Saudades e provocações

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Um dia, Ricardo estava jogado no sofá de seu apartamento, o celular nas mãos, mas sem nada que realmente chamasse sua atenção. Ele rolava as redes sociais no tédio, suspirando impaciente. Fazia dias que não encontrava ninguém para provocar e, para piorar, seus amigos mais próximos tinham voltado para suas cidades natais.

Sem perceber, seus pensamentos vagavam. Cada dia que passava, sentia mais falta de Sandro, das conversas cheias de implicâncias e das respostas rápidas e afiadas do paulista. Era como se algo essencial na sua rotina tivesse sido arrancado. Ele jogou o celular no canto do sofá, bufando frustrado.

— Porra, que vazio chato... — murmurou para si mesmo, bagunçando os cabelos loiros com as mãos.

O apartamento, antes cheio de vida, agora parecia monótono. Ricardo se levantou com um impulso, decidido a não passar mais um dia afundado naquela sensação. Pegou as chaves e saiu, buscando algo que o distraísse.

Na rua, o som das ondas ecoava ao longe, e o cheiro de sal invadia o ar. Ele caminhou até o centrinho perto da praia, aquele lugar que sempre o animava. Ali havia turistas, músicos de rua e risadas misturadas ao barulho de copos brindando nos bares. Era o tipo de agitação que ele adorava, mas, dessa vez, parecia não surtir efeito. Ricardo olhava ao redor, mas tudo parecia... vazio.

Ele se sentou em um banco perto da calçada, cruzando os braços.

— Qual é o problema comigo? — perguntou baixinho, como se esperasse que o vento trouxesse a resposta. Mas, no fundo, ele sabia. Algo nele havia mudado. Ele não era mais o mesmo desde que Sandro voltou para São Paulo.

Era estranho. Ele não entendia exatamente o que sentia, mas sabia que as provocações, os olhares desafiadores e até os silêncios do paulista faziam falta. Sandro havia deixado um vazio que nenhuma multidão carioca parecia conseguir preencher.

Ricardo balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos. Decidiu continuar caminhando pela orla, mas, a cada passo, a saudade parecia crescer.

Enquanto estava sentado em uma mesa de bar na orla, Ricardo olhava distraidamente para o celular, sem grandes expectativas. Mas, de repente, a tela vibrou, e ele viu o nome de Sandro aparecer. Um sorriso automático surgiu em seu rosto antes mesmo de abrir a mensagem.

"Oi, Ricardo! Tá tudo certo aí?"

Ele soltou uma risada curta, já imaginando como responderia. Não podia perder a chance de provocar.

"E aí, boneca! Tô ótimo agora que você resolveu lembrar que eu existo. Só falta você voltar pra cá pra minha vida ficar perfeita."

Do outro lado, Sandro revirou os olhos ao ler a resposta, mas não conseguiu segurar um sorrisinho.

"Para de palhaçada, Ricardo. Tava ocupado, tá? Como você tá, de verdade?"

Ricardo apoiou o cotovelo na mesa, mantendo o celular em mãos enquanto dava outro sorriso safado.

"Tava ocupado... Sei. Aposto que tava no meio do tédio, só encarando o teto e pensando em mim."

Sandro leu aquilo e bufou, mas respondeu na lata:
"Tá se achando demais, hein? Até parece que eu não tenho mais o que fazer do que pensar em você, seu otário."

Ricardo gargalhou alto, chamando atenção de quem passava perto, mas ele não ligava. Respondeu com ainda mais provocação:
"Admite logo, paulista! Saudade de mim, né? Aqui é foda demais, São Paulo deve tá um marasmo do caralho sem um carioca pra animar a sua vida."

Sandro não ia deixar barato:
"Melhor um ‘marasmo’ aqui do que um barulho infernal igual essa cidade tua aí. Só falta o calor pra derreter meu cérebro!"

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