— Capítulo Sete:
À medida que eu caía infinitamente através da escuridão sem fim, uma sensação avassaladora de desorientação e impotência me envolveu. Não havia pontos de referência, nem qualquer senso de direção; eu estava mergulhando em um abismo cósmico, onde o tempo e o espaço se distorciam e a realidade era uma miragem elusiva. Cada segundo que passava parecia uma eternidade, e o vazio ao meu redor era esmagador. Como se algo tivesse me colocado em um pesadelo interminável, em uma queda que não tinha fim à vista. O som do vento uivando passava por mim, mas eu não tinha voz para gritar, nem mesmo para expressar meu desespero.
Estava se repetindo.
Aquilo era uma tortura implacável que desafiava qualquer compreensão ou explicação. Não tinha um chão para onde eu pudesse cair, nem um céu acima de mim. Era um abismo sem limites, uma jornada ininterrupta através do desconhecido. O tempo parecia dilatar e se esticar, tornando cada segundo uma eternidade de sofrimento. A sensação de que nada poderia me salvar me dominava. Eu estava mergulhado em um vórtice de escuridão que devorava minha esperança e minha sanidade. O vento estourando meus tímpanos continuava a ser minha única companhia nesse desespero infinito. Cada ciclo da queda era um eco das minhas piores memórias e medos, uma repetição interminável da minha própria morte. Eu ansiava desesperadamente por encontrar uma saída deste pesadelo, mas a escuridão sem fim não tinha piedade, me arrastando para o desconhecido, onde o sofrimento era a única constante.
Ao passo em que continuava a cair infinitamente através da escuridão, algo notável começou a acontecer. A temperatura ao meu redor começou a mudar de maneira dramática. O calor sufocante que me envolvia no início dessa estranha jornada começou a ceder lugar a um frio intenso. A transição foi gradual, mas perceptível. O ar quente e abafado deu lugar a uma brisa gélida que cortava minha pele. Minhas roupas, que antes estavam úmidas de suor, agora começavam a congelar em meu corpo, tornando cada movimento uma tarefa difícil. Eu me vi envolto por uma escuridão ainda mais profunda e um frio que penetrava até os ossos. A queda sem fim continuava, mas agora era agravada pela mudança drástica do calor para o frio. Era como se eu estivesse sendo levado para outro lugar.
Enquanto a temperatura ao meu redor caía acentuadamente, comecei a perceber uma mudança na paisagem ao meu redor. A escuridão que me envolvia se dissipava lentamente, revelando uma imensidão branca e gélida que se estendia até onde a vista alcançava. Diante de meus olhos atordoados, emergiu um deserto de neve vasto e impiedoso. Não havia nenhum sinal de vida à vista, apenas uma extensão aparentemente infinita de brancura cegante. Os flocos de neve dançavam no ar gelado, criando uma sensação de tranquilidade perturbadora, mas as chamas que queimavam no céu atrás de mim me lembravam que eu ainda não estava livre deste pesadelo. A mudança de cenário era tão abrupta quanto surpreendente. Eu tinha deixado para trás o calor sufocante e as trevas do meu passado recente e agora estava imerso na frieza intransigente deste deserto gélido.
O choque contra a neve foi abrupto e brutal. Minha queda finalmente encontrou um fim violento quando meu corpo colidiu contra a superfície congelada. A dor foi aguda, e o frio penetrante se infiltrou em meus ossos como mil agulhas afiadas. Eu me levantei com dificuldade, minhas roupas agora molhadas e congeladas, tornando cada movimento uma tortura. O deserto se estendia em todas as direções, uma paisagem desolada e inóspita que parecia nunca ter fim. À minha volta, o silêncio era opressivo, apenas interrompido pelo som abafado dos meus próprios passos na neve. Eu estava sozinho neste novo pesadelo, apenas com a vastidão branca e o frio cortante como companhia, mas não por muito tempo.
A figura obscura de Ramon emergiu das sombras da neve branca, se aproximando silenciosamente sem deixar rastros no tapete gelado, como se tivesse estado ali o tempo todo, me observando. O silêncio entre nós era perturbador, como se as palavras não fossem necessárias para a compreensão mútua. Era ele quem havia me trazido para cá, mas por quê?
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Ulysses e o Caos Divino
SpiritualApós uma vida marcada por escolhas erradas e relações caóticas, Ulysses se vê em uma jornada pelo Inferno, onde cada passo revela uma nova camada de seus próprios pecados e arrependimentos. Entre almas condenadas, ele encontra uma figura misteriosa...