Capítulo 7

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—O senhor cambaleou por esta noite cálida, exausta e com pele extremamente pálida. – Uma voz séria e melancólica flutuou pela escuridão envolvente.

— Devidamente anotado, meu amigo penoso – disse uma segunda voz, mais leve e rápida. – Tem certeza de que não temos sal volátil aí?

— Não sei nada do seu desejado sal, embora no seu plano uma coisa não esteja legal. Para impedir que ele acorde atordoado, seria muito prudente acordá-lo ensopado.

Uma coisa dura bateu no chão ao lado do cotovelo de Draco, seguido de um barulho baixo de água.

— Não, Coruja, nós não vamos jogar um balde de água nele. Continue procurando. Não temos um sanduíche de presunto? Palha? Sempre funcionou com o Rei.

Agitação, movimentação, estalos e estrondos.
Um suspiro.

— Quer saber? Deixe pra lá. Vamos usar isto.
A movimentação de folhagem veio seguida do estalo de um galho. Uma coisa macia fez cócegas na ponta do nariz de Draco.

Ele se contorceu, virou a cabeça e sentiu o perfume leve de rosas.

— A-há, está funcionando.

Ele franziu o nariz. As pálpebras se abriram. Escuridão e sombras giraram na visão dele. A cabeça parecia pesada, os pensamentos desorientados.

— Oi – disse uma das sombras embaçadas, tornando-se o bobo da corte. Ele afastou a rosa de pétalas macias do rosto dela. – Você está bem?

— Nunca mais – disse a coruja, que estava empoleirado na beirada de um balde de metal.

O Coringa olhou para ela de cara feia.— Não seja grossa.

— Não é grosseria repudiar um arbitrário cumprimento, uma pergunta sem sentido nesse primeiro momento. Estar bem implica uma fase impossível. Torcemos por mais ou menos em um dia sensível.

— Exatamente – disse o Coringa. – Grosseria.
A coruja fez um ruído infeliz. Abrindo as enormes asas, ele pulou no ar e voou até um galho alto da roseira.

O Coringa voltou a atenção para Draco. Ele tinha tirado o chapéu de três pontas, e o cabelo preto ondulado estava grudado na cabeça em algumas partes e se projetando em outras. A luz da tocha de um jardim próximo tremeluziu em verde nos olhos dele, ainda contornados de lápis preto. Ele sorriu para Draco, e foi o tipo de sorriso simpático que chegava a todas as partes do rosto, criando covinhas nas bochechas, enrugando os cantos dos olhos. O coração de Draco pulou. Durante a apresentação, ele ficou hipnotizado pela magia, distraída pelas peripécias dele… mas não tinha percebido que ele também era bonito

— Que bom que a rosa deu certo – disse ele, girando-a nos dedos. – Desconfio que esse encontro seria bem diferente se tivéssemos sido obrigados a usar o balde de água.

Ele piscou, sem conseguir sorrir enquanto as sombras dançavam pelo rosto dele. Não era só a luz da tocha. Os olhos eram mesmo da cor das árvores. Da cor de sorvete de pistache e uvas e kiwis pendurados nos galhos.

Ele arregalou os olhos.

— Você.

— Eu – concordou ele. Inclinou a cabeça para o lado, franzindo a testa de novo. – Em toda seriedade, Lord, você está… – Uma hesitação. – … mais ou menos bem?

Ele sentiu de novo aquele puxão interno que teve durante o sonho, dizendo que ele tinha alguma coisa que pertencia a Draco e que ele tinha que pegá-lo se quisesse de volta.

— Lord? – Colocando a rosa de lado, ele levou as costas da mão à testa dele. – Está me ouvindo? Você está quente.

O mundo girou de novo, mas desta vez de um jeito delicioso que parava o tempo.— Talvez eu devesse chamar um Esturjão…

Sem alma | DRARRY Onde histórias criam vida. Descubra agora