𝐕𝐈𝐈𝐈 - 𝐂icatrizes que ninguém vê.

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— O que? — meus olhos se arregalam, meu coração acelera.

— Você acha que eu não te reconheci? Você acha que eu não reconheceria a minha melhor amiga?

Eu reconheci ele, mas eu não queria que ele me reconhecesse... Mas não adiantou de nada.

Alan, assim como Valerie, cresceu junto comigo. Mas ao contrário dela, nós estudamos juntos. Nós brincávamos, batalhávamos, divertíamos, tudo isso por conta dos nossos pais, que eram dois pesquisadores Pokémon.

— Eu não sei se você sabe, mas eu fui embora por causa do meu pai. Depois da morte do Wilder, o seu pai, ele ficou sobrecarregado com o trabalho dele. Como ele não deu conta, a fundação demitiu ele e viemos para Kalos. — ele desvia o olhar de mim. — eu comecei a trabalhar junto com ele, foi aí que eu conheci a Mairin.

Meus dedos apertam ainda mais a grama. Cada vez que eu ouço o nome "Wilder", uma raiva começa a subir. Eu odeio o meu pai, eu odeio todos eles.

— Eu não guardo rancor, você sabe disso. Eu te entendo e não foi uma escolha sua. — coloco a mão no ombro dele. — por favor, não me deixa de novo, tá bom?

Ele olha para mim, surpreso e corado, porém assentiu, um sorriso fraco aparecendo em seus lábios.

— Tá bom.

Eu abraço ele, e ele corresponde.

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Uma longa semana se passa, e a enfermeira Joy já permite que eu possa andar normalmente. Alan e Mairin haviam ido embora um dia antes para irem até a Cidade de Anistar, onde o garoto iria conseguir sua sétima insígnia.

— Então... eu já posso tirar essas ataduras?

— Sim! Foi apenas uma entorse leve, então a recuperação leva de uma até duas semanas. Mas como seus ligamentos estão completamente recuperados, já vou te liberar!

Ela sorriu gentilmente pra mim, com Wigglytuff fazendo o mesmo que a médica. O Pokémon gentilmente tira aquelas ataduras, deixando meu tornozelo finalmente livre. Mexo um pouco meu pé, sentindo a sensação de estar bem novamente.

— Obrigada, enfermeira Joy.

Eu me levantei, suspirando de alívio por não sentir mais aquela dor do caralho... porra, chata pra cacete hein. Certeza que aquela Serena tacou praga em mim.

Enfim, agora o que falta é ir pra cidade de Anistar, ou esperar até a próxima apresentação. Mas essa segunda opção... não posso sequer pensar nela. Tenho que estar em todas as competições, tentar ganhar elas e ir para a classe mestra. Eu não posso perder, eu não posso errar, eu não posso falhar.

Eu tenho que ser a Rainha de Kalos, eu tenho que ser melhor que a Ária de algum jeito. Independente se eu tenha que fazer isso por bem

ou por mal.

Eu não vou deixar que ninguém me derrote, não mais. Eu não vou mais errar, não vou vacilar, e de forma alguma vou perder para a Serena. Eu não posso perder pra ninguém, nenhuma daquelas "performerzinhas".

Era como meu pai sempre chamou elas. Ele nunca quis que eu fizesse isso.

A lembrança invade minha mente como uma onda inesperada. O rosto de meu pai aparece com nitidez dolorosa, e tudo volta – o cheiro da bebida impregnado na casa, a maneira como ele cambaleava até mim com um sorriso cínico, o olhar vazio de um homem que já não sentia nada, só raiva e desespero. Eu me lembro de como ele passou a trazer estranhas para casa, rostos de mulheres embaçados, vozes ecoando entre as paredes de concreto e frias. Para mim, ele nem sequer as levou em consideração. A morte da minha mãe, suponho, acabou com qualquer impulso de bondade que pudesse ter um dia me demonstrado e, em vez disso, ele encontrou conforto no álcool e na violência.

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