— Final:
Adentrei o Pecado Ignorado com meu coração acelerando à medida que a porta se fechava atrás de mim. O ambiente escuro e impregnado de mistério do bar me envolveu na sensação familiar de estar nesse ambiente reconfortante. O som abafado das conversas e da música preencheu meus ouvidos, as luzes fracas lançavam sombras dançantes nas paredes, criando uma atmosfera intrigante. Cumprimentei Yoha de longe, dizendo que depois falaria com ele, meus olhos procurando ansiosamente por Hazel, a única pessoa que compartilhava comigo as mesmas sensações humanas de conflitos.
Caminhei em direção ao balcão, onde o bartender sinistro continuava a servir bebidas para as almas atormentadas que buscavam refúgio. Com uma voz hesitante, perguntei por Hazel, esperando encontrá-la de uma vez e levá-la aonde pretendia. O bartender, com seu olhar perspicaz e sorriso sombrio, olhou em volta antes de inclinar a cabeça ligeiramente na direção de uma figura solitária em um canto escuro do bar. Era ela, sentada em uma das mesas mais afastadas, observando o movimento ao redor com seus olhos azuis penetrantes. Seus cabelos castanhos cintilavam fracamente sob a pouca luz do bar, sua expressão carregada de pensamentos profundos.
Agradeci ao bartender e me dirigi até ela, sentindo um misto de alívio e ansiedade. Conforme me aproximava, meu coração batia mais rápido, e eu me perguntava o que ela tinha a dizer, qual seria o desfecho de tudo isso. Com cautela, tomei assento à sua mesa e a olhei nos olhos, esperando iniciar a conversa que finalmente poderia trazer clareza a tudo que havia acontecido. Hazel me olhou com um misto de compaixão e entendimento em seus olhos azuis, dando um sorriso pequeno em seus lábios tristes. Era como se soubesse que eu tinha descoberto tudo o que precisava descobrir, que tinha enfrentado meus demônios.
— Encontrei o que tinha que encontrar. — Minha voz estava firme agora, cheia de determinação. — E tomei uma decisão. Adentrei o rio do esquecimento para me livrar das amarras que me prendiam aos meus pecados, à minha culpa.
Hazel assentiu, parecendo compreender a profundidade de minha escolha. Ela estendeu a mão e tocou a minha, um gesto de apoio silencioso.
— Fico feliz por você. Espero que, daqui pra frente, as coisas sejam mais fáceis.
Dei um sorriso de volta, segurando sua mão com ânimo, tentando fazê-la perceber o que eu tinha em mente.
— Eu não acredito que o rio do esquecimento seja apenas para mim. — Eu me inclinei um pouco mais em sua direção e disse suavemente: — Você também deveria considerar mergulhar nele, para esquecer todas as mágoas do seu passado, para se perdoar.
Ela me olhou com surpresa, talvez em choque. Seus olhos se abaixaram por um momento, como se ponderasse profundamente sobre minhas palavras. Finalmente, ouvi seu suspiro e suas palavras quando disse:
— Ulysses, esse é o meu castigo. O rio do esquecimento pode não aceitar alguém como eu, alguém que cometeu atos tão terríveis. — Sua voz estava repleta de tristeza e resignação. — Eu não tenho certeza se mereço a redenção ou a paz que você conquistou.
Eu sabia que as palavras de Hazel eram carregadas de um peso que talvez nunca pudesse compreender completamente. No entanto, estava determinado a apoiá-la, assim como ela tinha me apoiado.
— Hazel, todos merecem uma segunda chance, mesmo aqueles que cometeram os piores erros do mundo — falei, com sinceridade. — Se você não tentar, nunca saberá se o rio aceitará ou não. Estou aqui para ajudá-la.
Nossas mãos permaneceram entrelaçadas, e um entendimento silencioso passou entre nós. O que o futuro nos reservava era um enigma, uma incógnita que se ocultava nas chamas do Inferno. Hazel parecia refletir sobre minhas palavras, mas suas verdadeiras intenções permaneciam um mistério, como se ela estivesse guardando seus pensamentos e sentimentos em segredo. O rio Lete aguardava, paciente e imperturbável, como um juiz imparcial de destinos.
Pensei no caminho que percorri até aqui, tendo aprendido lições que jamais imaginaria no mundo dos vivos. Embora o Inferno carregasse o fardo das almas atormentadas e dos pecados, também era um lugar de transformação. Ele me mostrou que o perdão, a redenção e a esperança podiam existir mesmo nas profundezas da escuridão. Nada era preto e branco, as almas que encontrei tinham histórias complexas e motivos variados para estarem ali. Muitos carregavam remorsos profundos, mas também havia aqueles que simplesmente aceitavam. O próprio ato de enfrentar o próprio passado e escolher um caminho para a redenção era uma jornada reveladora.
O Inferno me ensinou que a vida estava repleta de segundas chances e oportunidades de mudança, e agora, estava determinado a ajudar Hazel a encontrar a dela. Em meio às incertezas, uma coisa era clara: nosso destino estava entrelaçado com as chamas eternas do abismo, um lugar de tormento e renovação, onde a redenção podia ser alcançada até no limite de nossas mentes. Juntos, enfrentaríamos o desconhecido, desafiando as próprias sombras que nos cercavam, na busca por um novo começo e, quem sabe, a paz que não conseguimos alcançar em vida.
É nisso que eu acredito.
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Ulysses e o Caos Divino
SpiritüelApós uma vida marcada por escolhas erradas e relações caóticas, Ulysses se vê em uma jornada pelo Inferno, onde cada passo revela uma nova camada de seus próprios pecados e arrependimentos. Entre almas condenadas, ele encontra uma figura misteriosa...