Capítulo Dois

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— Capítulo Dois: Nas Profundezas do Inferno

 Após deixar para trás o bar repleto de almas atormentadas e suas histórias perturbadoras, fui consumido por uma sensação de determinação. Eu não podia mais me contentar em ser apenas um espectador passivo deste lugar, era hora de descobrir a verdade sobre minha própria existência e encontrar uma saída. Enquanto caminhava, lembranças fragmentadas de minha vida anterior continuavam a emergir. Eu era Ulysses Crowley, um nome que agora ecoava em minha mente como um eco distante e insistente. Eu havia sido um intelectual curioso em busca de conhecimento que havia se aventurado em explorações ao redor do mundo e desafiado o conceito do conhecimento humano. Mas algo tinha dado terrivelmente errado.

À medida que minha memória se reconstituía, flashes do passado se tornavam mais claros. Pude me ver em um laboratório escuro, realizando experimentos que iam além das leis da ética e da realidade. Estava obcecado por descobrir segredos, mas essa busca insaciável me levou a um evento catastrófico que selaria meu destino para cá.

Lembrei-me de uma explosão de energia descontrolada, com uma queda vertiginosa. Eu havia perdido minha humanidade e, de alguma forma, me transformado em uma figura obscura; um Esquecido, como Ramon me chamou. Mas o que havia causado essa transformação? O que eu estava fazendo no momento da explosão? O que causou a explosão? As perguntas assombram minha mente, e senti que só poderia encontrar respostas se continuasse. Continuasse nessa insanidade de lugar.

Enquanto seguia em frente, as figuras que habitavam essa esfera cataclísmica pareciam menos ameaçadoras agora. Comecei a perceber que cada uma delas tinha uma história, um motivo pelo qual estavam presas aqui. O riso das chamas, as acrobacias, tudo começou a fazer sentido de uma forma distorcida.

Encontrei Ramon mais uma vez, sua avantesma sombria emergindo das sombras como sempre. Ele me cumprimentou com seu sorriso familiar e conduziu-me em direção a uma paisagem ainda mais estranha. Nossos passos nos levaram a uma espécie de teatro, mas não era um teatro comum. As cortinas eram feitas de névoa e as cadeiras pareciam flutuar no ar, ocupadas por espectadores igualmente estranhos, quase tão fantasmagóricos quanto ele. No centro do palco, uma performance estava prestes a começar. Seus atores, metade humanos e metade animais, começaram a dançar e a representar uma história que eu não conseguia compreender completamente. Cada movimento deles parecia carregar uma mensagem, uma lição oculta. Me sentei ao lado de Ramon, observando atentamente a cena diante de mim. À medida que a performance continuava, comecei a perceber que estava assistindo a uma representação da minha própria história. Os personagens eram aspectos de mim mesmo; minhas obsessões, meus desejos de conhecimento e meu desastre final — as sete balas. Era como se o Inferno estivesse me mostrando os eventos que me haviam trazido até aqui, de uma maneira simbólica e surreal.

Ramon inclinou-se para mim e sussurrou em meu ouvido:

— Esta é a sua jornada, Ulysses, uma busca pelo conhecimento que o levou aos confins do Báratro. Mas você tem a chance de entender e se redimir.

Eu estava atordoado, essa representação teatral não era apenas uma performance; era uma oportunidade de confrontar meu próprio passado e as escolhas que havia feito. Sabia que precisava assistir a essa representação até o fim, por mais dolorosa e subversiva que fosse.

Conforme a peça continuava, eles dançavam e representavam momentos cruciais de minha vida anterior. A explosão no laboratório, os experimentos que saíram do controle e as consequências terríveis que se seguiram. Cada cena era uma lembrança viva do que havia acontecido, uma lembrança que eu estava tentando reprimir. Ao passo que a peça chegava ao seu clímax, me vi no palco enfrentando a explosão. Era como se estivesse revivendo aquele momento, experimentando a dor e o horror mais uma vez. Mas, dessa vez, eu não podia fugir da verdade. Sabia que precisava aceitar a responsabilidade por minhas ações e encontrar uma maneira de me redimir.

Ulysses e o Caos DivinoOnde histórias criam vida. Descubra agora