um dos postes. Era muito grosso e o talhe era impressionante.

— Diga algo — Pediu Simone com um tom enganosamente doce.

— Faz com as pessoas ou fazem com você?

Franziu a boca, não sabia se divertida ou aliviada.

— Pessoas? —Piscou um par de vezes, como se estivesse pensando o que responder. — Faço com mulheres que querem que o faça.

Não entendo.

— Se tem voluntárias dispostas a aceitá-la, o que faço aqui?

— Porque quero fazê-lo com você, desejo.

Fifty Shades of TebetOnde histórias criam vida. Descubra agora