"Entre Ruínas e Verdades"

663 41 20
                                    


O som de passos apressados ecoava nas ruas abandonadas de Zaun. As luzes da cidade submersa piscavam como se quisessem se esconder da escuridão crescente, e a brisa úmida trazia consigo o cheiro de metal enferrujado e óleo queimado. Jinx estava ali, sem saber exatamente o que a havia trazido de volta ao lugar que tanto odiava. Mas, no fundo, uma parte dela sabia. Ela não conseguia mais escapar do passado.

Era estranho, ela pensava. Tinha se distanciado de todos aqueles que conheceu quando criança. Sua mente parecia um quebra-cabeça de memórias distorcidas, mas uma imagem continuava clara como o cristal: Ekko. O amigo com quem compartilhava os melhores — e os piores — momentos. Ele sempre estivera ali, mesmo quando o mundo ao redor desabava.

Ela riu para si mesma, uma risada baixa e amarga. "Claro, Ekko... o ‘bom menino’."

Ainda assim, havia algo que a fazia hesitar. Algo em seu olhar, algo que a fazia duvidar. Não era apenas o tempo perdido entre eles. Não, havia mais. Ela sabia disso, mas não queria admitir.

De repente, uma figura apareceu diante dela, surgindo da sombra com a mesma agilidade que ela se lembrava. Seus olhos verdes brilhavam na penumbra, e um sorriso se formou em seu rosto, embora fosse cauteloso.

Ekko.

Jinx parou, a respiração travada por um momento. Ele estava ali, exatamente como nos velhos tempos, com a mesma confiança silenciosa, mas ela sentia uma tensão no ar. Algo tinha mudado. Ele tinha mudado. E ela não sabia se isso era bom ou ruim.

— Jinx. — Ele a chamou com a mesma voz suave, mas carregada de uma preocupação que ela não conseguia ignorar.

— Ekko. — A resposta dela foi seca, com um sorriso forçado. Seus olhos brilhavam, mas não de excitação. Eles estavam cheios de uma curiosidade desconfortável, uma que ela não queria sentir.

Ele se aproximou com passos lentos, como se estivesse tentando medir cada movimento. A distância entre os dois parecia aumentar a cada passo, como se o tempo e a dor de suas separações tivessem criado um abismo.

— Você... mudou. — Jinx finalmente quebrou o silêncio, seu tom ácido, como sempre.

Ekko hesitou por um instante, os olhos fixos nela com uma mistura de dor e compaixão.

— Eu… — Ele parou, como se as palavras tivessem perdido o caminho. — Eu não sou mais o mesmo, Jinx. Nem você. Se passou muito tempo.

Ela deu um sorriso amargo, passando os dedos pela ponta de seus cabelos azuis com um gesto nervoso.

— É, mas quem mudou mais, hein? Eu ou você? — A desconfiança estava em cada sílaba que saia de sua boca. Ela não sabia em quem confiar. Não depois de tanto tempo e tantas mentiras.

Ekko olhou para ela com seriedade, e algo em seus olhos fez com que uma pequena chama de dúvida se acendesse em Jinx. Ele parecia… sincero. Mas ela sabia como se enganar com isso. Eles tinham crescido juntos, e ele sempre soubera como falar as palavras certas. Talvez fosse isso. Ou talvez…

— powder, você precisa acreditar em mim. — Ele avançou um pouco mais, e seus dedos tocaram levemente a manga de sua jaqueta. — Eu não estou contra você

Ela deu um passo para trás, a mão em sua pistola, como um reflexo.

— Já falei que meu nome é Jinx, e se você quisesse me ajudar, por que não foi junto comigo?

Ekko abaixou a cabeça por um momento, como se a culpa o esmagasse. Ele respirou fundo, e então, com uma voz mais suave, ele falou:

— Eu... não sabia o que mais fazer. Zaun mudou, Jinx. Mudou demais. Não era mais o lugar seguro que parecia ser. Eu tentei, juro que tentei... mas eu não podia mais ficar lá, esperando que você voltasse para casa.

Jinx olhou para ele, confusa. Havia um leve toque de desesperança em suas palavras, algo que ela reconheceu. Ele sempre se importou com ela, mais do que qualquer outra pessoa. Mas algo em sua mente não conseguia deixar de questionar. Por que agora? Por que depois de tanto tempo?

Ela olhou para ele de novo, seu olhar mais suave, mas ainda cauteloso. Ela sabia que ele não mentia, mas… e se ele estivesse escondendo algo? O silêncio entre eles se estendeu, e Jinx o quebrou, com sua risada nervosa.

— Você quer que eu acredite em você agora, depois de todo esse tempo, como vou saber se não está que nem a vi, a espera pra me sabotar ? — ela sussurrou, a tristeza transbordando em sua voz.

Ekko deu um passo à frente, mais próximo agora. Ele sabia que o que dizia não seria o suficiente, mas talvez o que ele fizesse pudesse dizer mais do que qualquer palavra.

Sem aviso, ele pegou o braço dela, com firmeza, mas sem agressão. Jinx piscou, surpresa, e antes que pudesse reagir, ele a puxou para si e a abraçou.

No início, ela ficou imóvel, os músculos tensos, a desconfiança ainda como uma sombra sobre ela. Mas, à medida que o abraço se prolongava, algo dentro dela começou a quebrar. Ele ainda tinha o mesmo cheiro. O mesmo calor. E aquela sensação, aquela familiaridade… fez o nó em seu peito apertar.

— Jinx… — A voz dele era baixa, quase inaudível. — Eu sei que você sofreu. Mas eu nunca desisti de você. Eu nunca desisti de nossa amizade.

As palavras caíram no silêncio, e algo nas profundezas do coração de Jinx começou a se soltar. Ela queria acreditar nele. Ela precisava acreditar nele.

Quando finalmente se afastaram, ela olhou nos olhos dele, e, pela primeira vez em muito tempo, viu nele a mesma confiança. Não nas palavras, mas na forma como ele a olhava. Como se, de alguma forma, ele soubesse o que ela precisava ouvir, sem dizer uma palavra.

— Eu te perdi uma vez, Jinx. Não posso perder você de novo. — Ele disse, suavemente, a sinceridade em seu olhar.

Jinx fechou os olhos, sentindo o peso daquelas palavras. Não havia mais espaço para mentiras. Ela sabia que podia confiar nele. Mesmo que o passado fosse um fantasma, o presente era real, e ele estava ali. Por ela.

— Então… vou te dar uma chance, estou depositando minha confiança em você.

Ele sorriu, e o peso que ela carregava nas costas parecia diminuir, como se a carga da desconfiança finalmente tivesse sido deixada para trás.

____

Ecos do passado- timebomb Onde histórias criam vida. Descubra agora