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MARIANA

Uma semana depois...

A igreja estava quase vazia. As poucas pessoas presentes se espalhavam pelos bancos, cochichando entre si. Os olhares curiosos alternavam entre mim, parada à entrada, e Augusto, em pé junto ao altar.

Meu coração batia acelerado, não pelo homem que me esperava, mas pela onda de desconforto que me invadia.

O vestido. O bendito vestido.

Eu tinha pedido algo simples. Algo discreto. Mas Madame Angelique, em toda sua extravagância, ignorou completamente as minhas instruções. Em vez disso, criou uma peça que chamava atenção por onde passava. Droga!

O tecido pesado reluzia com cada movimento, com bordados excessivos que gritaram "olhem para mim" tão alto que só faltavam explodir. O corpete apertado demais me fazia sentir sufocada, e o excesso de volume na saia parecia zombar da minha tentativa de me manter invisível.

A modista, claro, estava sentada em um dos bancos, parecendo uma rainha contemplando sua obra-prima. Seus olhos brilhavam de orgulho enquanto me assistia caminhar.

Quando passei por ela, pude ver o sorriso largo e presunçoso que ela me lançou, como se dissesse: "Eu sei o que faço, querida." Eu, por outro lado, só conseguia pensar: "Essa mulher me paga."

Fios de ouro. Ela havia bordado alguns detalhes com fios de ouro!

Respirei fundo, mantendo os olhos fixos no chão. Senti os olhares pesando sobre mim, como se estivesse sendo dissecada por cada par de olhos. Eu podia sentir o julgamento.

— Deve ser alguma interesseira, Gertrudes. — ouvi uma das senhoras murmurar. — Só uma mulher desesperada aceitaria se casar com um homem como ele. Deve estar de olho nas terras. Olhe só para aquela máscara… um monstro desses não merece nada além de pena.

Minhas mãos apertaram o buquê com força.

A vontade de me virar e responder era quase irresistível. Mas eu sabia que causar uma cena ali só pioraria tudo.

“Controle-se, Mariana. Você não vai manchar o sobrenome de Augusto no primeiro dia de casada!”, pensei, respirando fundo enquanto tentava sufocar o impulso.

— Ou quem sabe ela seja uma mulher da vida, Fátima. — disse outra mulher, com um riso abafado. — Talvez ele a tenha tirado de algum prostíbulo.

A raiva subiu pelo meu corpo, e eu senti o sangue esquentar. Tive que morder a língua para não devolver um comentário à altura.

Com movimentos lentos e calculados, me virei na direção dela, até encontrar o rosto surpreso da mulher.

Va-di-a. — murmurei, sem emitir som, mas articulando cada sílaba para que ela entendesse.

Ela arregalou os olhos, e virou-se para a amiga.

— Você viu isso? — sussurrou, escandalizada. — Que falta de respeito...

Eu apenas ergui uma sobrancelha, segurando o impulso de sorrir. Que falasse o que quisesse. Eu não ia abaixar a cabeça.

Meus olhos encontraram os de Augusto, que me observava com o cenho franzido do altar. Ele parecia perguntar silenciosamente o que havia acontecido.

Sua mandíbula travou levemente, e eu pude notar o movimento de sua respiração.

Meu rosto aqueceu, e rapidamente desviei o olhar, encarando o chão novamente enquanto continuava caminhando.

Acordo com a Fera [Paixões Rurais - Vol.2]Onde histórias criam vida. Descubra agora