Capítulo Onze

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— Capítulo Onze: Renascimento

Acordei de repente, minha mente turva lutando para entender o que estava acontecendo. A sensação de confusão e desorientação me envolveu, e demorei alguns instantes para perceber onde estava. À minha volta, estava o rio Aqueronte, tão calmo e misterioso quanto antes. A névoa se erguia suavemente sobre as águas escuras, criando uma atmosfera enigmática. As lembranças da minha jornada anterior pelo Inferno inundaram minha mente, e eu me dei conta de que havia sido trazido de volta. Busquei Ramon com os olhos, mas ele não estava à vista. A incerteza e a confusão me dominaram enquanto eu tentava entender por que havia retornado ao Inferno, e o que ele tinha a ver com isso. Com cuidado, examinei meu entorno, procurando por pistas ou alguma coisa que pudesse me dar uma ideia do que estava acontecendo.

Saí do rio Aqueronte com água gotejando do meu corpo, deixando uma trilha molhada enquanto avançava de volta para o caos desenfreado do Inferno em busca de Ramon. A névoa espessa que me envolvia começou a se dissipar, revelando as paisagens desoladas e sombrias que me cercavam. O terreno era irregular e árido, com formações rochosas que pareciam esculpidas pela própria escuridão. Caminhei pelo calor infernal, sentindo o ar pesado e impregnado de desespero. O silêncio era assustador, e eu me perguntava onde todas as almas perdidas e criaturas infernais estavam escondidas. À medida que avançava, uma sensação de urgência tomou conta de mim, pois Ramon estava em algum lugar nesta atmosfera inóspita, e eu precisava encontrá-lo. Cada passo que eu dava ecoava pela paisagem vazia, criando um som solitário e melancólico. Eu não tinha ideia de para onde estava indo, apenas seguia o instinto de encontrar meu misterioso guia e descobrir mais sobre o que aquela memória significava.

Enquanto continuava minha busca, deparei-me com um desfiladeiro que me parecia estranhamente familiar. As paredes íngremes e as rochas retorcidas evocaram memórias de um lugar que eu conhecia, mas não conseguia lembrar exatamente de onde. A sensação de déjà vu era avassaladora, e tive um impulso irresistível de explorá-lo. Eu sabia que havia algo importante associado a este lugar, mas minhas memórias ainda estavam confusas e fragmentadas.

À medida que continuei a explorar a garganta, comecei a perceber que ele me levava em direção a um lugar que eu já havia visitado antes: o Pecado Ignorado. As lembranças começaram a se encaixar, e eu me lembrei de ter estado lá antes, em busca de respostas sobre minha existência e sobre Ramon. O caminho sinuoso pelo desfiladeiro me guiou até a entrada do bar, que se destacava com sua fachada sombria. A sensação de reconhecimento se intensificou à medida que me aproximei, e eu sabia que este lugar estava intrinsecamente ligado à minha busca por respostas. Com uma mistura de ansiedade e determinação, empurrei as portas do bar e entrei, esperando encontrar algum vestígio de Ramon ou pistas que pudessem me ajudar a entender meu propósito neste estranho mundo infernal.

— Ulysses, meu querido amado viajante! — ouvi a voz familiar na mesma mesa no canto do bar, vendo o homem-jumento sentado no mesmo lugar de sempre, feliz ao me ver. Me aproximei de Yoha, dando um sorriso como cumprimento, sentando numa cadeira próxima à sua. Me senti um pouco mais à vontade com sua presença, a atmosfera do bar, embora estranha e sombria, tinha aquela estranha sensação de familiaridade. O homem-jumento acenou com a cabeça, como se entendesse meus sentimentos. — O Inferno é um lugar de ciclos, Ulysses, mas também é um lugar de escolhas. — Ele olhou ao redor do bar, observando as almas atormentadas que preenchiam o local. — Cada um de nós tem um papel a desempenhar neste mundo. Alguns o aceitam, outros o desafiam. Qual será o seu papel, Ulysses?

Respirei fundo, me sentindo cansado. Não pude respondê-lo até porque não sabia o que responder. Pedi licença e segui até o balcão, me sentando num banco. Acenei para o barman, um ser grotesco com chifres retorcidos, e pedi uma bebida, qualquer coisa que pudesse me dar um breve alívio. O barman me serviu um líquido escuro e fumegante, cujo cheiro era tão perturbador quanto a própria bebida. Enquanto bebia, o líquido queimava minha garganta e me aquecia por dentro. Era uma sensação estranha, uma mistura de prazer e desconforto, que parecia se encaixar perfeitamente com o ambiente do Inferno.

Ulysses e o Caos DivinoOnde histórias criam vida. Descubra agora