Um novo lar

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Com o coração em pedaços, Vaelor segurava sua filha contra o peito, sentindo o calor frágil dela em contraste com o frio vazio que o invadia. Ele estava ali, entre as ruínas, e agora apenas as cinzas e o corpo de sua amada restavam.

Exausto, Vaelor cavou com as próprias mãos um túmulo sob uma árvore antiga, onde os raios de sol poderiam tocar a terra. Ali, com os olhos marejados e o corpo tremendo, depositou o corpo de Amelie, sussurrando uma despedida.

-Você sempre foi a luz que guiou meus passos, e agora você viverá através dela, nossa filha. Prometo protegê-la, Amelie. Sempre.

Ao erguer-se, apoiado em seu cajado e ferido, Vaelor olhou para a filha. A criança, embora pequena e indefesa, era a forma física do amor entre ele e Amelie, o último elo com a mulher que ele tanto amou. Aquela pequena vida nos braços dele era um lembrete de tudo que haviam construído juntos, e isso lhe deu forças.

Mas agora, ele estava sem direção, sem lar, e sem o consolo que o lar uma vez lhe proporcionara. O fogo havia consumido não só as paredes, mas todas as memórias ali. Ele sabia que retornar àquele lugar não era mais uma opção; o perigo ainda estava lá fora, e ele não podia arriscar a vida de sua filha.

Resignado, Vaelor tomou uma última vez o caminho para longe das ruínas, a passos lentos e firmes, determinado a encontrar um novo refúgio. Cada passo era um novo juramento: ele protegeria a filha com todas as forças, ele honraria a memória de Amelie, e ele encontraria um lar seguro onde a paz pudesse florescer novamente.

Vaelor caminhava lentamente, seu corpo cansado e ferido, mas a determinação em seus olhos era inabalável. Ele segurava a pequena nos braços, envolta em um manto feito de peles, o único abrigo que ele pôde providenciar para a recém-nascida. A cidade dos anões estava próxima, e a esperança de reencontrar Sullivan lhe dava forças.

Ao se aproximar da barraca de Ferrero, Vaelor avistou Sullivan de longe, trabalhando com um martelo sobre uma bigorna. O som do metal se moldando era familiar e reconfortante, mas o sorriso do mercador se desfez rapidamente ao notar a expressão no rosto de Vaelor. A alegria inicial foi substituída por preocupação.

— Vaelor! — exclamou Sullivan, deixando de lado seu trabalho. — O que aconteceu? Você está ferido! E… onde está Amelie?

Vaelor hesitou por um momento, a dor da perda inundando seu coração. Ele olhou para Sullivan, e a lembrança dos bons momentos que tiveram juntos lhe deu coragem para falar.

— Sullivan… Amelie… ela não está mais conosco — a voz de Vaelor tremia, mas ele se forçou a continuar. — Fomos atacados. Eu… eu não consegui protegê-la.

Sullivan se aproximou, seus olhos se arregalando em choque. Ele olhou para a pequena nos braços de Vaelor, percebendo que a criança era a única coisa que restava da família que o elfo havia construído.

— Essa é… sua filha? — perguntou Sullivan, em um sussurro.

— Sim. Ela é a única coisa que me resta . — Vaelor olhou nos olhos de Sullivan, buscando apoio. — Eu não sei o que fazer. Não tenho para onde ir, e o que aconteceu… tudo se foi, ela se foi.

Sullivan se aproximou, olhando para a criança com um misto de tristeza e admiração.

— Venha, amigo. Você não precisa enfrentar isso sozinho. Vamos encontrar um lugar seguro para você e sua filha.

Com isso, Sullivan colocou a mão nas costas de Vaelor e o guiou em direção à sua casa, onde poderia oferecer abrigo a seu amigo. A dor da perda ainda estava fresca.

Sullivan leva Vaelor para dentro de sua casa, onde o aroma do almoço caseiro preenchia o ar. Ao avistar sua esposa na cozinha, ele a chamou:

— Miranda, venha aqui!

Quando ela se virou e viu um elfo à porta, o susto se espalhou por seu rosto.

— Um elfo! — exclamou, a surpresa misturada com um toque de admiração.

Sullivan sorriu, reassurando-a.

— Foi ele, junto de sua esposa, que me salvou — explicou, com gratidão nos olhos.

Miranda, ainda processando a situação, limpou as mãos no vestido antes de se aproximar de Vaelor.

— Me chamo Miranda — disse ela, oferecendo um sorriso acolhedor. O olhar dela se fixou no embrulho que Vaelor segurava em seu peito. Com curiosidade, ela perguntou:

— O que seria isso?

Com um leve sorriso de saudade e orgulho, Vaelor cuidadosamente desenrolou o pano que envolvia sua filha. A pequena estava dormindo tranquilamente, seu rosto sereno refletindo a inocência.

— Esta é minha filha — disse Vaelor, a emoção preenchendo sua voz. — Ela nasceu há pouco tempo.

O olhar de Miranda se suavizou ao ver a criança, e um brilho de ternura surgiu em seus olhos.

— Oh, ela é linda! — exclamou, inclinando-se levemente para admirar melhor a pequena. — Vocês dois devem estar tão exaustos. Por favor, entre.

Sullivan observou a interação com um sorriso satisfeito, feliz por ver a empatia da esposa.

— Sim, o que precisar, nós faremos — acrescentou ele, firme em sua promessa.

Vaelor sentiu uma onda de alívio e gratidão. A bondade deles era um bálsamo para sua alma ferida, e, pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu uma faísca de esperança ressurgir em seu coração.

O ar da casa foi preenchido com um clima de sorriso e gratidão. Miranda estava aliviada e feliz por ver que seu amado marido tinha sido salvo. Contudo, questionamentos surgiram em sua mente sobre o paradeiro da mãe da recém-nascida. Ao notar as marcas e feridas ainda não cicatrizadas no corpo de Vaelor, a verdade sobre algo terrível que havia acontecido começou a se formar em seu coração. Ela trocou um olhar com Sullivan, que, com um gesto discreto, indicou que era melhor não fazer muitas perguntas naquele momento.

Enquanto Miranda preparava a comida quentinha, ela se virou para Vaelor, oferecendo um sorriso caloroso.

— Espero que goste — disse, colocando os pratos sobre a mesa. Em seguida, observando a pequena em seu colo, acrescentou: — Posso pegar sua filha? Ela deve estar com fome. Eu ainda amamento, e minha filha está dormindo no quarto. Posso alimentar a pequena, se você quiser.

Vaelor hesitou por um momento, ponderando sobre a oferta. Miranda, percebendo a indecisão dele, apressou-se a esclarecer:

— Ela deve estar com fome. Não sei como você a alimentou até agora, mas eu só quero ajudar.

Sullivan, colocando a mão reconfortante no ombro de Vaelor, sorriu e disse entre risos:

— Garanto que a pequena vai gostar.

Vaelor, tocado pela bondade e disposição de Miranda, finalmente sorriu, acenando com a cabeça em agradecimento. Ele sentiu um calor no coração, uma sensação de acolhimento que não experimentava há muito tempo.

— Seria uma bênção aceitar sua ajuda — disse Vaelor, sua voz suave carregando a gratidão que sentia.

Miranda se aproximou e gentilmente pegou em seus braços, cuidando para que a recém-nascida ficasse confortável. Ao olhar para a pequena, seus olhos brilharam com ternura. Sullivan observava a cena com um sorriso, feliz por poder oferecer um lar seguro para aqueles que precisavam.

Enquanto Miranda alimentava a pequena, a casa encheu-se de risos e conversas, trazendo um pouco de luz e esperança ao coração de Vaelor, que havia enfrentado tantas sombras.





Elvenheart ("Coração Élfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora