Capítulo 4

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JIMIN

Pulei da cama ao ouvir batidas na porta e pus a mão na testa.

Estava pingando suor, havia tido um pesadelo.

Eu sonhava com...

— Jimin? JIMIN? — A Heejin continuou me chamando.

— Estou indo.

— Me desculpe, é que ouvi o Ian, pensei que havia acontecido algo.

— Estou bem. — Avisei. Desci da pequena cama e me aproximei do berço. — Acabei dormindo, acordei, meu amor. — Ele chorava tanto que estava vermelho.

Tirei-o do berço e o abracei.

— Estava tendo um pesadelo, era com... — Olhei nos olhos do Ian e forcei minha mente a lembrar com o que era, mas nada veio. — Foi somente um pesadelo ruim. — Falei para o meu pequeno. — Um pesadelo muito ruim. — Repeti ao notar como eu estava suado e com o coração batendo muito rápido.

Estranho, tenho certeza de que não é a primeira vez que sonho e fico nesse estado, mas não consigo lembrar quando foi a última vez que sonhei ou com o que estava sonhando.

Enfim, tinha coisas mais importantes para me preocupar, esse pequeno era uma delas.

Ele não dormiu nada à noite e passou o dia chorando.

Não aceitava seu leite e eu estava tão cansado que não conseguia raciocinar direito.

Não sabia se estava doente ou irritado por passar tanto tempo dentro deste quarto.

— Eu não sou um bom pai, me perdoa, mas eu ainda serei, prometo. — Ele se silenciou ao ver minhas lágrimas. Eu estava tentando ser forte, pensar positivo e recomeçar, mas quando você tem um bebê, trabalha à noite e vive num quarto de dispensa, não é fácil. — Sua mãe devia ter vindo com a gente... — Funguei.

Miran disse que era mais seguro ela fugir para outra região, pois assim ele teria duas pessoas para perseguir e me daria tempo para encontrar um lugar seguro.

Eu sinto que ele a matou, pois aquele ordinário era louco.

Funguei deixando as lágrimas caírem na bochechinha do Ian.

Respirei fundo.

Já era noite e precisava começar o expediente de trabalho, não podia me aproveitar da bondade da Heejin.

Ela já fazia muito por nós.

Preparei um banho e o arrumei com uma roupinha fresca.

Tentei alimentá-lo, mas ele não quis.

Passou o dia sem comer, mas pelo menos parou de chorar.

Então, o deixei no berço e comecei meu expediente.

A cada cinco minutos verificava meu bebê, que geralmente dormia antes das oito horas, mas desta vez estava muito choroso e não queria brincar no berço.

— Uau, eles nunca vieram a semana toda. — Acompanhei a visão da minha patroa até a porta. Os garotos do Sul e ele. Suspirei pesadamente quando ele descansou seus olhos em mim. Era um homem de uma beleza quase sobrenatural. — Vou pegar os pedidos.

— Obrigado, Heejin. — Agradeci.

Estava tão cansado que a única coisa que eu não desejava era enfrentar esse homem.

Nas outras noites, até me diverti.

Sempre gostei de paquerar, não sou nenhum anjo.

Acredito que, se fosse antes, eu dormiria com esse cara e seria divertido.

Mas agora eu tinha uma criança para sustentar.

Chegaram outros clientes e fui recebê-los.

Já trabalhei em boates, então sabia como me virar entre os clientes para ganhar mais gorjetas.

Por ser uma cidade pequena, as pessoas não tinham costume de dar dinheiro, então eu estava dando meu jeito com muitos sorrisos e brincadeiras, principalmente para os jovens que eu percebia serem bissexuais ou gays.

Evitei olhar para a mesa dos garotos do Sul, mesmo sentindo que aquele cara não tirava os olhos de mim.

— Não posso reclamar da presença frequente deles. — Disse Heejin. — O bar passou a semana lotado.

As horas foram passando e continuei atendendo os clientes com tranquilidade.

Os garotos pediram sucos, eles nunca bebem nada com álcool.

Tive que atendê-los, pois Heejin estava ocupada, mas respirei aliviado ao não ver o cara entre eles.

— Parece cansado hoje, Jimin. — Miguel comentou.

— Um pouco. — Suspirei e anotei seus pedidos.

Depois, segui para prepará-los e entregá-los.

Com todos servidos, descansei um segundo, sentando minha bunda no banco.

Minhas pernas doíam e eu estava com sono.

Todo meu corpo suplicava por descanso e ainda tinha o Ian que não comia...

— O Ian...

Como se ocorresse um estalo na minha mente, me lembrei do bebê.

Era um péssimo pai, fazia uma hora que não o via.

Estava tão ocupado e cansado que esqueci do meu filho.

Corri para o corredor e congelei assim que o avistei...

— Shiii... Ele acabou de dormir. — Sussurrou me olhando.

Observei-os, meu filho estava nos braços do perseguidor e dormia como um anjinho.

— Ele comeu? — Com as pernas bambas, pois temi o pior ao deixar o Ian tanto tempo sozinho, caminhei até eles.

— Sim! — Sentei ao seu lado tentando não chorar na frente desse louco, mas estava tão cansado.

— Ele passou o dia sem comer, estava tão preocupado. — Estendi os braços para que ele colocasse o bebê no meu colo.

O homem inspecionou meu rosto molhado, pois não contive as lágrimas e meus lábios tremeram.

— Deixe-o mais um pouco aqui. Eu o colocarei na cama quando estiver com o sono mais pesado. Vá trabalhar, prometo que cuido dele. — Fitei seus olhos azuis. — Jimin, por favor, acredite em mim.

— Seus olhos estão diferentes. — Notei que o azul estava mais intenso.

— Eu fico com o bebê para você trabalhar. — Considerei, sem desviar os olhos dos seus, como se fosse hipnotizado.

Eu sei que não devia aceitar deixar um ser inocente com um estranho.

— JIMIN? — Heejin me chamou e não tive escolha.

Saí e segui os comandos de Heejin, mas minha cabeça estava no meu filho.

Após cada cliente atendido, escapulia e corria para o quarto.

Ele continuava com Ian, que dormia tranquilamente.

Voltei ao trabalho e agradeci quando o último cliente saiu do bar.

— Obrigado! — Cochichei.

Ele havia colocado o bebê no berço e acariciava sua cabecinha pelada.

— É um lindo filhotinho. — Disse sem me encarar. — De quem é esse filhote, Jimin? 

— É meu, só meu. — Fui firme.

Ele não me encarou, mas vi seu sorriso.

— Tudo bem, boa noite. — Saiu do quarto e assisti suas costas largas desaparecerem no corredor.

O que aconteceu aqui? Me questionei mentalmente.

Predestined for Human (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora