Assim que Draco passou pelo caramanchão e chegou no gramado verde do Castelo de Copas, ele começou a procurá-lo. Não conseguiu evitar, por mais que tentasse. Seus olhos percorreram os convidados, caçando um chapéu de três pontas de bobo da corte em meio a chapeuzinhos delicados e chapelões de abas largas. Seu corpo todo estava segurando o ar, esperando o momento em que o veria… se ele estivesse presente. Coringas iam a festas no jardim? Ele não sabia.
Draco se sentiu idiota, fazendo reverência para lordes e barões, damas e condessas o tempo todo deixando que sua atenção se desviasse para cada recém-chegado, para cada vislumbre de preto entre as roupas coloridas da nobreza.
Ele sabia que devia estar procurando o Rei. Sua mãe foi inflexível ao reforçar que Draco deveria se apresentar para o Rei imediatamente quando chegasse. Ele tinha que dar a ele os delicados macarons de rosas que estavam guardados no bolso da saia e não devia sair do lado dele até a festa acabar ou ele estar com uma aliança no dedo.
Para o alívio de Draco, quando deu uma volta completa no jardim, o Rei não estava em parte alguma.
Para sua decepção, Harry também não.
Sonhos idiotas. Fantasias idiotas. Amoreiras idiotas e roseiras brancas e…
E se ele não fosse? Parecia que seria um desperdício ter usado seu traje diurno mais bonito. Ele não havia percebido até aquele momento que o tinha escolhido especificamente para ele.
— Meu querido Draco, como você está apropriadamente vestido hoje.
Ele se virou e deu de cara com Vicent Crabbe saltitando pela grama, segurando duas raquetes nas mãos. Ele estava toda de amarelo-girassol e na cabeça havia um chapeuzinho que parecia um broto de rosa enorme prestes a florescer.
Draco inclinou a cabeça. Havia algo de diferente em Vicent hoje. Algo difícil de identificar. Se Draco não soubesse, teria achado que hoje, com aquele chapéu, aquela luz, Vicente estava quase…
Bem, bonito não. Mas sem agredir o olhar, pelo menos.
Talvez ele o estivesse vendo em uma nova luz por saber como o Duque gostava dele.
— Bom dia, Lord Malfoy – disse ele, fazendo uma reverência.
— Bom o bastante, é de imaginar – disse Vicent –, embora um otimismo infundado não seja algo sábio para alguém desejoso de fugir da decepção. Ainda assim, eu espero que seja um dia melhor do que o do baile, pelo menos. Você soube do meu trauma? – Ele apertou as raquetes contra o peito.
— Ah, sim. Eu soube tudo sobre o ataque do basilisco. Só posso imaginar o quanto foi apavorante! Fico feliz de ver você ileso.
Draco, ao falar, percebeu que era verdade.
Mas Vicent só bufou.
— Sim, sim, foi apavorante, mas antes disso: você soube o que aquele seu gato horrível fez?
— Meu… gato? Você está falando de Bichento? Eu não o chamaria de meu exatamente.
— Ainda assim, ele é um aborrecimento que não devia ser aguentado pela sociedade civilizada.
Espero que você o tenha deixado em casa hoje.Draco inclinou a cabeça, fingindo ignorância.
— O que ele fez?
— Ah, querido, tenho dificuldade de acreditar que a informação não tenha chegado aos seus ouvidos. Foi horrível. O vira-lata apareceu do nada, daquele jeito esquisito dele, e caiu bem na minha cabeça. – Ele tremeu.
— Tenho certeza de que Bichento não teve nenhuma intenção ruim. Acho até que ele gosta de você.
Vicent fez beicinho.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sem alma | DRARRY
FantasyMuito antes de Alice cair no buraco do coelho... E antes das rosas serem pintadas de vermelho... O Rei de copas era só um garoto vivendo seu primeiro amor. Esta fanfic é uma releitura autorizada do livro Sem coração de Marissa Meyer.