31 de Outubro de 2004 | Athboy, Província de Meath, Irlanda

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A noite caía pesada sobre Athboy, e o céu nublado parecia conspirar com a escuridão que envolvia a pequena comunidade irlandesa

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A noite caía pesada sobre Athboy, e o céu nublado parecia conspirar com a escuridão que envolvia a pequena comunidade irlandesa. A lua cheia mal conseguia romper as nuvens, mas isso não impediu que o espírito do Halloween dominasse as ruas.

Para Natasha, aquele era o cenário perfeito: uma cidade pequena, festejando suas tradições com uma energia quase palpável, misturando o misticismo celta com o entusiasmo moderno pelas festividades.

Ela caminhava pelas ruas arrastando o próprio cansaço, observando cada detalhe com olhos afiados. Crianças corriam de casa em casa, seus risos e gritos ecoando pela avenida principal enquanto batiam de porta em porta, exigindo doces com um brilho no olhar.

Pequenas bruxas, vampiros e monstros de todas as formas e tamanhos brincavam sob as decorações extravagantes que enfeitavam cada janela e varanda. Abóboras entalhadas lançavam luzes vacilantes nas calçadas, e a fragrância de especiarias e cidra quente flutuava no ar.

Natasha deslizou por entre a multidão com a graça de alguém que estava há séculos acostumada a não ser vista. Apesar da atmosfera vibrante, Natasha não se sentia parte daquela celebração. O frio do outono irlandês era apenas uma lembrança distante em sua pele pálida.

Para os mortais ao redor, ela era apenas mais uma mulher envolta em um longo casaco preto, talvez uma turista aproveitando a tradição local.

Sua aparência humana era impecável – os olhos suavemente maquiados, o cabelo ruivo preso em um coque frouxo próximo à nuca, traços delicados de uma mulher que poderia ter vivido em qualquer século.

Mas por dentro, Natasha estava faminta.

Dias haviam se passado desde sua última alimentação. Embora seu corpo fosse resistente, forte o suficiente para sobreviver longos períodos sem sangue, a noite de Halloween sempre oferecia um banquete que ela não estava disposta a ignorar.

Além disso, se quisesse atravessar o Mar do Norte, precisaria de uma reserva a mais. E ela sabia exatamente onde procurar.

A música e os risos vindos da praça principal guiavam seus passos, onde um pequeno parque de diversões havia sido montado. Luzes coloridas piscavam, criando um contraste quase desconcertante com a escuridão que ela carregava consigo.

Seus olhos percorreram o local, calculando cada movimento, cada possível alvo. As barraquinhas de comida estavam cheias de turistas e moradores, os sons das conversas animadas ecoavam no ar misturados ao tilintar de copos.

Ela comprou um copo de cidra de uma das barracas, um gesto para manter sua fachada. Com um sorriso sutil nos lábios, Natasha sorveu o líquido quente, deixando que o calor falso descesse por sua garganta, sem qualquer efeito real sobre seu corpo morto-vivo. Aquela era uma distração, um jogo para enganar os humanos à sua volta.

Enquanto caminhava pela multidão, sua audição apurada captou um som distinto no meio do caos festivo: o estalo agudo de vidro quebrando. Seus olhos estreitaram-se, e um sorriso ligeiramente malicioso curvou seus lábios. Era um sinal.

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