Aqui estou eu mais uma vez.
Deitado nesta cama, neste quarto onde outrora havia amor e hoje é só solidão.
O meu casamento foi maravilhoso. Vivemos felizes por quatro anos e por uma besteira deitei tudo a perder.
Lembro como se fosse hoje. Juliette estava na cozinha terminando o jantar e eu cheguei do trabalho.
Aborrecido como tantos outros dias, deixei que os meus problemas laborais interferissem na minha relação em casa. Chegava a casa de mau humor e descarregava nela. Nunca cheguei a agredi-la fisicamente, mas fui sim muito escroto e disse-lhe coisas horríveis.
- Amor, toma um banho que o jantar está quase pronto.
- Estou sem fome. Precisamos conversar agora.
- Que foi? Porquê a pressa?
- Quero o divórcio. Estou saturado desta vida.
- Divórcio? O que eu fiz? Tens outra pessoa?
- Não tenho ninguém e nem fizeste nada. Quero o divórcio apenas. Custa muito entender isso?
- Mas... - Juliette começou a chorar.
- Pára com a choradeira porque o teu choro não me vai fazer mudar de ideias.
- Eu estou grávida, Rodolffo.
- Melhorou. Esse é o argumento de toda a mulher para prender um homem. Comigo não dá e é bem capaz de nem ser meu pois que eu saiba não transamos faz tempo.
Juliette levantou a mão e desferiu uma bofetada no rosto dele.
- Queres o divórcio, terás o divórcio, mas não admito que duvides do meu carácter. Sempre fui uma mulher honrada e nunca tive outro homem. Sabes que foste o primeiro e único.
- Mas não quero mais este casamento. Vou deixar esta casa.
- Não. A casa é tua, já a tinhas quando casámos por isso quem vai sair sou eu.
- E vais para onde?
- Melhor debaixo da ponte do que aqui. Amanhã mesmo eu saio.
Juliette saiu em direcção ao quarto de hóspedes onde dormia há uma semana e entre lágrimas começou a colocar alguma roupa numa mala.
Não ia levar tudo o que lhe pertencia até porque nem fazia ideia para onde iria. Talvez um hotel por uns dias, mas depois se veria.
Não se viram mais nessa noite e na manhã seguinte quando acordou já Rodolffo tinha saído para o trabalho.
- Bom dia Rosa.
- Bom dia senhora. O que é essa mala?
- Estou indo embora, Rosa. O Rodolffo pediu o divórcio.
- Para onde vai?
- Não sei. Tudo o que é meu e fica cá podem doar ou deitar fora. O que quiserem fazer.
- Eu não acredito. O que passou na cabeça do senhor?
- Terás que lhe perguntar porque eu também não sei, mas fui muito humilhada e não quero ficar.
E Rosa viu Juliette sair arrastando a mala, entrar num táxi e partir sem nem mesmo tomar café. De seguida as lágrimas rolaram soltas na sua face.