Capítulo XIII

56 10 9
                                    

A semana decorreu sem maiores problemas a não ser a febre de Henrique que ia e vinha.

Juliette gravava alguns conteúdos para a Internet mostrando estar sempre alegre e bem disposta, mas quando desligava a câmara desabava num choro que ninguém visualizava.

Por vezes refugiava-se no banheiro para evitar que Rodolffo a visse chorar.

Este praticamente não saía de casa. Brincava com Henrique e ajudava em tudo o que era tarefa.

- Eu faço o nosso almoço Ju.  Tu ficas com o de Henrique porque já estás habituada.

- Faz para ti.  Estou sem apetite.

- Juliette,  ontem foi igual.  Eu também não tenho muito apetite, mas temos que nos alimentar.   Como vais cuidar do nosso filho se ficares doente?

- Estou muito ansiosa.  E se não encontrar-mos ninguém compatível?  E se a quimioterapia não resultar?

- Não vamos ser pessimistas.  E esgotadas todas as possibilidades ainda resta uma última.

- Qual?

- Eu pesquisei bastante estes dias e podemos gerar outro filho e aproveitar as células do cordão umbilical.

- Mas isso ia demorar meses e Rodolffo,  tu estarias disposto a ter outro filho comigo?

- Olha Ju.  Eu fui um cafageste contigo, mas de momento tu e o Henrique são a minha prioridade.

Pode parecer cliché, mas eu arrependo-me de ter feito o que fiz.  Quero conversar contigo sobre isso, mas não agora.  De momento só o Henrique interessa e quero que estejas bem para ele ficar bem também.

- Deixa isso pra lá.  É passado.  O Henrique vai fazer o seu transplante, vai ficar bom e tudo o resto volta à sua normalidade.

- Não se depender de mim.  Como vão as vendas do livro?

- Já vai na terceira edição.   Está a correr muito bem.  Leste?

- Na primeira noite.

- E então?

- Escreves muito bem e tens boa memória.

-  Sobre coisas que nos marcam.  Tudo ali aconteceu.   Não é ficção.

- Eu sei.

Juliette preparou o prato de Henrique e sentou-se à mesa com ele.  Rodolffo fazia gracinha enquanto ele comia o que lhe provocava riso e por isso espalhava a comida que Juliette lhe punha na boca.

- Está quieto, Rodolffo.   Olha,  tudo cheio de comida!

- Eu limpo depois.

- Tá.  Então dá-lhe tu enquanto eu preparo a fruta.

Rodolffo estava já acostumado a dar-lhe de comer.  Juliette nas suas costas observava a interacção entre pai e filho e apesar de satisfeita com isso não deixava de estar triste pelo afastamento deles.  Para ela, apesar de não o demonstrar, a presença dele ali em casa estava a ser penosa.

Era à noite, no silêncio do seu quarto, e sabendo-o ali tão perto que já tinha tido vontade de lhe pedir para voltar.

Este tempo todo não teve conhecimento de outra mulher na vida dele, mas será que ela não existiu.  Nunca falaram sobre isso.  Era um assunto que pesava para os dois lados.

Contigo até arriscavaOnde histórias criam vida. Descubra agora