Capítulo Quatro

0 0 0
                                    

— Capítulo Quatro: Entre Sombras e Verdades

 Minha jornada pelo Inferno havia me conduzido a lugares lúgubres e assombrosos, mas eu estava instigado a desvendar os segredos que me haviam sido roubados e, com duas das balas agora fazendo parte de mim, sabia que estava mais perto de descobrir alguma coisa mais profunda. Mesmo que o preço fosse alto, mesmo que em algum momento algo ou alguém me cobrasse.

O peso das balas era constante, me lembrando perpetuamente do sacrifício que estava fazendo à minha própria sanidade mental e espiritual. Quanto mais eu avançava, mais a sensação de opressão aumentava; cada passo parecia mais difícil, cada respiração mais angustiante. Meu corpo estava exausto, minha mente consumida pelo medo e pelo desespero que permeavam esse reino obscuro. O cenário ao meu redor era a concepção estranha do que um dia havia sido real, as ruínas destruídas e violentadas se erguiam como testemunhas silenciosas dos horrores que haviam ocorrido ali. Bestas cruzavam meu caminho, algumas curiosas, outras hostis, com vozes que sussurravam confissões e ameaças veladas, aumentando a sensação de isolamento e desamparo.

Me sentia observado por olhos invisíveis que seguiam cada um dos meus movimentos, me fazendo suspeitar que forças além da minha compreensão estavam interessadas no que eu fazia. Mas, mesmo assim, ignorei o medo e a apreensão e segui para a próxima etapa.

Cheguei em um desfiladeiro profundo e estreito, com paredes de rocha negra que aparentavam estar prestes a desmoronar a qualquer momento. Eram tão grandes que não havia fim à vista, estendendo-se em uma escuridão profunda que me fazia questionar o que poderia estar além. O ar era pesado e úmido, como se o próprio espaço tivesse a intenção de me sufocar. Uma sensação de terror pairava sobre o local, como se fosse uma garganta traiçoeira pronta para engolir qualquer intruso. À medida que avançava, o eco de meus próprios passos reverberava pelas muralhas de pedra, criando um som sinistro que ecoava de volta para mim. Em certos pontos, pequenas fendas se abriam nas paredes, revelando passagens estreitas e escuras que pareciam levar a lugares que eu não estava interessado em conhecer.

Ao meu redor, as sombras ganhavam vida própria. Se contorciam e se moviam como entidades vivas, dançando ao som de uma melodia sinistra que eu não tinha direito de ouvir. Cada sombra tinha uma forma torcida, como se fossem almas torturadas pelo peso de seus pecados. Em um momento, uma figura grotesca havia se formado, uma criatura de pesadelos que bloqueou meu caminho, seus olhos brilhando com uma malignidade incompreensível, e sua voz como um riso dissonante que ecoava em minha mente.

— Ulysses... — disse a criatura, com um tom que era uma mistura de zombaria e despeito. — Buscas a verdade, mas serás capaz de suportar o que ela revelará?

Minha voz saiu firme, apesar do medo que me consumia.

— Vou suportar qualquer coisa para encontrar as respostas que procuro.

Ela inclinou a cabeça, os olhos vazios me estudando como se tentassem sondar os recantos mais profundos da minha alma. A cada momento que passava ao lado dela, a opressão do desfiladeiro crescia, como se tudo conspirasse contra mim, e olhar para aquela coisa que mais parecia um pesadelo encarnado não ajudava muito. Sua aparência era uma visão de terror, uma verdadeira fera amaldiçoada. Sua pele, ou o que restava dela, era como pergaminho enegrecido pelo tempo, esticada sobre ossos proeminentes. Era como se estivesse se desfazendo em lugares, revelando uma carne pútrida por baixo, em um estado de decomposição incessante. Os contornos de suas veias negras eram visíveis, como rios de sombras fluindo sob a superfície de sua epiderme. Seus membros eram alongados e retorcidos, terminando em garras afiadas que raspavam o chão com um som agudo e angustiante. Seu corpo curvava-se como se estivesse sempre em agonia, e em seu peito, uma protuberância grotesca pulsava irregularmente, um coração que já não deveria mais bater. Mas o que mais me assombrou foi sua boca. Quando abriu, revelou fileiras de dentes afiados como navalhas, dispostos em um sorriso macabro que se estendia até as têmporas. Quando falou, sua voz era um barítono ruidoso, como se as palavras estivessem sendo arrancadas de uma garganta repleta de espinhos.

Ulysses e o Caos DivinoOnde histórias criam vida. Descubra agora