Capítulo Um

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— Capítulo Um: Divino Inferno

 Minha queda pelo Inferno parecia eterna. À medida que eu despencava, o riso das chamas ao meu redor e as figuras excêntricas que dançavam nos céus criavam uma cacofonia de absurdos. Eu tentava me acostumar com o espetáculo bizarro, mas nada poderia me preparar para o que estava por vir. O choque foi súbito e brutal. Aterrissei com um estrondo em um solo que parecia feito de borracha, uma experiência que poderia ter sido hilariante se não fosse tão surpreendente e dolorosa. Senti-me como uma bola de praia em um parque de diversões cósmico, ricocheteando pelo chão enquanto as figuras diabólicas e esqueletos dançantes ao meu redor aplaudiam e riam.

Isso não é o que eu esperava —, murmurei enquanto me levantava, tentando recuperar o equilíbrio, surpreendendo-me ao perceber que aquilo não me chocava tanto quanto eu deveria estar chocado.

Aquele demônio que liderava a comitiva se aproximou, jogando um balde de água sobre minha cabeça, deixando-me encharcado instantaneamente.

— Bem-vindo ao nosso espetáculo, Ulysses! — o palhaço exclamou, soltando outra gargalhada ensurdecedora. Eu estava perdido, tinha acabado de morrer e aquela coisa que me recebia não passava de um comediante do horror. Não conseguia lembrar quem eu era ou como tinha chegado ali, e agora estava preso em um lugar onde o caos reinava e a lógica era uma piada distante.

— O que está acontecendo? — exigi, frustrado com a situação absurda e com as gotas de água que me espetavam à medida que escorriam pelo meu corpo.

A figura sombria emergiu das sombras mais uma vez, com um sorriso misterioso.

— No Inferno, meu amigo, tudo é uma surpresa, até mesmo o choque da aterrissagem. — Sua voz me dava calafrios, como um eco distante em um túnel sem fim. — Bem-vindo ao seu futuro!

Eu sabia que estava preso em um pesadelo cômico, mas, ao mesmo tempo, uma curiosidade estranha tomou conta de mim. Afinal, que tipo de lugar era esse onde a morte era celebrada com uma risada? E quem era eu antes de tudo isso? A comitiva de figuras peculiares continuava a me rodear, dançando e rindo como se estivessem em um eterno espetáculo de variedades. Cada passo que eu dava no solo elástico fazia com que eu me sentisse mais desconfortável e, simultaneamente, mais determinado a desvendar o que quer fosse esse lugar.

— Qual é o propósito disso tudo? — perguntei, minha voz soando estranhamente calma apesar do caos ao meu redor. A figura sombria estendeu a mão, revelando uma máscara sorridente que segurava.

— Ulysses Crowley, o Esquecido, você ainda não entendeu? — o guia sombrio perguntou, sua máscara sorridente parecendo se mover com vida própria. — Este é um lugar onde as convenções da vida e da morte são jogadas ao vento. Aqui, o absurdo é a norma, o riso é o remédio e a busca pelo conhecimento se desenrola em meio às piadas.

Eu estava perplexo, mas algo dentro de mim sabia que essa jornada bizarra tinha um propósito oculto, algo que estava prestes a ser revelado. Mesmo que eu não conseguisse me lembrar de minha vida anterior, uma determinação estranha cresceu em meu peito.

— Então, o que eu estou fazendo aqui? — perguntei, finalmente começando a aceitar a incompreensível realidade que me cercava. O guia sombrio começou a andar, e eu o segui, observando as figuras excêntricas e perturbadoras que ainda dançavam ao nosso redor. Cada passo que dávamos parecia nos levar mais fundo na loucura do Inferno.

— Você está aqui para descobrir, Ulysses.

Essas palavras me deixaram intrigado. Não importava como eu tinha chegado ali ou o que havia acontecido antes, eu estava disposto a explorar esse enigma e descobrir meu lugar neste estranho espetáculo.

Ulysses e o Caos DivinoOnde histórias criam vida. Descubra agora