Draco se permitiu bufar. A presença de Sir Black, combinada com o espartilho apertado, quase o sufocou.
— Um prazer mesmo, realmente.
— Ele é um estranho no ninho, não é?
Ele se virou e viu uma bandeja de prata flutuando no ar acima da mesa, cheia de tortinhas de massa dourada, onduladas com precisão em um dos lados.
— Ah, oi de novo, Bichento – disse Draco, cheio de alívio por ter um encontro naquela noite que não o deixaria exausto e atormentado. Se bem que, com Bichento, qualquer coisa podia acontecer.
– Você devia estar aqui?
— Provavelmente não.
O gato apareceu com a bandeja apoiada na barriga, a cauda ruiva como um pêssego maduro embaixo do corpo. A cabeça apareceu por último: orelhas, bigodes, nariz e finalmente o enorme sorriso cheio de dentes.
— Você está absurdo – disse Bichento, pegando um doce entre duas garras e colocando na boca gigante. Uma nuvem de vapor saboroso subiu dos dentes dele, com cheiro de abóbora doce.
— O traje foi ideia da minha mãe – disse Draco. Colocando a mão na barriga, ele respirou o mais profundamente que conseguiu. Estava começando a se sentir meio tonto.
– Isso aí são tortinhas de feijões, por acaso? Sir Black estava perguntando onde estavam. O cheiro está delicioso.
— São. Eu ofereceria uma, mas não quero.
— Isso não é educado. E, a não ser que você tenha convite, é melhor colocar a bandeja na mesa e desaparecer novamente, antes que alguém veja você.
Bichento grunhiu, despreocupado.
— Eu só achei que você podia querer saber… – Ele deu um exagerado. – … que o valete está roubando suas tortas.— O quê? – Draco se virou e lançou um olhar pela mesa de banquete, mas Jack não estava por perto. Ele franziu a testa.
Quando se virou, as bochechas enormes de Bichento estavam infladas com uma bandeja inteira de tortinhas.
Draco revirou os olhos e esperou que ele mastigasse e engolisse, o que fez rapidamente com os dentes enormes.
Bichento arrotou e enfiou uma unha no espaço ao lado do molar frontal.
— Ah, por favor – disse ele, inspecionando a unha e encontrando um pedaço de recheio de abóbora. – Você não acha que essas tortas teriam durado muito tempo, acha?Ee viu a bandeja familiar perto da beirada da mesa. O que restava das tortas de amora eram só alguns farelos, um borrifo de açúcar de confeiteiro contornando três círculos vazios e uma mancha vermelha.
Era agridoce como chocolate amargo aquela bandeja vazia. Draco sempre ficava feliz quando suas sobremesas eram apreciadas, mas, nesse caso, depois do sonho e da amoreira… ele teria gostado de experimentar ao menos um pedacinho.
Ele suspirou com decepção.
— Você experimentou, Cheshire?O gato fez um tsc para ele.
— Eu comi uma inteira, minha querida. Estava irresistível.Draco balançou a cabeça.
— Você seria melhor se tivesse nascido porco.— Que vulgar. – Ele girou no ar, rolou como um tronco no mar e sumiu junto com o prato agora vazio.
— E o que você tem contra porcos? – disse Draco para o espaço vazio. – Porquinhos são tão lindos quanto gatinhos, se você quer saber.
— Vou fingir que não ouvi isso.
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Sem alma | DRARRY
FantasyMuito antes de Alice cair no buraco do coelho... E antes das rosas serem pintadas de vermelho... O Rei de copas era só um garoto vivendo seu primeiro amor. Esta fanfic é uma releitura autorizada do livro Sem coração de Marissa Meyer.