"uma derrota boa"

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O sol começava a se pôr, lançando tons de dourado e laranja pela janela da pequena sala onde Ekko e Jinx guardavam suas ferramentas e projetos. O clima entre eles estava estranho desde a discussão daquela manhã. Eles mal haviam trocado palavras, cada um perdido em suas próprias tarefas, mas a tensão era quase palpável.

Ekko suspirou, desviando o olhar de seu robô inacabado e observando Jinx do outro lado do galpão. Ela estava concentrada em seu livro, com um olhar determinado e ligeiramente irritado. Ele sabia que o jeito dela de lidar com as coisas era se afundar em algo prático, especialmente quando não queria falar sobre o que a incomodava. Mas a situação entre eles estava incomodando Ekko também, e ele sabia que precisava fazer algo antes que o silêncio se tornasse insuportável.

Ele se levantou, caminhando até onde Jinx estava sentada e parou ao lado dela, esperando que ela percebesse. Quando finalmente se tocou que ele estava do seu lado, ergueu os olhos com uma expressão de desconfiança.

— O que foi? — perguntou, sem esconder o tom de irritação.

Ekko abriu um meio sorriso.

— Que tal uma competição?  — Ele gesticulou na direção dos robôs, tentando soar despreocupado.

Ela o observou, ainda desconfiada.

— Uma competição? Agora? — Ela arqueou uma sobrancelha, como se a ideia fosse absurda.

— É, ué. — Ele deu de ombros. — Vamos ver quem consegue programar o robô mais rápido. Ou será que você tem medo de perder?

Jinx bufou, mas uma faísca de competitividade brilhou em seus olhos. Ela sempre odiava qualquer provocação que insinuasse que não fosse capaz de vencer.

— Medo? — Ela cruzou os braços. — Você tá se achando demais, Ekko. Eu topo, mas não vá chorar depois, tá?

Ekko sorriu, satisfeito por ter conseguido tirá-la daquele humor azedo, nem que fosse por alguns minutos.

— Veremos. — Ele se abaixou ao lado de seu robô, posicionando as ferramentas à sua volta. — Preparada para perder?

Ela deu uma risada curta, já começando a trabalhar em seu próprio robô.

— Você tá falando muito, mas é melhor focar em montar o seu, senão vai acabar com uma lata velha na minha frente.

Os dois começaram a trabalhar, e logo a sala se encheu do som de ferramentas e peças metálicas. Cada um concentrado, com as mãos ágeis e habilidosas. Ekko focava em construir um robô rápido, que pudesse se mover com agilidade e precisão, enquanto Jinx colocava todo o seu talento em algo mais imprevisível, com truques inesperados.

Ekko olhou para o robô de Jinx por um instante, tentando adivinhar o que ela estava aprontando.

— O que é isso aí? Tá parecendo mais uma bomba ambulante do que um robô de competição.

Ela revirou os olhos, mas sorriu, sem parar de trabalhar.

— Você só fala isso porque nunca viu o que uma máquina bem feita é capaz de fazer. — Ela olhou para ele de lado, com um ar desafiador. — Mas vai ter a chance de ver agora.

Ekko riu, enquanto ajustava uma última peça.

— Falou a especialista em destruição. Espero que seu robô aguente os primeiros segundos.

— Relaxa, Ekko. A competição vai acabar antes que você perceba. — Ela finalizou a montagem, fazendo alguns testes rápidos.

Quando ambos estavam prontos, eles colocaram os robôs lado a lado, os olhos brilhando de excitação. Jinx se agachou ao lado do seu, já com a mão no controle, um sorriso de puro desafio.

— Preparado pra ser humilhado? — Ela perguntou, ajustando o visor do controle.

Ekko riu, segurando seu próprio controle.

— Humilhado? Vamos ver quem vai ter que engolir as próprias palavras.

Eles contaram até três, e os robôs partiram. O de Ekko avançou com velocidade, ágil como ele esperava, movendo-se em zigue-zague para despistar. Já o de Jinx era uma combinação de potência e... caos. Em vez de um movimento linear, o robô dela girava e desviava de uma forma imprevisível, fazendo pequenos ataques que pegavam Ekko de surpresa.

— Tá roubando, só pode — disse Ekko, entre risadas.

— Não sabe perder, é? — Jinx rebateu, concentrada.

O robô de Jinx conseguiu desestabilizar o de Ekko com um golpe certeiro, e ele percebeu que precisaria de mais controle. No entanto, antes que ele pudesse reagir, o robô dela lançou uma pequena carga que fez seu robô tombar. Ekko arregalou os olhos, surpreso e impressionado.

— Como você...?

Ela soltou uma risada vitoriosa, com o brilho de quem acabou de provar um ponto.

— Isso é o que acontece quando você subestima minha criatividade, Ekko.

Ekko não pôde evitar uma risada. A competição tinha quebrado a tensão, e ele sabia que era exatamente disso que ambos precisavam.

— Beleza, beleza — ele disse, levantando as mãos em rendição. — Eu admito: você venceu. Dessa vez.

Jinx sorriu, se levantando e dando um empurrão leve no ombro dele.

— Se prepara, porque toda vez que quiser competir, eu vou vencer. — Ela o olhou com um ar divertido e provocador. — Mas quem sabe você não melhora um pouco.

Ele riu, e por um breve momento, a tensão entre eles desapareceu completamente. Naquele instante, eram apenas Ekko e Jinx, competindo como antes, sem as sombras do que os incomodava.

— Eu ainda quero uma revanche — disse Ekko, determinado.

— E eu tô pronta, mas com uma condição.— respondeu ela, confiante.

— que condição?— ele pergunta suspeitando um pouco.

—se eu ganhar, você vai ter que me falar da sua vida amorosa inteira.— ela fez uma breve pausa— e se vc ganhar aí você faz o que você quiser.

Ekko pensou um pouco, Jinx era uma pessoa que ele falaria sobre essas coisas, porém o momento sensível em que os dois estavam fazia ele pensar se concordava ou não.

— tá, mas se você perder vai ter que lavar a  louça por duas semanas.

Jinx arregalou os olhos— duas semanas?? Uma já não é o suficiente?— ela perguntou fazendo um biquinho.

— tá eu aceito só uma, é melhor do que nada.

Assim eles passaram um tempinho construindo e aprimorando mais seus robôs. Lá fora já estava escuro. Jinx fazia ajuste para seu robô ser mais destrutivo e Ekko fazia com que seu robô fosse mais resistente.

Quando os dois finalmente acabaram começou a luta. Como sempre, o robô de Jinx tinha movimentos rápidos e imprevisível, porém o robô de Ekko tinha agora mais habilidades. Depois do robô dele aguentar muito, ele foi totalmente destroçado, por um golpe que Jinx nomeou de "o grande fatality".

— eu ganhei, agora eu quero saber da sua vida amorosa — Jinx falou com um sorrisinho no rosto.

— sério? É tão sem graça — Ekko por dentro torcia pra ela esquecer esse assunto

— vamos, trato é trato!

— tá... — ele fez uma pausa pra pensar — acho que romanticamente eu só me envolvi com duas pessoas na vida.

— seja mais específico, quem eram essas duas pessoas?

— Mila, a mulher do clube . E Cassandra, uma amiga que frequentava o mesmo restaurante que eu. Apenas essas, nada mais.

— aí que entediante, achei que ia ser mais interessante, ou que tivesse mais gente.

— acho que você tá é querendo de mais, isso sim— após ele falar isso os dois caíram na risada

Logo se formou um silêncio, que foi diferente agora, sem aquele peso desconfortável. Eles haviam conseguido, ao menos por hoje, esquecer as feridas recentes, e isso era suficiente.

Ecos do passado- timebomb Onde histórias criam vida. Descubra agora