"Marcas Invisíveis"

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A luz do dia invadia o quarto, e Jinx acordou devagar, os olhos piscando contra a claridade. O silêncio ao redor permitia que seus pensamentos vagassem, e logo ela se pegou pensando na noite anterior.

O clube. O lugar onde, por algumas horas, ela havia se sentido livre, sem a sombra constante da vida que levavam. Ekko estava lá com ela, dançando, rindo, e, por um tempo, tudo parecia simples. Mas então, ele foi puxado para longe por uma mulher de cabelos vermelhos e sorrisos perigosos, e Jinx ficou sozinha entre a multidão pulsante.

Foi aí que conheceu Miles. Ele tinha um charme irresistível, um jeito descontraído que lhe lembrava o mar aberto, imprevisto e intenso. Seus olhares se cruzaram por acaso, mas desde o primeiro momento, Jinx sentiu-se atraída por ele. A conversa foi fácil, cheia de risos e provocações. Ele parecia entender aquela faísca de rebeldia que ela carregava, e não demorou muito até que seus sussurros virassem algo mais. Miles tinha um jeito de puxá-la para perto, seus lábios nos dela foram quentes e intensos, uma fuga para tudo que ela queria esquecer. As lembranças do beijo ainda a deixavam inquieta, e ela tocou o pescoço, onde algumas marcas roxas ainda permaneciam , traços de uma noite que a fazia questionar a si mesma.

Mas o momento de liberdade não durou. Quando finalmente se desvencilhou de Miles, ela viu Ekko, semiconsciente, encostado em uma parede ao lado da mulher de cabelos vermelhos. A imagem era desconcertante ,ela não sabia se sentia raiva, ciúmes ou preocupação. A mulher estava inclinada sobre ele, tentando roubar mais uns beijos antes de enfiar a mão por dentro de suas calças, e algo dentro de Jinx explodiu. Ela afastou a mulher com um empurrão, segurou Ekko, e o arrastou para fora do clube. O trajeto de volta foi complicado, mas ela não deixou que ele caísse. Levou-o para casa, o coração ainda acelerado pela noite, e o colocou na cama antes de se jogar em seu próprio colchão, exausta.

Com esses pensamentos ainda frescos, Jinx se levantou da cama, sacudiu o cansaço e foi até a cozinha. Talvez um copo de leite a ajudasse a clarear as ideias.

Ela abriu a geladeira, pegou o leite e se preparou para enchê-lo, quando ouviu passos atrás dela. Ekko havia acabado de sair do quarto e estava na porta da cozinha, o rosto com uma expressão confusa, como se tentasse se lembrar de algo importante. Seus olhos passaram pelo pescoço de Jinx, e ele imediatamente franziu o cenho.

—Jinx,— ele começou, a voz baixa mas firme. —Essas marcas no seu pescoço... o que é isso?—

Ela parou por um momento, olhando para ele. Então, cruzou os braços, erguendo uma sobrancelha desafiadora. —E as suas? Eu poderia perguntar o mesmo, não acha?—

Ekko levou a mão ao próprio pescoço, onde marcas vermelhas ainda estavam visíveis. Ele não acreditou, nem se lembrava que tinha deixado a mulher fazer isso.Ele hesitou, e sua expressão tornou-se defensiva. —Isso foi... uma situação diferente.—

—Diferente?—Jinx riu, um sorriso amargo nos lábios. —Eu te encontrei quase desmaiado com uma mulher em cima de você. E agora você quer falar das minhas marcas?—

Ele a observou, a frustração crescendo. —Eu nem sabia o que estava acontecendo. Não escolhi aquelas marcas, Jinx. Mas e você? Quem fez isso?—

O rosto de Jinx ficou tenso. Ela não queria discutir sobre Miles, sobre as decisões impulsivas que tinha tomado. Ainda sentia o peso dos beijos e a liberdade que ele havia lhe dado por alguns momentos. —Não importa quem fez. A verdade é que você também estava envolvido com outra pessoa e ainda se perdeu na bebida. Então, não venha me cobrar nada —

Ekko bufou, passando a mão pelos cabelos. —Eu só... me preocupo com você, Jinx. Só achei que seria muito ...—

— muito o quê, Ekko?— Ela o interrompeu, as palavras afiadas. —Que eu fosse tomar minhas próprias decisões seria perigoso ?Que eu fosse fazer algo por mim? Nós dois estamos juntos o tempo todo, mas você acha que pode me cobrar de tudo, enquanto você faz o que quer?—

Ele ficou em silêncio, a raiva se dissipando e sendo substituída por algo mais sombrio. —Eu só achei que a você podia tomar mais cuidado, ainda mais por tá sendo severamente procurada por todos os cantos .—

Jinx olhou para ele, o olhar endurecido, mas a voz saiu mais baixa do que pretendia. —Eu  achei que a gente confiava um no outro, Ekko. Mas você tá deixando claro que não confia em mim.—

O silêncio que seguiu foi denso. Nenhum dos dois sabia exatamente o que dizer. Ekko finalmente desviou o olhar, parecendo derrotado. Ele deu um passo para trás, como se fosse deixar a cozinha, mas antes de sair, ele a olhou uma última vez.

—Eu só queria que você fosse mais cuidadosa. Ainda mais tendo a certeza que qualquer um que te pegar vai arrancar sua cabeça com um sorriso no rosto—

Ele virou-se e saiu, deixando Jinx sozinha na cozinha. Ela ficou ali, o copo de leite ainda nas mãos, e sentiu o peso daquilo tudo. A relação entre eles estava se despedaçando, e as marcas em seus pescoços eram apenas sintomas de algo muito mais profundo.

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Ecos do passado- timebomb Onde histórias criam vida. Descubra agora